O governo iraniano declarou nesta segunda-feira (02/01) haver testado com sucesso dois mísseis de longo alcance perto do Estreito de Ormuz. Enquanto isso, cresce no Ocidente a tensão em torno do programa nuclear do país.
No fim de semana foi divulgado que cientistas iranianos haveriam desenvolvido sua primeira barra de combustível nuclear, apesar das sanções das Nações Unidas e das medidas dos Estados Unidos para sustar as atividades do país ligadas à energia atômica. No domingo, o presidente norte-americano, Barack Obama, decretou novas sanções contra o Irã, visando o banco central, as exportações de petróleo e o setor financeiro do país.
Em resposta, o Irã ameaçou fechar o estratégico Estreito de Ormuz, via marítima no Golfo Pérsico por onde passa 40% da produção mundial de petróleo. Os Estados Unidos e seus aliados europeus acusam o Irã de usar seu programa nuclear para encobrir o desenvolvimento de armas atômicas. O Irã rechaça as acusações, alegando que o programa é pacífico e voltado à geração de eletricidade.
A DW-TV conversou com Henning Riecke, analista de segurança internacional do Conselho Alemão de Relações Internacionais, sobre os últimos acontecimentos no país.
Deutsche Welle: O poder militar iraniano tem capacidade de fechar o Estreito de Ormuz?
Henning Riecke: O Irã tem mostrado presença e capacidade militar, e poderia bloquear ou dificultar a livre circulação pelo Estreito de Ormuz, é claro. Mas não é vital fechar o estreito como uma porta, tornando a travessia difícil ou cara para os navios. Para colocar em perigo o tráfego marítimo, basta dificultar o comércio e fazer os preços do petróleo dispararem, e é isso que o Irã pretende.
O senhor acredita que o Irã levaria, de fato, esse plano a cabo, arriscando prejudicar sua própria economia?
Na realidade, não acredito, pois o Irã depende de importações de gasolina refinada. Esse é um bem importante para o mercado interno, no que concerne os iranianos que estão satisfeitos com o governo. Não acredito que o Irã faria isso: sua intenção é mostrar aos Estados Unidos que eles também são vulneráveis.
Qual é o motivo dessa escalada repentina?
No momento, o Irã enfrenta sanções muito mais severas do que no passado. Elas se dirigem contra o setor financeiro e a expansão da indústria petroleira no país, por isso, os iranianos estão especialmente preocupados. Acredito que suas últimas manobras tiveram como objetivo aumentar o preço do petróleo e expor a vulnerabilidade dos norte-americanos e europeus que negociam o mais recente pacote de sanções.
Os preços do petróleo não reagiram tão fortemente como se esperava, mas continuam voláteis. E essa flutuação é exatamente o que o Irã quer alcançar, como resposta às sanções. E talvez até mesmo uma situação onde, em algum momento, haja ataques militares em torno de seu programa nuclear.
Também essa história tem dois lados: o Irã concordou em continuar as "conversas dos seis países", em torno de seu programa nuclear e com a participação da Alemanha, China, França, Estados Unidos, Reino Unido e Rússia.
Acredito que os iranianos estão tentando mostrar seus trunfos, para poderem revidar, de uma forma ou de outra, quando as sanções voltarem a ser discutidas. Eles querem romper a unidade de norte-americanos e europeus no tocante a novas sanções contra a economia iraniana.
Segundo notícias recentes, cientistas iranianos produziram a primeira barra de combustível nuclear do país. Quão avançado está o programa nuclear iraniano?
Os trabalhos no programa nuclear iraniano continuam num bom ritmo, particularmente em relação ao enriquecimento de urânio. As reservas de urânio de que o país dispõe estão sido enriquecidas até um grau de radioatividade adequado para barras de combustível, estações de energia e até bombas nucleares. O programa nuclear irá definitivamente continuar, e vem despertando grande preocupação nos Estados Unidos. Esse é o principal ponto de negociações com o Irã.
Um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), publicado no último trimestre de 2011, mostrou que o Irã vem desenvolvendo tecnologia para produzir bombas nucleares. Não está claro quanto tempo isso vai continuar. A questão importante aqui é: o Irã quer realmente construir uma bomba nuclear ou apenas ter a capacidade para construir uma rapidamente? Acredito que a última opção seja verdadeira e, por si, já é uma questão politicamente explosiva.
Entrevista: Dirk Jacobs (ms)
Revisão: Augusto Valente