Taíssa Stivanin
A retirada total das tropas americanas do Iraque, que ocorrerá até o final do mês segundo o presidente americano Barack Obama, pode aumentar a influência do Irã na região. Segundo especialistas, a presença americana representa uma segurança para os outros países do Golfo.
A retirada das tropas americanas, depois de nove anos, é um motivo de preocupação para as monarquias do Golfo que possuem diversos acordos de segurança com o país, estimam alguns analistas em entrevista à imprensa francesa. Para Abdel Aziz Sagr, diretor do centro de pesquisas do Golfo, o fim da presença americana no Iraque cria um vazio na região, e uma sensação de insegurança entre os aliados dos Estados Unidos. "Os americanos, por conta da sua capacidade militar, asseguravam a estabilidade da área", declara o especialista, que disse temer um "aumento das atividades militares e de espionagem do Irã no Iraque."
Segundo ele, o Irã não representa uma ameaça direta para o Iraque, mas poderia utilizar o país como uma base para ameaçar os países do Golfo. Principalmente porque a Árabia Saudita e a Turquia não têm nenhuma influência no Irã. Para o analista do Kuwait, Sami al-Nisf, a retirada americana acontece em circunstâncias difíceis e o conflito na Síria deve ter consequências diretas no Iraque. De acordo com ele, os Estados Unidos deveriam ter mantido algumas tropas no país, como fez depois da Segunda Guerra Mundial, na Alemanha e no Japão.
Outro aspecto importante, segundo ele, é que o Irã está perdendo seu aliado sírio, já que o regime de Bachar al-Assad está ameçado pelo movimento de contestação iniciado em março. A proximidade ideológica entre o governo iraquiano, formado na sua maioria por representantes xiitas, e o Irã, também facilita a aproximação entre os dois países.
Iraque defende regime sírio
Na segunda-feira, durante sua visita nos Estados Unidos, o primeiro-ministro iraquiano Nouri al-Maliki disse ser contra a saída de Bachar al-Assad do governo, como defendem os americanos. A tensão entre o Irã e os países árabes do Golfo aumentou depois da chegada em Bahrein de uma força regional de apoio à monarquia sunita, com o objetivo de reprimir o movimento de contestação dos xiitas, que são maioria no país.
As forças armadas americanas anunciaram a retirada total das tropas do Iraque até o final de 2011. Apenas 157 militares devem continuar no país além de 73 civis, que vão treinar as forças iraquianas. Mas o próprio comandante encarregado das tropas americanas no Iraque, Robert Caslen, admite que os iraquianos não estão preparados para a transição. Segundo o chefe das forças iraquianas, Babaker Zebari, o país é incapaz de executar suas próprias missões de defesa externa até meados de 2024.