Empresas aéreas evitaram o espaço aéreo de Belarus nesta terça-feira, e em breve aviões bielorrussos podem ser barrados na Europa, o que poderia isolar o país sem saída para o mar, a não ser por sua fronteira com a Rússia, depois de este forçar o pouso de um avião de passageiros e prender um jornalista dissidente.
Um vídeo divulgado de madrugada mostrou Roman Protasevich, de 26 anos, confessando ter organizado manifestações antigoverno. No domingo, ele foi retirado do avião de passageiros, que foi obrigado a pousar na capital bielorrussa Minsk.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que o vídeo é perturbador, e a líder opositora exilada Sviatlana Tsikhanouskaya disse que ele não deixou dúvida de que Protasevich foi torturado.
"Ele disse que foi tratado legalmente, mas está claro que foi espancado e está sob pressão. Não há dúvida de que ele foi torturado. Ele foi feito de refém", disse ela em uma coletiva de imprensa em Vilnius, capital da Lituânia. Belarus não comentou a alegação de tortura, mas nega constantemente abusar de detidos.
Protasevich e um estudante de 23 anos que viajava com ele foram presos depois que seu voo da Ryanair foi escoltado por um avião de guerra bielorrusso, enquanto viajava da Grécia à Lituânia. Potências ocidentais repudiaram amplamente o incidente, e o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Jens Stoltenberg, o descreveu nesta terça-feira como um "sequestro estatal".
A mídia estatal bielorrussa noticiou que o próprio presidente, Alexander Lukashenko, ordenou que o voo fosse interceptado. Belarus diz ter reagido a uma ameaça de bomba que mais tarde se mostrou um alarme falso.
A Organização Internacional da Aviação Civil das Nações Unidas (OACI) diz que o incidente pode ter violado o tratado fundador da aviação civil internacional, a Convenção de Chicago de 1944.
Ao menos outras três pessoas desembarcaram em Minsk, que países ocidentais supõem serem espiões que ajudaram a coordenar uma operação para capturar Protasevich. Uma autoridade lituana disse à Reuters que os três passageiros eram dois cidadãos bielorrussos e um cidadão grego.
Na segunda-feira, a televisão estatal de Belarus exibiu entrevistas com o trio. Em uma cúpula na segunda-feira, líderes da União Europeia pediram que empresas aéreas sediadas no bloco de 27 membros suspendam voos sobre o espaço aéreo de Belarus. Lufthansa, KLM, SAS, Air France, LOT e Singapore Airlines estão entre as que anunciaram que não sobrevoarão mais o país.