Vinte meses após o fim do "califado" do grupo Estado Islâmico na Síria, em março de 2019, a organização continua atuando como uma guerrilha no leste do país. No último final de semana, 25 soldados morreram em uma série de ataques. Desde a batalha final em 2019, as tropas de Damasco e de seus aliados perderam 2.000 homens, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos.
A guerra entre o EI e as tropas sírias acontece longe dos holofotes, mas as operações militares ocorrem diariamente em um território de cerca de 60 mil km²: o deserto central da Síria, conhecido como Badia, que vai da cidade de Homs, no centro do país, até a fronteira com o Iraque, no leste, passando pela Jordânia, no sul.
Após dezenas de ofensivas, as forças sírias e aliadas ainda não conseguiram estabelecer um controle total na zona desértica, apesar dos múltiplos bombardeios aéreos, que se tornaram mais intensos no início de dezembro. Cerca de 600 ataques com helicópteros e aviões de guerra já haviam sido realizados em novembro, além de ofensivas terrestres.
Isso não bastou, entretanto, para conter os membros do grupo EI, que continua se movendo com facilidade na região e organizando ataques simultâneos, muitas vezes em locais distantes uns dos outros. Isso significa, no jargão militar, que o sistema de comando e de controle da organização continua operacional e eficaz.
A guerrilha do grupo Estado Islâmico também é ativa nas regiões controladas pelas forças curdas, apoiadas pelos Estados Unidos, no leste do rio Eufrates. Nessa região, o grupo EI comete atentados a bomba contra as patrulhas das forças curdas e lançam foguetes e morteiros contra poços de petróleo.
No dia 2 de dezembro, dez trabalhadores de um campo de petróleo no leste da Síria morreram. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos contabilizou, desde o início do mês, cerca de 30 ataques contra o grupo EI nas regiões controladas pelos curdos, onde o exército norte-americano ainda mantém centenas de soldados.
Extremistas ainda são influentes na região
O serviço secreto norte-americano estima que o grupo EI tenha reconstruído um exército com cerca de 10 mil homens na Síria e no Iraque, e ainda tenha influência suficiente para seduzir novos combatentes para sua causa.
Esse total é composto essencialmente de combatentes que atuavam nos redutos do antigo califado, mas também inclui novos soldados recrutados em tribos de beduínos ou ex-detentos de prisões instaladas em regiões controladas pelos curdos.
O grupo Estado Islâmico percebeu que seu califado chegaria ao fim e se preparou. Seus dirigentes esconderam e estocaram armas, além de mantimentos no deserto, prevendo uma longa guerrilha.