OS ATAQUES NA FRANÇA
André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos
Os ataques ocorridos em cidades francesas ao longo da última semana não são uma surpresa para as autoridades daquele país. Estes têm consciência de que a violência é um dos efeitos colaterais de uma política tradicional de acolhimento a grupos islâmicos em seu território e das condições sociais em que vivem.
Obviamente que a grande maioria da comunidade islâmica não é extremista, mas basta um pequeno número destes para acarretar em grandes estragos e causar tensão e medo na população.
Combater o extremismo religioso vem mostrando-se uma medida improdutiva a décadas, desde os atentados do 11 de Setembro. O próprio Departamento de Estado norte-americano admitiu recentemente esta condição com base em suas experiências no Iraque e Afeganistão, protagonista de uma longa guerra assimétrica de poucos resultados práticos e que não teria um fim, caso não tivessem se retirado. Para cada extremista neutralizado pelas forças militares ou policiais, outros surgem na defesa do que acreditam, com o mesmo ímpeto e em prazos relativamente curtos num ciclo interminável que se retroalimenta.
Sendo assim, se pode considerá-los como uma ameaça latente a espera de um ato ou episódio em que possam liberar toda a sua violência acumulada, caso das charges do profeta Maomé, exibidas em uma sala de aula na França, dando início a esta última série de ataques. Todo o extremista, quaisquer que sejam suas motivações é um indivíduo potencialmente perigoso, face a impossibilidade de mudar sua percepção de mundo.
Tratando-se de religião, o problema recrudesce, pois, ele possui uma fé exacerbada, acredita em suas convicções e atitudes de tal maneira que está disposto a dar sua própria vida, o que conhecemos como terrorismo suicida. E a ideologia, fortemente internalizada, de que é um defensor de sua crença, um guerreiro de Deus, dá maior relevância a suas ações, auxiliado pelo sensacionalismo dos meios de comunicação.
A condição de considerar pessoas de outros credos como infiéis, desumanizando-as, facilita este trabalho e afasta qualquer sentimento de culpa. Outro sério problema enfrentado pelos franceses e por outros países são os programas de aculturação para imigrantes e refugiados nestas condições. Na visão destes últimos, estão sendo submetidos a uma ocidentalização forçada. Na realidade, tais medidas governamentais são questões complexas pois acarretam um choque entre culturas, credos e valores que apresentam poucos pontos de interseção.
Pelos argumentos expostos acima e diante da sequência de fatos desde o ano de 2015, com o episódio do atentado a Revista Charlie Hebdo, considero impossível prevenir ataques de tal natureza, mesmo que se estabeleça um estado policial no país, o que em efeito contrário, provavelmente trará novas e maiores motivações a seus perpetuadores.
Talvez, se fosse considerado um crime comum, quando não vitimar um grupo de pessoas e com menor atenção da mídia, pudesse arrefecer o ímpeto dos extremistas, que já não teriam a atenção sobre suas ações.
Contudo, enquanto não há uma solução definitiva, o principal ponto desta conjuntura é: Quando, em que local e com que intensidade ocorrerá o próximo ataque. Uma realidade lamentável quando não catastrófica.
Nota do Editor – No mesmo momento da publicação desta matéria ocorria os atentados em Viena, Austria.