O fato da Rússia possuir um arsenal e um exército muito maior que o da Ucrânia não é nenhuma novidade, mas a extensão de desvantagem do segundo país pode não ficar clara num primeiro momento.
Uma pesquisa realizada pela Global Firepower avaliou as forças militares dos dois países previstas para 2022, e os resultados indicam que a Rússia tem tudo a seu favor em todos os aspectos.
Com relação ao arsenal de pessoas, a Ucrânia fica para trás com 220 mil soldados, enquanto a nação maior contabiliza 850 mil.
Com relação a arsenal aéreo e naval, a Rússia lidera com mais de 4 mil e 605, contra 318 aeronaves e 38 navios ucranianos respectivamente.
Os tanques de guerra e veículos blindados da ex-União Soviética totalizam cerca de 42 mil unidades, enquanto a Ucrânia soma pouco mais de 14 mil.
O país do leste europeu também sai em desvantagem do arsenal aéreto, totalizando 103 peças entre helicópteros de ataque e jatinhos, enquanto os russos possuem mais de mil unidades.
Por fim, a Ucrânia possui apenas uma fragata e nenhum navio destruidor, enquanto a Rússia possui 26 unidades totais de barcos.
Portanto, ainda não é possível medir o nível de destruição que ocorrerá caso o presidente Putin decida invadir o leste.
O que se sabe até então é que há um significativo avanço militar na fronteira russa, e os esforços diplomáticos para selar a paz entre as nações falharam até então. Desta forma, o ocidente se concentra em oferecer solidariedade e promover ameaças econômicas capazes de frear uma possível invasão.
Vale ressaltar ainda que durante esta semana, a milícia neonazista ucraniana anunciou que também está se preparando para a luta.
O grupo publicou uma série de mensagens do Telegram mostrando detalhes de diversos planos táticos do Corpo Nacional, que está envolvido nos assuntos relacionados à guerra.
Algumas fotos publicadas no também mostram membros da organização participando de cerimônias ultranacionalistas para marcar o Dia da Unidade Nacional da Ucrânia.
Rússia x Ucrânia: 6 pontos para entender se guerra já começou¹
Todo mundo está tentando adivinhar as intenções do presidente russo Vladimir Putin na Ucrânia. Os Estados Unidos estão retirando funcionários da embaixada à medida que aumentam os temores de um conflito iminente. Mas ele talvez já tenha começado, escreve o especialista em segurança e defesa Jonathan Marcus*.
O risco de uma verdadeira guerra entre a Rússia e a Ucrânia domina as manchetes em várias partes do mundo.
Todas as perguntas óbvias estão sendo feitas. A Rússia vai atacar? O presidente Vladimir Putin está decidido a iniciar uma guerra? Ou a diplomacia pode garantir a paz?
Mas não podemos ler a mente do presidente Putin. Então elaboramos outra pergunta: como saber se as hostilidades começaram?
Tanques de guerra e mísseis
A resposta parece óbvia.
Fileiras de tanques russos cruzando as fronteiras da Ucrânia ou ataques aéreos contra posições ucranianas marcariam uma dramática escalada na crise e uma mudança para uma nova fase do conflito.
Os primeiros alarmes virão das próprias forças armadas ucranianas, mas satélites ocidentais e aeronaves de coleta de inteligência podem detectar os preparativos para uma ofensiva iminente.
Provavelmente haverá sinais claros de um ataque iminente, diz Michael Kofman, especialista em forças armadas russas, do Center for Naval Analysis, com sede nos EUA.
Entre esses sinais estão "a dispersão de forças e um influxo de elementos logísticos e de apoio", diz ele.
Mas essa pergunta também pode ser respondida de outra maneira e, para isso, é preciso dar um passo atrás e analisar a campanha da Rússia contra a Ucrânia de maneira sistêmica.
Precisamos examinar o kit de ferramentas completo disponível à Rússia e avaliar como ele está sendo usado. Sob essa ótica, quando você pergunta, "como saberemos se o conflito começou", a resposta pode ser: ele já começou.
As hostilidades estão em curso há alguns anos.
Pressão militar
Vamos começar analisando o momento atual. A Rússia já ocupa a Crimeia, que é parte da Ucrânia, e provê assistência na região de Donbas a rebeldes contrários ao governo de Kiev.
