WASHINGTON, 29 dez 2011 (AFP) -O Irã até teria condições de cumprir com suas ameaças de fechar indefinidamente ou interromper o transporte de petróleo através do estratégico Estreito de Ormuz, mas com isso desencadearia uma devastadora reação militar dos Estados Unidos e deixaria Teerã completamente isolado no cenário mundial, segundo especialistas.
Apesar de o Irã ter advertido que estuda este fechamento como represália as eventuais sanções a suas exportações de petróleo, vários analistas concordam que as autoridades iranianas estão mais inclinadas para ações de menor escala, antes de minar o canal.
Com 2.000 minas em seu arsenal (estimativa ocidental), o Irã poderia espalhar centenas delas no estreito, o que provocaria o seu fechamento e interromperia o tráfego marítimo tempo suficiente para causar estragos no mercado mundial de petróleo.
No entanto, colocar minas no estreito seria um claro ato de guerra, e o Irã enfrentaria uma resposta militar maciça por parte dos Estados Unidos, além de criar desafetos em todo o mundo, opinou Anthony Cordesman, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
Em tal cenário, "todos no Golfo iriam apoiar uma intervenção estrangeira", disse Cordesman à AFP.
O Irã colocaria em risco grande parte de seu poderio militar e de sua economia ao mergulhar em um confronto direto, afirmou. "Este é um país que não possui uma força aérea moderna e nem uma marinha moderna".
Algumas avaliações prevêem que o estreito seria fechado apenas por alguns dias, mas outros especialistas são mais pessimistas.
Um estudo de 2008 concluiu que "a experiência passada em campanhas de guerra com minas sugere que levaria várias semanas, até meses, até que o fluxo total de comércio fosse restaurado, e ainda mais tempo para convencer os mercados do petróleo que a estabilidade voltou", escreveu o estudioso Caitlin Talmadge em uma revista da Universidade de Harvard.
O Irã confia no estreito como suporte econômico para suas exportações de petróleo, por isso, analistas e autoridades apostam que Teerã poderia optar por ações menores para apenas causar um aumento nos preços do petróleo.
"Há uma ampla gama de opções assimétrica", sem que seja preciso fechar o estreito, disse Cordesman.
Uma possibilidade é assediar, parar embarcações comerciais e realizar inspeções, explicou Alireza Nader, especialista iraniano no Grupo de Estudos Estratégicos Rand Corporation
Em 2007, o Irã interceptou uma frota britânica, alegando que os barcos tinham entrado em águas iranianas.
A última vez que a república islâmica confrontou navios de guerra americanos no Golfo, durante a guerra Irã-Iraque na década de 1980, foi derrotado facilmente.
Desde então, o Irã tem procurado reforçar o seu poder naval e as defesas costeiras, adquirindo minas mais poderosas, mísseis anti-navios, submarinos e uma frota de barcos menores.
Um oficial militar dos Estados Unidos rejeitou na quarta-feira as ameaças do Irã sobre o estreito, dizendo que essas declarações são "em grande parte retórica" e que é improvável que o país esteja pronto a dar um passo tão ousado.
"Nossa prioridade é a liberdade de navegação. Nós faremos o que for necessário para garantir a área continue livre", disse um funcionário, que falou sob condição de anonimato.
O Irã ameaça fechar o Estreito de Ormuz, como parte de um jogo provocativo. Com isso, espera ter apoio internacional para deter as duras sanções por seu programa nuclear, afirmou Nader.
Há um perigo crescente de que uma provocação pequena do Irã, como a apreensão de um navio pertencente a um estado do Golfo Pérsico, possa causar uma reação em cadeia, mesmo que Washington e Teerã não queiram, acrescentou.
"A questão é que as tensões estão tão altas, mesmo se tratando de um blefe, há muito espaço para um erro de cálculo de ambas as partes. O Irã está usando isso como um elemento de dissuasão, mas se for longe demais, poderá ter uma guerra em suas mãos", concluiu.
Irã denuncia entrada de porta-aviões americano em zona de manobras navais
O Irã denunciou nesta quinta-feira a entrada de um porta-aviões dos Estados Unidos numa zona de manobras navais iranianas, perto do Estreito de Ormuz, por onde passa 40% do tráfego marítimo de petróleo mundial.
Na véspera, o Irã considerou desnecessário fechar o Estreito de Ormuz, apesar de afirmar que seria muito fácil bloquear esta via.
"Um avião de vigilância iraniano identificou um porta-aviões americano na zona de manobras em que estão mobilizados navios iranianos, fez fotos e filmou", declarou o almirante Mahmud Musavi.
"Isto demonstra que a Marinha iraniana observa e vigia todos os movimentos das forças (…) na região", completou.
"Conforme o direito internacional, estamos preparados para denunciar os infratores que não respeitarem os perímetros de segurança durante as manobras", indicou ainda Musavi, segundo o canal IRIB.
A V Frota americana tem como porto base o Bahrein, o que permite a Washington ter uma importante presença naval no Golfo Pérsico e em Omã.
Há a possibilidade de que o porta-aviões em questão seja o "USS John C. Stennis", a propulsão nuclear, um dos maiores navios de guerra da marinha americana.
O Irã, que iniciou no sábado um exercício naval de 10 dias na região do Estreito de Ormuz, no mar de Omã e no Oceano Índico, cogita a possibilidade de fechar o estreito, caso as potências ocidentais adotem novas sanções para impedir suas exportações de petróleo.
Apesar de o Irã advertir que estuda o fechamento como uma represália a eventuais sanções, vários analistas acreditam que as autoridades iranianas estão inclinadas a ações em menor escala.
O Irã poderá, por exemplo, optar por hostilizar ou abordar navios comerciais, segundo especialistas, e isso faria parte do jogo de provocações de Teerã, que espera dissuadir qualquer apoio internacionais a possíveis sanções.
"Fechar o estreito é muito fácil para as Forças Armadas iranianas. É como beber um copo de água, como se diz em persa", declarou na quarta-feira o comandante da Marinha do país, almirante Habibollah Sayyari.
"Atualmente não precisamos fechar o estreito porque controlamos o mar do Omã e podemos controlar o tráfego marítimo e petrolífero", completou.
O estreito é particularmente vulnerável pela pequena distância entre as duas costas, 50 km, e por sua profundidade, que não supera 60 metros.
O governo dos Estados Unidos advertiu o Irã contra uma tentativa de interferir na navegação do Estreito de Ormuz, o que, segundo Washington, não será tolerado.
"O bloqueio do trânsito de navios não vai ser tolerado", afirmou o secretário da assessoria do Pentágono, George Little, acrescentando que não registrou por ora indícios de hostilidades por parte do Irã na zona.
O general da Guarda Revolucionária, Hossein Salami, por sua vez, rejeitou nesta quinta-feira as advertências dos Estados Unidos.
"Não duvidamos de que seremos capazes de aplicar estratégias defensivas para proteger nossos interesses vitais", advertiu o militar.