A Ucrânia e o cativeiro ocidental
Lorenzo Carrasco
Resenha Estratégica – MSIa
“As notícias que nos chegam em tempos de guerra são quase sempre contraditórias, na maior parte, também falsas. As mais numerosas são em grande parte sofrivelmente suspeitas. Tudo o que pode pedir a esse respeito ao oficial é um certo discernimento, que só se adquire graças à competência psicológica e profissional e à capacidade de julgamento”. – Carl Von Clausewitz, Da Guerra.
Nestes dias de guerra na Ucrânia, o que temos visto no noticiário da mídia mainstream no mundo ocidental comprova ao pé da letra as advertências de Clausewitz. Centenas de jornalistas e analistas da Europa, Estados Unidos e seus satélites ideológicos no restante do Ocidente, demonstrando uma vasta incapacidade de julgamento, incompetência psicológica e profissional e carência de discernimento diante da multiplicidade de narrativas e versões sobre as causas e o desenvolvimento do confronto armado.
Salta aos olhos que essa coincidência generalizada em apresentar a ação do presidente Vladimir Putin como um novo Hitler empenhado em restaurar a União Soviética, ao mesmo tempo em que se subestimam ou simplesmente ocultam os grupos neonazistas radicais na Ucrânia e a sangrenta guerra aberta de oito anos em Donbass, que antecedeu e justificou a ação militar da Rússia, tem uma origem singular: o aparato de guerra de propaganda do Establishment oligárquico anglo-americano, que sente vacilar sob os seus pés o andaime das suas estruturas de poder global hegemônico.
De fato, as nações norte-atlânticas têm submetido grande parte de suas populações a uma espécie de cativeiro pós-moderno, alimentado por sofismas sobre a democracia, a liberdade e os direitos “identitários” que atentam contra a lei natural. O que os líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e da União Europeia (UE) chamam de “valores europeus” têm abduzido essa população dos verdadeiros princípios culturais e espirituais da Europa e do Ocidente em geral. A propósito, as reiteradas críticas de Putin ao abandono das suas raízes cristãs pelos europeus têm contribuído bastante para aumentar o ódio visceral contra o líder russo, visto como um bárbaro chegando do Leste para desestabilizar com seu “conservadorismo saudável” as bases da “civilização de Bruxelas”, que, embora moribunda, ainda logra mobilizar centenas de milhares de zumbis nas principais capitais europeias, para marchar indistintamente pela paz, o orgulho gay e os direitos LGBT+, a mudança climática e outras causas do gênero.
Este nível de perversão profunda nos recorda o célebre soneto de Luís de Camões, que retrata em profundidade o padecimento da civilização ocidental, em uma demonstração de que o mal não tem qualquer traço de criatividade e sempre se repete.
Cá nesta Babilônia, donde mana
Matéria a quanto mal o mundo cria;
Cá, onde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;
Cá, onde o mal se afina, o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega Monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana;
Cá, neste labirinto, onde a Nobreza,
O Valor e o Saber pedindo vão
Às portas da Cobiça e da Vileza;
Cá, neste escuro caos de confusão,
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!