O presidente Vladimir Putin considerou "positiva" a disposição do governo dos Estados Unidos de discutir com a Rússia sobre as garantias de segurança reclamadas por Moscou para frear a expansão da OTAN para o leste da Europa.
"Até agora vimos uma reação positiva. Os sócios dos Estados Unidos nos afirmaram que estão prontos para começar esta discussão, as conversas, no início do próximo ano", disse Putin aos jornalistas em sua entrevista coletiva de fim de ano, durante a qual destacou que qualquer ampliação da Organização do Tratado do Atlântico Norte é "inaceitável" para a Rússia.
Os países ocidentais acusam Moscou de operações agressivas, depois que o exército russo enviou dezenas de milhares de soldados para a fronteira com a Ucrânia, onde a Rússia já anexou a Crimeia.
Moscou afirma que deseja garantir sua segurança diante das "provocações" de Kiev e do Ocidente. O Kremlin apresentou na semana passada dois tratados, um destinado aos Estados Unidos e outro à OTAN, para resumir suas exigências para descomprimir a situação.
Os textos proíbem a ampliação da OTAN, em particular para a Ucrânia, e limitam a cooperação militar ocidental no leste da Europa e nos países da ex-URSS, sem impor medidas similares à Rússia.
"A bola está no campo deles. Eles precisam nos dar alguma resposta", disse Putin nesta quinta-feira, antes de afirmar que os representantes russos para as negociações com os americanos no início do ano em Genebra já foram escolhidos.
Rússia prevê negociações sobre segurança com EUA e OTAN para janeiro
As primeiras negociações entre Rússia, Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), sobre as garantias de segurança exigidas por Moscou relacionadas à crise na Ucrânia, ocorrerão em janeiro – afirmou o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, nesta quarta-feira(22).
"Ficou acertado que, no início do ano que vem, haverá contatos bilaterais entre negociadores russos e americanos, em uma primeira rodada", disse Lavrov em entrevista à rede de televisão russa RT.
Segundo ele, os negociadores já foram escolhidos e aceitos por ambas as partes.
Lavrov também espera que, depois desta rodada, "também em janeiro", discussões com a OTAN comecem imediatamente.
A subsecretária de Estado dos EUA para a Europa, Karen Donfried, disse na terça-feira (21) que espera que o diálogo sobre a Ucrânia e a segurança na Europa comece "em janeiro", embora tenha alertado Moscou de que alguns de seus pedidos são "inaceitáveis".
Lavrov reiterou nesta quarta-feira as palavras do presidente Vladimir Putin, um dia antes, pedindo discussões "sérias" e alertando seus adversários para não "atrapalharem" as negociações.
Este processo não pode "ser eterno, considerando-se que ameaças são criadas constantemente à nossa volta e que as equipes da OTAN se aproximam das nossas fronteiras", destacou o chanceler.
"Espero que, em virtude das nossas ações para garantir nossa segurança, levem-nos a sério", acrescentou.
Ainda nesta quarta-feira, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, e seu contraparte europeu, Josep Borrell, afirmaram que qualquer diálogo sobre a segurança europeia com a Rússia deverá ocorrer em coordenação com a União Europeia (UE).
"A UE vai colaborar com os Estados Unidos e a OTAN para se assegurar de que seus interesses sejam representados", afirmou o espanhol Borrell em um comunicado.
A Rússia apresentou dois projetos de tratado na semana passada, um com os Estados Unidos, e outro, com a OTAN, nos quais resumiu suas exigências para uma desescalada.
Esses textos proíbem a expansão da Aliança Atlântica, principalmente de integrar a Ucrânia, e limitam a cooperação militar ocidental ao Leste Europeu e com países da ex-União Soviética, sem exigir medidas semelhantes da Rússia.
O Ocidente acusa Moscou de operações agressivas. O Exército russo mobilizou dezenas de milhares de soldados em sua fronteira com a Ucrânia, da qual a Rússia já anexou uma parte de seu território, a Crimeia.
Ocidente acusa Rússia de escalada na fronteira com a Ucrânia
As potências ocidentais voltaram a acusar a Rússia nesta quarta-feira (22) de prosseguir com a "escalada" na fronteira com a Ucrânia e se comprometeram a se mostrarem unidas no diálogo futuro com Moscou, previsto para começar em janeiro.
A Alemanha expressou "grande preocupação" um dia depois de o presidente russo, Vladimir Putin, ameaçar com uma resposta "militar e técnica" se seus adversários ocidentais não colocarem fim à sua política.
A preocupação de Berlim se deve a que estas palavras precedam novos "movimentos de tropas" na fronteira com a Ucrânia, disse a ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, insistindo em que esta "grave crise" só poderá ser resolvida mediante o diálogo.
