O correspondente de segurança da BBC Frank Gardner preparou uma lista com os pontos críticos do terror no ano de 2012. Com as incertezas no Oriente Médio, suspeitas crescentes em relação ao programa nuclear do Irã, uma crise política cada vez mais profunda no Paquistão e o aumento da violência jihadista na Nigéria, há diversos locais que apresentam ameaças para o ano que começa.
Mas é preciso distinguir entre conflitos locais, em grande parte contidos pelas fronteiras de um país, e o terrorismo transnacional que produziu eventos como 11 de setembro, as bombas em Madri e, nos olhos de muitos, operações militares destruidoras como a invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos.
Afeganistão
2011 foi mais um ano violento para o Afeganistão, com mais de 2 mil civis mortos nos primeiros dez meses do ano. As razões dessas mortes – insurgência, tiroteios, ataques aéreos e criminalidade – não vão desaparecer de uma hora para a outra, mas o quadro no país está mudando.
A Otan, a aliança militar ocidental, está se preparando para a retirada de suas forças de combate até o fim de 2014, acelerando o treinamento das forças de segurança afegãs na esperança de que elas se tornem robustas o suficiente para manter uma segurança nacional mínima e manter a Al-Qaeda fora do país.
Mas a futura partida da maior parte das forças estrangeiras não significa necessariamente o fim do conflito. O pior cenário possível – que a Otan está tentando evitar – é que o Afeganistão volte a enfrentar a desordem e a divisão interna que vigorou no país no início dos anos 90, logo após a retirada dos soviéticos, e que o talebã volte a ganhar poder no sul, levando junto a Al-Qaeda.
Paquistão
Um enfraquecimento do conflito entre Otan e talebã no Afeganistão deveria reduzir a ameaça da insurgência no vizinho Paquistão, mas os problemas do país são muito mais profundos, já que começa 2012 com uma crise entre seu frágil governo civil e suas poderosas Forças Armadas, assim como uma grave desconfiança entre Washington e Islamabad.
As preocupações sobre a segurança do arsenal nuclear do Paquistão foram amplamente abordadas pela mídia americana. Apesar do possível exagero nesses temores, alguns militantes tentarão explorar o caos político no país e 2012 parece estar fadado a ser mais um ano violento. O fim parece estar longe tanto para os ataques da CIA contra os territórios tribais no Paquistão como para as atividades da Al-Qaeda no país.
Irã e o Golfo
A preocupação internacional com o programa nuclear do Irã é agora tão profunda que Israel – que se sente mais ameaçado pelo país – está tendo que escolher entre duas opções nada agradáveis: conviver com a existência de um país que tem armas nucleares e mísseis capazes de atingir seu território ou lançar um ataque preventivo e começar uma guerra que pode não ter como terminar.
O Irã vem se preparando para este último caso por anos e teria diversas medidas de retaliação preparadas caso sofra um ataque em grande escala, entre elas estaria o Hezbollah lançar uma série de foguetes contra Israel a partir do Líbano, lançar seus próprios mísseis contra bases americanas no Glofo, fechar o estreito de Ormuz para navios e ativar células em países do golfo árabe para atacar infraestrutura e causar pânico.
As Forças Armadas dos Estados Unidos até agora mostraram pouca ou nenhuma vontade de iniciar um novo palco de conflito no Irã.
Iraque
A retirada das forças de combate americanas no mês passado após quase nove anos ainda não resultou no fim da violência no Iraque.
A franquia iraquiana da Al-Qaeda, que muitos consideravam uma força derrotada, assumiu a autoria de explosões coordenadas em Bagdá, em dezembro, que mataram mais de 60 pessoas.
Se a maioria sunita no país continuar sentindo que tem as mãos atadas e que sofre discriminação por parte do governo do primeiro-ministro Nouri al-Maliki, de maioria xiita, há um risco de que extremistas violentos consigam recrutar mais militantes para sua causa.