De fato, foi a intervenção de unidades blindadas e mecanizadas russas contra as forças ucranianas em 2014 que impediu a derrota dos rebeldes pró-Rússia. Os combates esporádicos continuaram desde então. Todos os lados supostamente apoiam um esforço de paz internacional, mas pouco progresso foi alcançado.
Ameaça de uso da força
Além dessa pressão, há também a ameaça da Rússia de empregar uma força militar esmagadora contra a Ucrânia.
O acúmulo de formações de combate russas ao redor das fronteiras da Ucrânia é impressionante. Isso inclui um significativo deslocamento de forças para a Bielorrússia – que também faz fronteira com a Ucrânia – o que pode fornecer um ponto de partida mais próximo para um ataque à própria capital ucraniana, Kiev.
Porta-vozes russos argumentam que essa formação de veículos militares perto da fronteira não passa de um exercício militar, sem caráter de ameaça. Mas a escala dela, a natureza das unidades deslocadas para o local e a gradual chegada de suprimentos sugerem que se trata de algo muito maior que exercícios de rotina.
Especialistas têm acompanhado esses preparativos por meio de fotos de satélites civis. Vários vídeos feitos por telefone circulam pela internet mostrando trens abastecidos com equipamentos a caminho da Ucrânia ou da Bielorrússia. Análises dessas postagens nas redes sociais, associada às unidades vistas em movimento pelos satélites, fornecem um retrato claro do que está acontecendo.
Independentemente do que Moscou diga, a Ucrânia tem todos os motivos para se preocupar.
Tentativa de controle da narrativa
A segunda ferramenta utilizada por Moscou é uma tentativa de influenciar a narrativa.
Por um lado, a Rússia diz que não está se preparando para a guerra, embora pareça que está. Mas, tão importante quanto isso, é a narrativa que ela tenta emplacar de que a Ucrânia não é a vítima – a própria Rússia é que estaria ameaçada.
Esse é o teor dos documentos entregues aos EUA com o objetivo de deter e, de certa forma, reverter a expansão da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e criar uma nova esfera de influência para Moscou.
Mas a narrativa tem outro objetivo também. É a história que a Rússia conta para moldar a forma como a toda a crise na Ucrânia é debatida, não apenas por governos do Ocidente ou os cidadãos russos, mas por você que está lendo esta reportagem.
O fato é que boa parte dos especialistas independentes avaliam que a Rússia está se preparando para a guerra contra a Ucrânia, independentemente do que os porta-vozes russos digam.
Subversão
Existem outras possibilidades na caixa de ferramentas russa também. Ataque cibernético e subversão, por exemplo. Há pouco mais de uma semana, vários sites do governo ucraniano foram atingidos, embora não esteja claro de onde veio o ataque.
Mais recentemente, o governo do Reino Unido disse ter evidências de que Moscou selecionou indivíduos para formar um novo governo em Kiev. Mas não foram apresentadas publicamente provas conclusivas disso.
Michael Kofman diz que um elemento cibernético pode ser parte importante de um ataque russo, porque teria potencial para prejudicar a infraestrutura crítica e atrapalhar a capacidade da Ucrânia de coordenar um esforço militar.
Linha tênue entre guerra e paz
Quando a Rússia tomou a Crimeia, ouvimos muito falar sobre "guerra híbrida" e "guerra de zona cinzenta". Na época, a Rússia negou a operação e os participantes, embora uniformizados, não usavam insígnias militares.
Mas não havia dúvida de que se tratava de tropas ligadas à Rússia. E a Crimeia foi tomada por força militar. O que está em andamento no momento é a essência da "guerra de zona cinzenta", ou seja, o esmaecimento da fronteira entre paz e guerra.
Não é assim que tendemos a ver as coisas no Ocidente.
Mas os militares russos articularam uma doutrina sofisticada que vê a guerra e a paz como um continuum onde diferentes ferramentas são aplicadas em diferentes estágios, às vezes em sequência, às vezes juntos, embora com o mesmo objetivo estratégico.
E, em última análise, é por isso que o conflito já começou. A única questão é quão longe na "zona cinzenta" o presidente Putin está disposto a ir.
¹com BBC