Leonam dos Santos Guimarães
Doutor em engenharia naval e nuclear e
membro do Grupo Permanente de Assessoria em Energia Nuclear do
Diretor Geral da Agência Internacional de Energia Atômica
Os metais de terras raras incluem 17 elementos da tabela periódica de elementos químicos: Escândio, Ítrio, Lantânio, Cério, Praseodímio, Neodímio, Promécio, Samário, Európio, Gadolínio, Térbio, Disprósio, Hólmio, Érbio, Túlio, Itérbio e Lutécio. Muitas das novas tecnologias de energia renovável dependem de propriedades únicas de alguns desses materiais. Eles também são parte importante em tecnologias de defesa, tais como sistemas de radar e sonar, armas guiadas com precisão, mísseis de cruzeiro e lasers. Por exemplo, Praseodímio, Neodímio, Samário e Disprósio são usados em magnetos para geradores elétricos em turbinas eólicas e para motores elétricos de carros híbridos. Lantânio, Cério, Praseodímio e Neodímio são usados em baterias de carros elétricos. Monitores coloridos usados em computadores e celulares usam Lantânio, Cério, Európio, Térbio e Ítrio.
A demanda industrial para esses elementos é pequena em termos de volume, mas eles são essenciais para uma grande e crescente variedade de tecnologias de ponta. E a disponibilidade deles está em risco devido a sua localização, vulnerabilidade a crises da oferta e falta de substitutos adequados. Hoje, as tecnologias de energia renovável respondem por cerca de 20 por cento do consumo mundial de minerais de terras raras. É provável que a participação dessa nova indústria cresça significativamente nos próximos anos.
Os elementos de terras raras na verdade não são raros, uma vez que são encontrados em muitos países, incluindo Austrália, Argentina, Brasil, China, Índia, Malásia, Rússia e EUA. Mas eles são difíceis de extrair em volumes que tornem sua exploração economicamente viável (por isso são chamados de “raros”). A produção, portanto, tende a se concentrar em poucos lugares. Em 2010, mais de 97 por cento de minerais de terras raras foram produzidos na China, que detém 37% das reservas conhecidas. Os Estados Unidos, que detém 13% das reservas mundiais, atualmente não contribui para a produção global.
As tecnologias atuais para mineração e beneficiamento de terras raras produzem impactos ambientais severos sobre meio ambiente, como emissões para a atmosfera e infiltração de rejeitos para águas subterrâneas, tendo grande impacto social sobre os moradores locais. Essa “pegada ecológica”, muito distante dos usos finais “limpos”, tem crescido significativamente nos últimos anos com o aumento e concentração da produção.
Recentemente, a China consolidou sua indústria de terras raras e reduziu sua produção, estabelecendo quotas de exportação, numa tentativa de reter mais desses minerais para uso domésticos no futuro e também pretendendo “limpar” sua mineração, após inúmeras denúncias de danos ecológicos e sociais. O governo chinês anunciou no primeiro semestre de 2011, que vai reduzir suas quotas de exportação de minerais de terras raras em mais de 11% e que irá reduzir ainda mais o fornecimento em 2012.
O suprimento está se tornando limitado, ao mesmo tempo em que a demanda cresce. Em 2010, a demanda mundial para os principais minerais de terras raras foi de 125.000 toneladas e espera-se que suba até 225.000 até 2015. Como resultado, países como Argentina, Austrália e os EUA estão considerando a abertura ou reabertura de minas. Novas minas ajudarão a aliviar o problema da escassez, mas exigirão um investimento significativo, especialmente para prevenir os impactos ambientais resultantes da mineração e beneficiamento, e pode levar anos antes venham a produzir quantidades consideráveis.
Alguns governos tomaram rapidamente medidas para começar a enfrentar a potencial escassez. Nos Estados Unidos, por exemplo, vários projetos de lei foram introduzidos na Câmara dos Deputados para tratar da questão e o Departamento de Energia divulgou uma estratégia específica para tratar o problema. Essa estratégia pretende preencher lacunas no conhecimento sobre materiais críticos e definir ações para superar os riscos, incluindo a diversificação da cadeia de suprimento global, o desenvolvimento de materiais e tecnologias de substituição, e buscar maneiras de reciclar, aumentar a eficiência na utilização e reutilização desses elementos. As empresas japonesas começaram a assinar acordos com a Índia para o fornecimento de terras raras. A Toyota vai construir uma usina de processamento na Índia para garantir fontes de abastecimento fora da China.
No curto prazo, a escassez mundial de minerais de terras raras é uma questão emergente que pode muito bem afetar o desenvolvimento dessas novas tecnologias. Qualquer restrição na produção e fornecimento desses elementos pode ter conseqüências graves para a expansão das fontes de energia renovável eólica e solar. Isso afetaria a economia mundial, já que essas tecnologias são importantes para a criação de empregos, para promoção do crescimento econômico e no combate às mudanças climáticas. Afetaria também a segurança energética de países que vem baseando a expansão da oferta de seus sistemas elétricos nessas novas tecnologias.