Iêmen
O Iêmen está atualmente em um momento de desordem em câmera lenta. Há confrontos quase diariamente, às vezes entre manifestantes pró-democracia e atiradores leais ao presidente Saleh, às vezes entre pessoas de grupos tribais rivais, às vezes entre o Exército e grupos de militantes islâmicos na província de Abyan, no sul do país.
Os vizinhos do Iêmen no Golfo, assim como os Estados Unidos e Grã-Bretanha, temem que os problemas do país somados à crise econômica possam levar ao colapso do Estado.
2012 será um ano fundamental para determinar se o Iêmen conseguirá sair do atual impasse.
Somália
Já houve especulações, até hoje não comprovadas, de uma ligação institucional entre o grupo jihadista somali al-Shabab e os temidos piratas do país. Há uma coexistência limitada, principalmente por razões financeiras, mas nenhum sinal até o momehnto de que os piratas somalis estariam dispostos a entregar reféns capturados ao al-Shabab.
Para as autoridades britânicas, a maior preocupação é o pequeno fluxo de britânicos indo para a Somália com a intenção de se unir à jihad.
O maior temor é que, mais cedo ou mais tarde, alguns deles decidam voltar , como outros fizeram vindos do Paquistão, para atacar na Grã-Bretanha em vez de lutar e morrer em um país estranho.
Norte da África
Os levantes na Tunísia, Líbia e Egito motivados pela Primavera Árabe foram seguidos por um pequeno número de eclosões de violência, mas certamente no caso de Líbia e Egito, há um risco de que mais confrontos ocorram.
Na Líbia, tem sido difícil convencer milícias armadas a entregar suas armas e há um temor de que armamentos saqueados do arsenal do coronel Muammar Kadafi tenham cruzado a fronteira no sul, indo parar nas mãos de militantes em Mali e em outros locais.
A maior preocupação é em relação a lançadores de mísseis que podem chegar até terroristas e há um grande esforço para localizá-los.
A franquia da Al-Qaeda no Saara, Aqim, tem atualmente em seu poder 12 europeus, e governos ocidentais alertaram seus cidadãos de que certas partes do Saara devem ser evitadas por medo de sequestros.
Nigéria
No ano passado, ataques conduzidos pelo grupo Boko Haram, que significa "Educação Ocidental é Proibida", mataram mais de 450 pessoas, parte delas na sede da ONU em Abuja, uma mudança radical em relação a seus tradicionais alvos na polícia, poder judiciário e entre figuras locais.
Em meados de 2011, autoridades americanas alertaram que pode haver ligações entre o Boko Haram e a Aqim. A agência de inteligência doméstica britânica, o MI5, estaria procurando sinais de conexões do Boko Haram na considerável comunidade nigeriana na Grã- Bretanha.
Jogos Olímpicos
Os Jogos Olímpicos deste ano em Londres terão "a maior operação de segurança já vista no país desde a Segunda Guerra Mundial", segundo as autoridades.
Cerca de 13,5 mil militares estarão trabalhando; um navio de guerra da marinha com heliponto ficará ancorado perto do Estádio Olímpico; mísseis estarão à disposição e caças Typhoon ficarão a postos, mas nada disso será necessário, se tudo correr de acordo com os planos.
A Olímpiada é vista, no entanto, como um alvo de primeira grandeza para qualquer um com intenções de atingir a Grã-Bretanha e os preparativos de segurança estão sendo feitos considerando que a ameaça terrorista no país esteja no segundo grau mais severo em uma escala de cinco.
Ataques cibernéticos
Computadores de instituições governamentais, organizações comerciais e indivíduos estão sob ameaça constantes de ataques cibernéticos, que podem variar de espionagem comercial ao roubo de informações de cartões de crédito até à tentativa de acessar informações militares confidenciais.
Na Grã-Bretanha, as autoridades estão investindo pesado em medidas protetoras no que consideram uma "constante corrida armamentista no espaço cibernético" com o objetivo de eliminar a ameaça de um ataque cibernético de proporções catastróficas contra a infraestrutura do país.