A China negou nesta segunda-feira (18/10) relatos de que tenha testado um míssil hipersônico com capacidade nuclear no meio deste ano, afirmando que os testes feitos em julho eram uma verificação de rotina em uma aeronave. Uma reportagem do jornal Financial Times sobre os testes havia gerado preocupação em Washington, onde as agências de inteligência foram pegas de surpresa.
Os mísseis hipersônicos são muito mais rápidos e ágeis do que os normais, o que faz com que sejam mais difíceis de se interceptar. O relato sobre o suposto míssil nuclear hipersônico surgiu em um momento em que a preocupação com as capacidades nucleares da China vem aumentando.
O governo chinês fez uma coletiva de imprensa nesta segunda para tratar da questão. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, disse que um teste de rotina foi realizado em julho para verificar diferentes tipos de tecnologia de naves espaciais reutilizáveis.
"Não era um míssil, era uma espaçonave", disse Zhao. "Os testes são muito importantes para reduzir o custo de espaçonaves." Zhao acrescentou que muitos países realizaram testes semelhantes no passado. Quando questionado se a reportagem do Financial Times estava incorreta, ele respondeu que sim.
A reportagem, publicada no sábado, citou cinco fontes não identificadas que disseram que um míssil hipersônico foi lançado no meio do ano. Ele teria navegado em órbita baixa antes de descer e errar por pouco seu alvo, segundo as fontes citadas na reportagem.
"O teste mostrou que a China fez um progresso surpreendente em armas hipersônicas e estava muito mais avançada do que as autoridades americanas imaginam", dizia o texto do Financial Times.
Após a publicação, o congressista americano Mike Gallagher disse que o episódio deveria servir como "chamado à ação" para os EUA. Gallagher, que é republicano e membro do Comitê de Forças Armadas da Câmara, disse que se Washington mantiver sua abordagem atual, "perderá uma nova Guerra Fria com a China em dez anos".
As relações entre os EUA e a China estão tensas, com Pequim acusando o governo do presidente Joe Biden de ser hostil. Outros países ocidentais também expressaram preocupação com as recentes demonstrações de poder militar da China. Michael Shoebridge, diretor de defesa, estratégia e segurança nacional do Australian Strategic Policy Institute, diz que o suposto teste de míssil hipersônico se encaixaria em uma tendência de aumento de "armas nucleares e outras armas de ataque" por parte de Pequim.
"Não acho que seja mais significativo do que os crescentes silos de mísseis da China, suas armas nucleares de lançamento aéreo ou novas armas nucleares submarinas", diz ele. "É algo que se encaixaria em um padrão de aumento de capacidade nuclear [sem] transparência sobre isso."
"Transparência é um conceito estranho para os pensadores estratégicos de Pequim", diz ele. A China, os EUA, a Rússia e pelo menos cinco outros países estão trabalhando na tecnologia de mísseis hipersônicos. Eles podem voar a mais de cinco vezes a velocidade do som e podem lançar uma ogiva nuclear. No mês passado, a Coreia do Norte disse que testou com sucesso um novo míssil hipersônico. Em julho, a Rússia fez um anúncio semelhante e disse que seu míssil havia sido lançado de uma fragata no Mar Branco, na costa noroeste da Rússia.
EUA observam desenvolvimento de armas chinesas, diz Defesa após relato sobre míssil hipersônico¹
O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, disse nesta segunda-feira que Washington está acompanhando atentamente o desenvolvimento de sistemas de armas avançadas pela China, mas não quis comentar diretamente uma reportagem segundo a qual Pequim testou um míssil hipersônico com capacidade nuclear.
O Ministério das Relações Exteriores chinês negou a reportagem do jornal Financial Times, que disse que a China lançou um foguete com uma arma de planeio hipersônica em julho. Pequim disse que foi um veículo espacial, não um míssil.
Os EUA e a Rússia já testaram armas hipersônicas, geralmente definidas como mísseis que voam a uma velocidade cinco vezes superior à do som, em meio a uma corrida para uma nova geração de armas que são mais difíceis de detectar e interceptar.
Austin disse a repórteres durante uma visita à antiga república soviética da Geórgia: "Acompanhamos atentamente o desenvolvimento de armamentos e recursos e sistemas avançados da China que só aumentarão as tensões na região".
Ele disse que Washington continuará concentrada no desafio militar de Pequim.
Austin falava durante uma viagem pela Europa na qual o Pentágono disse que ele "tranquilizará aliados e parceiros sobre o compromisso da América com sua soberania frente à agressão russa".
¹com Reuters