Os Estados Unidos pousaram pela primeira vez um bombardeiro com capacidade nuclear na região considerada o "quintal" da Rússia, localizada acima do Círculo Polar Ártico, em uma provocação de força com o país.
O episódio ocorreu no domingo (07MAR2021), mas as primeiras informações começaram a circular durante a semana. Conhecido como "Cavaleiro das Trevas", o bombardeiro — aeronave militar projetada para atacar alvos terrestres principalmente com o lançamento de bombas — é do modelo B-1B e foi projetado na Guerra Fria. À época, o objetivo da aeronave era ser utilizada em missões de penetração na então União Soviética (URSS).
Nesta missão, a tripulação fez o chamado "pit-stop morno" no aeroporto de Bodø, no qual os motores são desligados e o avião é reabastecido em terra com a tripulação embarcada. O local de aterrissagem é considerado a rota mais curta para um ataque contra Moscou por conta da curvatura da Terra, e é visto como "quintal" por Moscou por ter forte presença militar do lado oposto da península que abriga Noruega e Suécia.
Além de rotas militares, as distâncias menores entre a Rússia e o Ocidente pelo polo Norte, o degelo do Ártico tem aberto caminhos comerciais marítimos. Com isso, há mais exploração de gás e petróleo.
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B-1B Lancer da 9th Expeditionary Bomb Squadron (EBS), na fase final de pouso, em difícil condição de visibilidade devido a forte nevasca, na Base de Ørland da Força Aérea da Noruega 08MAR2021. A Operação na Noruega da 9ª EBS é para demonstrar a capacidade de adaptar-se às condições locais em missões estratégicas globais – Foto – U.S. Air Force
Guerra Fria 2.0
Não é a primeira vez que aviões com capacidade de arremeçar bombas voaram pela região. No entanto, o pouso tem uma carga simbólica: um recado após o discursodo novo governo americano Joe Biden com críticas ao governo russo de Vladimir Putin.
Isso porque Biden fez discursos e tomou medidas contra Putin, acusando o governo russo de tentar matar o opositor Alexei Navalni e aplicando sanções a autoridades ligadas ao presidente russo. Por isso, sinais aparentemente pequenos, como o envio de um avião para uma base remota no Ártico, ganham importância como termômetro das disposições de lado a lado.
No mês passado, a Rússia enviou um návio de guerra, o Marechal Ustinov, pela primeira vez para o fiorde de Varanger, que marca a fronteira marítima com a Noruega —membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) , aliança militar liderada pelos EUA.
Desta forma, é possível ler o aceno a Putin como uma forma de asseverar independência em relação a Biden, que até aqui só sinalizou a manutenção da política de confronto com a China instituída pelo seu antecessor, Donald Trump.
Por este motivo, a "Guerra Fria 2.0" pode até mudar de tom, mas não de objetivo. Biden já deixou claro que considera a China o maior rival estratégico dos EUA, enquanto vê a Rússia como uma perigosa adversária, particularmente no campo militar. Na sexta-feira (12), Biden promoverá uma reunião virtual com seus aliados do Quad, o grupo militar que reúne EUA, Japão, Austrália e Índia, em oposição a Pequim. As tensões sino-americanas seguem em alta em pontos como o mar do Sul da China, que recebe B-1Bs com frequência.
B-1B Lancer da 9th Expeditionary Bomb Squadron (EBS), sendo reabastecido, na
Base de Ørland da Força Aérea da Noruega 08MAR2021. A Operação na Noruega
da 9ª EBS é para demonstrar a capacidade de adaptar-se às condições locais em
missões estratégicas globais – Foto – U.S. Air Force
Dois membros da 7ª Security Forces Squadron realizam defesa de perímetro de um B-1B Lancer na Base Aérea de Ørland Air Force Station, Noruega, 07MAr2021. Oito das Forças de Segurança integraram a 9ª Expeditionary Bomb Squadron em apoio a Bomber Task Force Europe para prover a Internal Security Response Team. Foto U.S. Air Force