Redação Notícias seg., 21 de fevereiro de 2022 7:44 PM·5 min de leitura Neste artigo: Vladimir Putin Vladimir Putin Presidente da Rússia Após reconhecer a independência das regiões separatistas, Putin autorizou o envio de tropas militares russas à Ucrânia.
Após reconhecer a independência das regiões separatistas, Putin autorizou o envio de tropas militares russas à Ucrânia. (Foto: REUTERS/Baz Ratner) O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou que seu Ministério da Defesa envie tropas militares russas com o intuito de "manter a paz" nas duas regiões separatistas do leste da Ucrânia, de acordo com um decreto publicado na terça-feira (horário local), depois que ele reconheceu a independência das localidades.
Putin assinou decretos anteriormente para reconhecer as duas regiões separatistas —as autoproclamadas República Popular de Donetsk e a República Popular de Luhansk— como Estados independentes, desafiando os alertas ocidentais de que tal medida seria ilegal e encerraria as negociações de paz.
Mais cedo o Kremlin havia divulgado um comunicado informando que os líderes de Alemanha e França foram avisados do reconhecimento formal dessas regiões como estados independentes. Durante seu discurso de quase 1 hora na TV russa, Putin afirmou que a Ucrânia moderna foi "criada" pela Rússia. "Para a Rússia, a Ucrânia não é apenas um país vizinho, mas parte da nossa história, dos nossos camaradas e parentes", afirmou.
Putin também disse que a Rússia foi "roubada" com o colapso da União Soviética em 1991. Ele declarou que "a América usou a Ucrânia e a Geórgia [outra ex-república soviética] para implementar políticas anti-Rússia".
E também que os Estados Unidos e a OTAN, a aliança militar do Atlântico-Norte, transformaram a Ucrânia em um "teatro de guerra". O líder russo vinha exigindo garantias de que a OTAN não admita a Ucrânia, enquanto a aliança ocidental nega que a adesão represente qualquer ameaça a Moscou. No pronunciamento, Putin declarou que a expansão da OTAN representa um risco de um "ataque súbito" contra a Rússia.
Tensão crescente
Há temores de que uma intervenção militar russa possa iniciar uma guerra ainda mais sangrenta do que o conflito no leste da Ucrânia, que custou pelo menos 14 mil vidas. O Conselho de Segurança russo se reuniu nesta segunda e discutiu o tema.
Putin ouviu integrantes do alto escalão de seu governo discursarem sobre a necessidade de proteger as pessoas de Donbas (onde estão Donetsk e Luhansk), que abrigam cidadãos russos, da ameaça de um choque com forças militares da Ucrânia. "A situação em Donbas se tornou crítica", disse Putin no pronunciamento.
Exercícios militares
No domingo, Putin, e seu aliado, o líder de Belarus, Alexander Lukashenko, estenderam os exercícios militares. Um comunicado citou a "deterioração da situação" no leste da Ucrânia como uma das razões para manter cerca de 30 mil soldados russos em Belarus.
A medida aumentou os temores de que a Rússia planeje uma invasão da Ucrânia, que divide uma longa fronteira com Belarus. Líderes ocidentais acusaram Moscou de buscar um pretexto para enviar tropas. A Rússia negou que planeja invadir seu vizinho. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse que a extensão dos exercícios militares mostra que o mundo está à beira da guerra.
Explosões
As tensões no leste da Ucrânia foram discutidas pelo presidente da França, Emmanuel Macron, e por Putin em um telefonema neste domingo. O presidente russo culpou os militares ucranianos pela escalada das tensões no Donbas.
A França disse que a dupla concordou em trabalhar por um cessar-fogo na linha de contato no leste da Ucrânia. Houve mais explosões na zona de conflito do leste da Ucrânia durante a noite e no domingo.
Detonações podiam ser ouvidas da cidade de Donetsk, controlada pelos separatistas, enquanto ambos os lados disseram estarem sob forte fogo de artilharia. Enquanto as explosões aconteciam em Donetsk na manhã de domingo, rebeldes apoiados pela Rússia em Luhansk acusaram as forças do governo de cruzar a linha de frente para lançar um ataque que matou dois civis.
