O ministro do Exterior russo, Serguei Lavrov, alertou nesta sexta-feira (12/02) que a Rússia está disposta a romper as relações com a União Europeia (UE) se o bloco adotar sanções que ameacem a economia do seu país. A declaração foi feita em meio a crescentes tensões entre Bruxelas e Moscou devido à prisão do líder oposicionista russo Alexei Navalny.
"Não queremos nos isolar da vida mundial, mas devemos estar preparados para isso", sublinhou o ministro russo. "Se você quer paz, prepare-se para a guerra", acrescentou, durante uma entrevista à TV. Indagado sobre se Moscou está preparada para um rompimento com a UE, Lavrov respondeu: "Partimos do pressuposto de que estamos prontos por isso.''
Ele enfatizou a importância dos laços econômicos com as 27 nações da UE, acrescentando que a Rússia continuará empenhada em cooperação para benefício mútuo. Mas ressaltou que, ao mesmo tempo, a Rússia deve estar preparada para o pior e se basear cada vez mais em seus próprios recursos.
"Temos que conseguir isso na esfera econômica, se voltarmos a ver, como já vimos mais de uma vez, que as sanções impostas em algumas áreas criam riscos para a nossa economia, inclusive nas esferas mais sensíveis, como o fornecimento de peças e componentes", adicionou o ministro.
Expulsão de diplomatas
O comentário de Lavrov foi feito uma semana depois que a Rússia anunciou a expulsão de três diplomatas europeus, de Polônia, Alemanha e Suécia, por supostamente participarem nas manifestações pedindo a libertação do líder da oposição Alexei Navalny. O anúncio foi realizado durante a visita a Moscou do alto representante da UE para política externa, Josep Borrell.
Os três países da UE responderam expulsando, cada um, um diplomata russo. Borrell disse que pretende apresentar propostas para possíveis ações contra a Rússia durante a próxima reunião de ministros do Exterior do bloco, em 22 de fevereiro.
O líder da oposição russa, Alexei Navalny, foi preso em 17 de janeiro quando retornava a Moscou depois de cinco meses se recuperando na Alemanha, após ter sido vítima de um envenenamento que ele atribui ao Kremlin. A prisão provocou o protesto de governos da Europa e dos EUA.
Na semana passada, um tribunal de Moscou condenou Navalny a voltar para a cadeia para mais dois anos e oito meses de prisão, considerando que ele violou os termos de sua liberdade condicional enquanto estava em tratamento na Alemanha. A liberdade condicional é relacionada a uma sentença de 2014 que Navalny rejeitou como "fabricada" e o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos considerou ilegal.
A prisão de Navalny desencadeou uma série de manifestações em toda a Rússia, que atraíram dezenas de milhares de pessoas às ruas na maior onda de protestos no país em anos.
As autoridades responderam com uma repressão maciça, detendo cerca de 11 mil pessoas em toda a Rússia. Muitos manifestantes foram multados ou condenados a penas de prisão que variam de sete a 15 dias.
Os manifestantes pedem a libertação de Navalny e de outros detidos pelas autoridades russas. Vários países e organizações já pediram a libertação imediata do opositor russo.
O porta-voz da UE Peter Stano afirmou que o bloco está aberto a "cooperações para benefício mútuo sempre que o outro lado estiver disposto a tal cooperação ou tal diálogo", ponderando que a Rússia tem indicado que "não está realmente interessada em ir nesta direção".
A porta-voz do Ministério do Exterior da Alemanha Andrea Sasse descreveu o comentário de Lavrov como "realmente desconcertante e completamente incompreensível". Ela disse a repórteres em Berlim que o ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, deixou claras as queixas da Alemanha em relação ao Kremlin, mas também enfatizou que há interesse ''em cooperação com a Rússia''.