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Polícia conta “viagem ao inferno” em depoimento sobre invasão do Capitólio nos EUA

Quatro policiais norte-americanos contaram a parlamentares nesta terça-feira que foram agredidos, provocados com insultos raciais, e disseram que acreditaram que poderiam morrer enquanto defendiam o Capitólio dos Estados Unidos no dia 6 de janeiro contra uma multidão de apoiadores do então presidente Donald Trump.

Os depoentes choraram, utilizaram palavrões e chamaram os invasores de "terroristas" envolvidos em "uma tentativa de golpe". Durante uma audiência que durou três horas e meia no Congresso, os policiais também criticaram parlamentares republicanos que tentaram minimizar o ataque.

"Eu sinto que fui ao inferno e voltei para proteger as pessoas nesta sala", disse o policial do Distrito de Columbia Michael Fanone, se referindo aos parlamentares. "A indiferença mostrada aos meus colegas é vergonhosa", acrescentou Fanone, batendo sua mão na mesa de testemunha.

Foi uma primeira audiência dramática no comitê liderado pelos democratas na Câmara dos Deputados e formado com o objetivo de investigar o pior episódio de violência no Capitólio desde a invasão britânica na Guerra de 1812.

Alguns democratas sugeriram que Trump fosse chamado como testemunha. Os agentes contaram como os invasores lutaram em nome do ex-presidente republicano enquanto tentavam evitar que o Congresso certificasse formalmente a vitória do hoje presidente Joe Biden após acusações falsas de Trump de que a eleição teria sido roubada dele com fraudes generalizadas.

"Ele mesmo ajudou a criar essa monstruosidade", afirmou o policial do Capitólio Aquilino Gonell de Trump, ao mesmo tempo em que descreveu que os invasores portavam armas como escudos policiais, bastões, marretas, mastros de bandeiras, dispositivos de choque, irritantes químicos, canos de metal, pedras, pés de mesa quebrados e grades protetoras de metal.

O presidente da Comissão Bennie Thompson e a deputada Liz Cheney, uma integrante republicana do painel, alertaram contra o "acobertamento" da invasão, pela qual 535 pessoas respondem hoje a acusações criminais, mesmo com aliados de Trump tentando minimizar o incidente e acusando o grupo de ter motivações políticas.

Cheney, que foi removida de sua posição de liderança do Partido Republicano na Câmara após denunciar as acusações falsas de Trump sobre a eleição, disse que espera que o país não fique cego pelo partidarismo a ponto de "jogar fora o milagre" da democracia americana.

A comissão deve explorar questões em torno da organização por trás da invasão, como ela foi financiada e a falta de preparação das forças policiais envolvidas na resposta ao incidente.

O painel ouviu os relatos públicos mais detalhados até hoje sobre o que a polícia enfrentou durante o violento episódio. Mais de uma centena de policiais ficaram feridos pelos invasores.

Fanone disse que foi puxado para o meio da multidão, foi espancado, recebeu repetidos choques de um taser, teve sua identificação roubada e perdeu a consciência no momento das agressões, com médicos dizendo que ele sofreu um ataque cardíaco no episódio. Fanone disse ter escutado um invasor dizendo "matem ele com a sua própria arma".

O policial do capitólio Harry Dunn, que é negro, disse que os invasores utilizavam repetidamente uma ofensa racial em sua direção. Dunn disse que desafiou as acusações deles de que ninguém havia votado em Biden, respondendo que ele próprio havia.

Gonell, que é nascido na República Dominicana, naturalizado americano e serviu no Exército norte-americano no Iraque, relembrou que os invasores o chamaram de traidor e disseram que ele deveria ser executado. Gonnell disse que pensou consigo mesmo: "É assim que eu vou morrer".

O policial de Washington Daniel Hodges chamou os invasores de terroristas, citando a definição legal do termo. Ele disse que ouviu dos criminosos: "Você irá morrer de joelhos!".

Segundo Hodges, muitos dos invasores pareciam ser supremacistas brancos. Enquanto seus colegas negros e latinos ouviam insultos raciais, Hodges, que é branco, dizia que os invasores tentavam recrutá-lo perguntando "Você é meu irmão?".

Os policiais pediram que parlamentares determinem o que aconteceu na invasão, e se Trump e outros ajudaram a incentivá-la.

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