Nenhuma prova foi dada para a alegação, mas investigadores russos abriram um inquérito. Os rebeldes e as forças do governo trocaram acusações de violação do cessar-fogo dezenas de vezes neste domingo.
Dois soldados ucranianos foram mortos no sábado (19/2), quando observadores internacionais relataram que as violações do cessar-fogo aumentaram dramaticamente nesta semana.
Milhares de civis estão sendo evacuados dos territórios separatistas para a Rússia enquanto homens em idade de combate foram convocados a lutar. A embaixada do Brasil em Kiev emitiu um aviso pedindo a cidadãos brasileiros que deixem as regiões separatistas de Donetsk e Luhansk "sem demora".
Segundo a representação diplomática, a orientação tem como base o "contexto do aumento das violações de cessar-fogo registradas na linha de contato no leste da Ucrânia". Outros 35 países também pediram que seus cidadãos deixem o território ucraniano diante da escalada das tensões na região e da possibilidade de confronto armado.
Falando enquanto se preparava para deixar Donetsk para a Rússia de ônibus com sua filha de quatro anos, uma mulher que se identificou como Tatyana disse à agência de notícias Reuters: "É realmente assustador. Levei tudo o que pude carregar".
A Rússia reuniu até 190 mil soldados, incluindo forças separatistas nas regiões de Donetsk e Luhansk, segundo estimativas dos EUA. Enquanto isso, líderes ocidentais estão preparando sanções contra a Rússia em caso de invasão. O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse, em entrevista à BBC, que as sanções serão "muito, muito duras".
Segundo o premiê, evidências indicam que Moscou está planejando "a maior guerra na Europa desde 1945". O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que a União Europeia está pronta para impor sanções massivas ao Kremlin — até mesmo prejudicando sua própria economia, se necessário — para enfrentar a agressão militar russa.
Mas o presidente da Ucrânia, Volodymr Zelensky, acusou os líderes ocidentais de uma "política de apaziguamento" em relação a Moscou e exigiu garantias de segurança para a Ucrânia, que oficialmente aspira a se juntar à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma aliança militar ocidental) e à UE.
Putin reconhece independência de regiões rebeldes da Ucrânia
O presidente russo, Vladimir Putin, assinou nesta segunda-feira um decreto reconhecendo duas regiões separatistas no leste da Ucrânia como independentes, intensificando uma crise que o Ocidente teme que possa resultar em uma guerra.
Putin assinou o decreto em uma cerimônia exibida na televisão estatal, acompanhado pelos líderes separatistas das duas regiões.
A medida de Moscou deve acabar com uma iniciativa de última hora do presidente norte-americano, Joe Biden, de se reunir com Putin para impedir que a Rússia realize uma invasão da Ucrânia.
A moeda russa, o rublo, estendeu suas perdas enquanto Putin falava sobre a questão, caindo 3,3% no dia em relação ao dólar.
Putin fez um longo pronunciamento televisionado e voltou na História até os tempos do Império Otomano, chegando até as atuais expansões da OTAN para o leste — um importante fator de irritação de Moscou na atual crise.
Putin descreveu a Ucrânia como uma parte integral do passado da Rússia, que nunca teve uma tradição genuína própria de Estado. Ele disse também que o leste do país cobre terras russas antigas.
"Se a Ucrânia fosse se unir à OTAN, isso seria uma ameaça direta à segurança da Rússia", disse o líder russo.
Putin trabalha há anos para retomar a influência da Rússia sobre países que emergiram após o colapso da União Soviética, com a Ucrânia detendo um lugar importante em suas ambições.
A Rússia nega qualquer plano de atacar sua vizinha, mas já ameaçou ações "militares-técnicas" não especificadas a não ser que receba garantias amplas de segurança, incluindo uma promessa de que a Ucrânia nunca irá participar da OTAN.
O reconhecimento das áreas rebeldes pode pavimentar o caminho para que Moscou envie forças militares para as duas regiões separatistas –Donetsk e Luhansk– argumentando abertamente de que está intervindo como aliada para protegê-las da Ucrânia.
A União Europeia já alertou sobre sanções do bloco de 27 países caso Moscou realize a anexação ou o reconhecimento das regiões separatistas no leste da Ucrânia, amplamente controladas por separatistas russos.
