Um relatório sobre o funcionamento do programa químico sírio elaborado por duas ONGs revelou as "táticas" do governo para "evitar o acordo de desmantelamento de seu arsenal" e, desse modo, conservar sua "capacidade ofensiva", informou nesta terça-feira (20) o jornal Le Monde.
O jornal francês indicou que na segunda-feira "duas ONGs envolvidas no combate à impunidade no conflito sírio, Open Society Justice Initiative (OSJI) e Syrian Archive, entregaram a vários organismos de investigação nacionais e internacionais um relatório com uma precisão inédita sobre o funcionamento deste programa" de fabricação de armas químicas do governo de Damasco.
Os jornais Le Monde, Washington Post, Financial Times e o alemão Süddeutsche Zeitung obtiveram uma cópia exclusiva do relatório de 90 páginas e que é "o resultado de três anos de trabalho".
Segundo o jornal francês, este "revela como as autoridades de Damasco enganaram a Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), o órgão encarregado de desmantelar o arsenal químico sírio".
O relatório denuncia, segundo o Le Monde, que as autoridades sírias enganaram a OPAQ através da "transferência de uma parte de seu estoque de armas e de substâncias letais com bases da Guarda Republicana, a unidade de elite do regime", assim como com a "perseguição e prisão de funcionários considerados duvidosos" e com "a criação de uma filial secreta de importação de produtos usados em agentes neurotóxicos como o sarin".
Em agosto de 2013, um ataque químico, atribuído ao governo de Bashar al-Assad, provocou mais de 1.400 mortes em um enclave rebelde perto de Damasco, segundo denunciou o governo dos EUA.
O relatório foi realizado "a partir da análise de fontes abertas, da exploração de dados obtidos a partir de uma inspeção das Nações Unidas", além dos depoimentos de cerca de 50 funcionários sírios.
"Nosso relatório demonstra que a Síria ainda dispõe de um programa de armas químicas igualmente robusto", afirmou Steve Kostas, da OSJI, citado pelo Le Monde.