Consultado pela AFP sobre estas novas movimentações, o Departamento de Estado americano reiterou que Washington e seus aliados acompanham "de perto" a situação.
"A Rússia mantém a escalada e não parou de reforçar a presença militar" na fronteira, declarou à AFP um porta-voz da diplomacia americana.
Os ocidentais acusam Moscou de ter concentrado dezenas de milhares de soldados na fronteira com a Ucrânia a fim de preparar uma eventual invasão.
O Kremlin, ao contrário, avalia que ameaçadora é a atitude de Washington e da OTAN, devido a seu apoio político e militar a Kiev.
"Qualquer nova agressão contra a Ucrânia acarretará graves consequências", alertou o porta-voz. Os americanos e seus aliados já tinham ameaçado com sanções sem precedentes.
"Exortamos com firmeza a Rússia para que inicie uma desescalada, retirando suas tropas das imediações da fronteira com a Ucrânia", acrescentou.
"Nosso objetivo é a desescalada através da diplomacia. Os Estados Unidos estão prontos para assumir a via diplomática em janeiro por meio de vários canais".
"Linha de comunicação"
Os dois blocos alternaram posições. Concordaram em estabelecer no começo de 2022 um diálogo que se realizaria ao mesmo tempo em nível bilateral entre os Estados Unidos e a Rússia no âmbito da OTAN, e no nível da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), visto que tanto Moscou quanto Kiev são membros destas organizações.
"Foi acertado que no começo do ano que vem haja um contato bilateral entre os negociadores russos e americanos, uma primeira rodada", declarou o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, à emissora de TV russa RT.
Segundo ele, as discussões com a OTAN ocorrerão "também em janeiro".
Na terça-feira, a diplomacia americana divulgou uma agenda similar.
"Há uma linha de comunicação e de contato diplomático que está aberta", "esperamos que isso continue", afirmou nesta quarta-feira à imprensa a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki.
Os chefes da diplomacia americana, Antony Blinken, e europeia, Josep Borrell, afirmaram nesta quarta, em conversa por telefone, que "qualquer discussão sobre segurança europeia" com a Rússia ocorrerá "em coordenação e com a participação da União Europeia", segundo um comunicado de Bruxelas.
O governo americano de Joe Biden já tinha dito que não vai abordar estes temas sem entrar em acordo com os europeus.
Na terça, Putin adotou um tom especialmente duro.
"No caso de que se mantenha essa postura, que claramente é muito agressiva de parte dos nossos colegas ocidentais, vamos adotar medidas militares e técnicas que sejam apropriadas", disse, durante uma reunião no Ministério da Defesa.
"O presidente Putin se dirige à sua opinião pública, que não são os Estados Unidos", comentou Jen Psaki nesta quarta-feira.
"A OTAN é uma aliança defensiva. Não temos intenções agressivas em relação à Rússia", acrescentou a porta-voz da Casa Branca. "A retórica agressiva vem de um lado".
Putin diz que Rússia precisa de garantias "imediatas" do Ocidente e não quer conflito
A Rússia quer evitar um conflito com a Ucrânia e o Ocidente, disse o presidente russo, Vladimir Putin, nesta quinta-feira, exigindo uma resposta "imediata" dos Estados Unidos e de seus aliados à exigência russa de garantias de segurança.
"Esta não é nossa escolha (preferida), não queremos isto", disse Putin em sua coletiva de imprensa anual quando indagado sobre a possibilidade de um conflito com a Ucrânia.
Ele disse que a Rússia recebeu uma resposta inicial essencialmente positiva às propostas de segurança que apresentou aos EUA neste mês e que as negociações começarão no início do ano que vem em Genebra.
"Espero que o desenrolar da situação prossiga por este caminho", disse.
Em uma resposta separada, Putin ficou mais exasperado ao lembrar como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) "enganou" seu país com ondas sucessivas de expansão desde a Guerra Fria e disse que o governo russo precisa de uma resposta com urgência.
"Vocês precisam nos dar garantias e imediatamente – agora."
A Rússia refuta acusações ucranianas e norte-americanas de que pode estar preparando uma invasão da Ucrânia já no começo do próximo mês com dezenas de milhares de soldados próximos à fronteira.
O país disse que precisa de promessas do Ocidente, inclusive a de que a OTAN abdicará de qualquer atividade militar na Europa Oriental, porque sua segurança está ameaçada pelos laços crescentes da Ucrânia com a aliança ocidental e pela possibilidade de mísseis da OTAN serem instalados em território ucraniano visando a Rússia.
"Nós colocamos diretamente a questão de que não deve haver mais movimentação da OTAN para o leste. A bola está no campo deles, eles deveriam nos responder com alguma coisa", disse Putin.