O eventual reconhecimento da independência das regiões rebeldes por Moscou deve estreitar as opções diplomáticas para evitar a guerra, já que essa é uma postura que rejeita explicitamente um acordo de cessar fogo de sete anos mediado por França e Alemanha e elogiado como o caminho para negociações futuras em uma crise mais ampla.
Separadamente, Moscou afirmou que sabotadores militares da Ucrânia tentaram adentrar o território russo em veículos blindados deixando cinco mortes, uma acusação dispensada como "notícia falsa" por Kiev.
Ambos os desenvolvimentos seguem um padrão previsto por repetidas vezes por governos ocidentais, que acusam a Rússia de se preparar para fabricar um pretexto para invadir a Ucrânia culpando Kiev pelos ataques, e se apoiando em pedidos de ajuda de aliados separatistas.
EUA anunciam sanções contra regiões separatistas do leste da Ucrânia
Os Estados Unidos anunciaram nesta segunda-feira (21) sanções contra territórios rebeldes reconhecidos pela Rússia no leste da Ucrânia e alertaram que estão prontos para outras medidas, se necessário.
O presidente Joe Biden emitirá uma ordem executiva para "proibir novos investimentos, comércio e financiamento de pessoas dos EUA para, de ou nas chamadas regiões DNR [Donetsk] e LNR [Lugansk] da Ucrânia", disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki.
A funcionária detalhou que essas medidas "são independentes e se somariam às medidas econômicas rápidas e severas" que Washington tem "preparadas em coordenação" com seus aliados ocidentais, "se a Rússia invadir ainda mais a Ucrânia".
Além disso, a Casa Branca classificou o reconhecimento da Rússia da independência das regiões separatistas da Ucrânia como uma "violação flagrante" de seus compromissos internacionais.
O anúncio do presidente russo, Vladimir Putin, ocorre enquanto os ocidentais temem uma invasão iminente da Ucrânia, em cuja fronteira foram posicionados mais de 150.000 soldados russos, que estão em compasso de espera há cerca de duas semanas, segundo Washington.
Os territórios separatistas de Donetsk e Lugansk já possuíam relações extremamente limitadas com os Estados Unidos, mas estas sanções anunciam uma nova fase que poderia derivar no enfrentamento mais perigoso entre o Ocidente e Moscou desde a queda da União Soviética.
A decisão de Putin de reconhecer estas duas regiões separatistas da Ucrânia como independentes contradiz "o compromisso da Rússia com a diplomacia" e merece uma resposta "rápida e firme", disse mais tarde nesta segunda o secretário de Estado americano, Antony Blinken.
"Manter a paz"
Biden lidera uma coalizão de países europeus e outros aliados dos Estados Unidos para montar um pacote do que consideram que serão sanções econômicas paralisantes contra a Rússia caso as tropas concentradas na fronteira com a Ucrânia iniciem um ataque.
Embora o Kremlin tenha negado durante semanas qualquer plano de invasão, paralelamente acumulou uma enorme concentração de tropas e armamento pesado em três frentes da Ucrânia.
Pouco após reconhecer sua independência, Putin determinou o envio de tropas às duas regiões separatistas como parte de uma operação para "manter a paz".
Moscou não deu detalhes nem datas de nenhuma mobilização, mas a ordem só estabeleceu que "entra em vigor a partir do dia que foi assinado".
Por anos, Moscou tem dado apoio financeiro, político e militar aos rebeldes separatistas.
A Presidência americana também informou sobre um telefonema de trinta minutos entre Biden, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, que ocorreu após a fala de Putin.
Eles destacaram que a decisão russa "não ficará sem resposta", segundo o porta-voz do governo alemão, Steffen Hebestreit.
Os três líderes "estão de acordo em que esta medida unilateral da Rússia constitui uma violação clara" dos acordos de paz de Minsk para solucionar o conflito ucraniano, disse Hebestreit em um comunicado publicado após uma conversa entre os presidentes.
A Casa Branca não respondeu de imediato às perguntas sobre se ainda consideravam realizar a cúpula proposta entre Biden e Putin.
As sanções farão de Moscou um "pária para a comunidade internacional", advertiu na sexta-feira um alto funcionário do governo americano.
Washington também disse várias vezes que o gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia à Alemanha por via marítima, não entrará em funcionamento se Moscou atacar a Ucrânia.