Os funcionários da Embraer demitidos por fazerem greve na década de 80 vão receber pensão vitalícia do governo. Na época, eles teriam sido perseguidos pela ditadura militar e não conseguiram novos empregos. A determinação é do Ministério da Justiça.
Roberto Domingue é gerente de um posto de gasolina. Teve que mudar de profissão há 27 anos, quando foi demitido do departamento de recursos humanos da Embraer. A demissão foi depois de uma greve na empresa em 1984. Ele diz que a partir daí foi perseguido politicamente. "Depois que fomos demitidos, ninguém conseguiu emprego. Niguém sabia o porquê, eu trabalhava uma semana em um lugar, um mês no outro e era demitido. Aí, depois de várias descobertas, procurando, descobrimos que existia uma lista negra".
Na época 120 funcionários foram demitidos por participar da paralisação. Eles foram cadastrados pelo SNI, o Serviço Nacional de Informação, e tiveram os nomes vetados em empresas da região. "Além do SNI, monitorada pelo Ministério do Exército, aqui, em São José dos Campos, na Embraer, em particular, pelo Ministério da Aeronáutica. Enfim, os militares controlavam a vida das pessoas e as pessoas corriam risco de vida", conta Luiz Carlos Prates, do Sindicato dos Metalúrgicos.
Em 2009, o grupo foi anistiado pelo governo brasileiro, que reconheceu a perseguição política. Agora, os trabalhadores comemoram o anúncio de que terão uma reparação financeira.
O valor da indenização ainda será calculado pelo Ministério da Justiça, mas o sindicato estima que ficará em torno de 2 mil reais por mês. A pensão vitalícia será reajustada todos os anos, de acordo com o dissídio da categoria. "Eu e todos aqueles sentimos tipo uma honra, não o fato de ter uma indenização, é o fato de ter sido reconhecido perante a sociedade que você não era aquilo que os outros falaram", afirma Roberto Domingue. "É o reconhecimento do Estado do que fez com o movimento sindical, do que fez com o movimento popular, do que fez com uma camada de lutadores do país que foram simplesmente aleijados da vida política e perseguidos pelo regime", afirma Luiz Carlos Prates.
A direção da Embraer não quis comentar o assunto. Disse apenas que essa é uma questão do Ministério da Justiça com os ex-funcionários.