Os cuidados com o meio ambiente como estratégia para enfrentamento das mudanças climáticas foram o principal tema do evento “Biodiversidade e mudança climática: a importância da conservação dos ecossistemas para prover energia limpa e renovável para todos”, realizado pela Itaipu Binacional na tarde desta terça-feira (9) na Conferência do Clima (COP 26), em Glasgow (Escócia).
O evento ocorreu no Pavilhão da ONU Mudanças Climáticas (UNFCCC) e contou com a participação de representantes do Programa Ambiental da ONU (Unep), Convenção da Diversidade Biológica (CBD, em inglês), The Nature Conservancy (TNC), Itaipu Binacional, Climate Reality Project, UNFCCC e ministérios do Meio Ambiente do Brasil e do Paraguai.
Os painelistas apresentaram experiências que evidenciam as conexões entre conservação, água, energia, clima e desenvolvimento territorial sustentável. Jyoti Mathur-Filipp, da CBD, destacou o fato de que metade da economia mundial está atrelada à natureza. Em um mundo em que cerca de um milhão de espécies encontra-se em risco de extinção, ele diz, a devastação da natureza se configura um risco econômico. “Costuma-se falar que não há ‘Planeta B’, o que não é exatamente verdade, já que o planeta continua. Somos nós que estamos em risco”, alertou.
Karen Oliveira, da TNC, abordou o grande potencial hídrico que o Brasil detém na Amazônia, com enfoque na região do Tapajós, onde, além da vocação para a energia, também se destaca o escoamento de grãos. Segundo ela, a experiência demonstra que o desenvolvimento de uma região deve ser pensado com uma visão estratégica para o território em que as obras de infraestrutura são tão importantes como a criação de áreas de conservação. “E não se pode iniciar um projeto de desenvolvimento sem diálogo com as comunidades locais”, afirmou.
O subsecretário de Clima e Relações Internacionais do MMA, Marcelo Freire, um dos encarregados pela abertura do evento, destacou a importância da Itaipu como benchmarking internacional em cuidados ambientais. O case da binacional foi apresentado pelo superintendente de Gestão Ambiental, Ariel Scheffer da Silva. Segundo ele, a conservação é uma estratégia de negócio para a empresa, que visa a garantir a longevidade do reservatório e, portanto, a geração de energia para o Brasil e o Paraguai no longo prazo.
“A reconstrução do ecossistema é vital para a segurança hídrica e energética. E não basta apenas plantar árvores, mas trabalhar com a biodiversidade e a restauração de florestas completas, inclusive com a reintrodução de espécies de fauna, o que se configura como uma estratégia de resiliência e mitigação das mudanças climáticas”, afirmou o superintendente, que apresentou uma comparação sobre a regeneração das florestas em torno do reservatório: caso a faixa de proteção, que tem 210 metros de largura, fosse estendida a partir de Glasgow em linha reta, chegaria à cidade de Atenas, na Grécia, a 2.730 km de distância.
O painel contou ainda com a participação de David Dao, do Climate Reality Project, uma iniciativa que trabalha com inteligência artificial, block chain e monitoramento da biodiversidade por meio de satélites para facilitar o acesso a recursos para comunidades que preservam o meio ambiente. Ele também enfatizou as consequências econômicas da perda de biodiversidade: o desmatamento impacta em até 10% do PIB mundial. “Não há como cumprirmos o Acordo de Paris sem frearmos o desmatamento, que responde por 18% a 25% das emissões mundiais”, disse.
O painel, que também teve a participação na abertura de Alexandre Paris, da secretaria da UNFCCC, e moderação de Valerie Kapos, chefe do programa de Mudança Climática e Biodiversidade do Centro de Monitoramento da Conservação da Unep, foi encerrado pelo diretor de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Paraguai, Ulisses Lovera, que destacou a importância da geração hídrica para o país vizinho, onde 99,9% da eletricidade é produzida sem gerar gases de efeito estufa.