A Turquia, abandonada pelos Estados Unidos e alvo de críticas na reunião virtual de ministros de Relações Exteriores da OTAN, deve se preparar para receber uma onda de sanções econômicas americanas e europeias, afirmaram nesta quarta-feira (2) à AFP vários participantes.
A surpresa veio do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, que denunciou "violações" das regras da Aliança e da política aplicada pelo governo turco em várias crises regionais.
Pompeo foi "muito claro" em sua última reunião da OTAN ao pedir à Turquia que "voltasse ao comportamento de um aliado", observou um participante. "Sua intervenção foi muito curta, mas muito clara", disse outro.
O chefe da diplomacia norte-americana denunciou "o presente" dado pela Turquia à Rússia, com a compra de um sistema móvel de defesa antimísseis S400 "não interoperável com os sistemas da OTAN" e criticou uma atitude que “enfraquece a coesão da Aliança”.
Todas as decisões devem ser tomadas por unanimidade na OTAN.
Os comportamentos da Turquia foram denunciados na cúpula de Londres em 2019 pelo presidente da França, Emmanuel Macron, mas o presidente americano, Donald Trump, protegeu e defendeu o mandatário turco, Recep Tayyip Erdogan.
Pompeo classificou as ações da Turquia de "muito agressivas" em uma reunião com o presidente francês em 16 de novembro em Paris.
O relatório do discurso de Pompeo na reunião desta quarta-feira não menciona suas opiniões contra a Turquia.
Questionado pela AFP, um porta-voz americano não quis negar ou confirmar as declarações de uma reunião a portas fechadas.
O ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu, estava visivelmente "desconfortável", observou um dos participantes.
A dureza da intervenção de Mike Pompeo durante a videoconferência "desinibiu" os outros participantes e, pela primeira vez, múltiplas acusações foram feitas contra a Turquia.
"A Turquia é vista como um problema para a Aliança, o que foi negado até agora, e terá de ser resolvido", disse um funcionário da OTAN.
O problema turco
O chefe da diplomacia de Luxemburgo, Jean Asselborn, "lamentou que um estado aliado, a Turquia, estivesse diretamente envolvido no conflito de Nagorno Karabakh, facilitando a participação dos mercenários sírios".
"Insistimos em nossas posições em relação ao Alto Karabakh, no Mediterrâneo oriental, na Líbia e na intervenção ilegal contra nosso navio", disse o ministro turco em sua conta no Twitter.
Uma fragata da marinha alemã que participava da missão europeia 'Irini' interceptou um navio turco suspeito de violar o embargo de armas das Nações Unidas na Líbia em 20 de novembro.
Várias delegações consideraram que chegou o momento de sancionar as ações da Turquia.
Os Estados Unidos aprovaram sanções econômicas após a compra do sistema de defesa russo. Bloqueadas por Donald Trump, as medidas devem entrar em vigor mecanicamente assim que o presidente eleito Joe Biden tomar posse, em 20 de janeiro.
O Canadá, por sua vez, suspendeu as exportações de peças eletrônicas usadas pelo drône de combate TB2 da Turquia, usado para apoiar as forças do Azerbaijão durante o conflito em Nagorno Karabakh.
Os europeus devem decidir em uma cúpula em 10 de dezembro se outras medidas serão tomadas contra o comportamento da Turquia no Mediterrâneo oriental e as violações do embargo das Nações Unidas ao fornecimento de armas à Líbia.
A Comissão Europeia preparou um lote de opções que incluem sanções econômicas setoriais, que estão prontas para serem aplicadas.
A unanimidade é necessária para a implementação de sanções, e até agora a Alemanha bloqueou sua adoção na esperança de chegar a um acordo para "desenvolver uma relação realmente construtiva com a Turquia".
"Haverá decisões na cúpula, mas seu alcance ainda não foi decidido", disseram várias autoridades europeias à AFP. "Será necessário ver quais posições Alemanha e Polônia vão adotar", disse um ministro.