A conferência internacional sobre o Afeganistão começa nesta segunda-feira (05/12) em Bonn, no oeste da Alemanha, com um compromisso histórico: definir estratégias para consolidar os avanços do país nos últimos dez anos. Para isso, o consultor de segurança e ex-ministro do Exterior do Afeganistão, Rangin Dadfar Spanta, disse, em entrevista exclusiva à DW-WORLD, que espera o fechamento de parceiras duradouras principalmente no setor de segurança.
O encontro tem a participação de representantes de mais de 100 países e organizações internacionais. Em outro contexto, há 10 anos, uma conferência realizada na mesma cidade alemã selou o destino do Afeganistão com linhas de ação que repercutiriam em todo o mundo. Porém, o que mudou de lá para cá no país?
A chamada Conferência de Petersberg, que aconteceu no final de novembro de 2001, valeu para traçar um novo caminho para o Afeganistão, então recém-invadido pelos Estados Unidos e seus aliados. Sob extrema pressão das Nações Unidas, representantes de diferentes grupos sociais decidiram pela formação de um Estado democrático.
O chamado Acordo de Petersberg deveria conduzir o Afeganistão para um futuro melhor. O regime talibã deveria acabar de uma vez por todas e o Afeganistão nunca mais deveria colaborar com organizações terroristas internacionais, como a Al Qaeda.
"O grande dia para o Afeganistão"
O então chanceler federal alemão Gerhard Schröder falou, no final da Conferência de Bonn, em 5 de dezembro de 2001, sobre um grande dia para o Afeganistão.
"Depois de todos os anos de guerra, de terror, de necessidades e humilhações, as pessoas no Afeganistão recebem, acima de tudo, uma perspectiva concreta de paz e uma perspectiva de futuro econômico."
O plano para o recomeço previa uma constituição democrática, eleições parlamentares e presidenciais. A comunidade internacional deveria estar ao lado do Afeganistão com ajuda militar e financeira.
Após estes dez anos, as decisões do acordo foram cumpridas passo a passo. A esperada estabilidade e a revitalização do país, porém, ainda não foram alcançadas.
O poder dos senhores da guerra
O analista político afegão Sayfundin Sayhon critica a Conferência de Bonn, afirmando que "ela demorou a colocar as coisas nos trilhos". O medo teria feito surgir um vácuo de poder, que deu aos senhores da guerra um grande espaço de ação, trazendo consequências fatais.
"Os representantes de diferentes grupos militares dividiram entre si o Estado afegão com a bênção da comunidade internacional", diz Sayhon. Para ele, os senhores da guerra capitalizaram seus bolsos e nunca tiveram interesse em construir um Estado de direito democrático.
Hoje, dez anos depois do acordo, guerra, pobreza, tráfico de drogas e corrupção dominam a rotina dos afegãos. Os cerca de 150 mil soldados da tropa de apoio da ISAF, a polícia e o exército afegãos não conseguem garantir a segurança em todo o país. Os talibãs e seus aliados nunca estiveram tão fortes.
Intervenção sem conceito
O cientista político, especialista na região Sul da Ásia da Universidade de Duisburg, Jochen Hippler, diz que a situação caótica seria o resultado de uma intervenção militar sem planejamento.
"Não houve um verdadeiro conceito. Não houve clareza sobre o motivo pelo qual se deveria ir: se para democratização, luta contra o terror ou para a reconstrução de um país. Estas coisas foram listadas, mas não se fizeram esforços para desenvolver uma estratégia. Existe, há um ano, uma estratégia de forma aplicada", opina Hippler. Mas o que hoje é elogiado como estratégia é muito mais um cenário de recuo.
Após a retirada das tropas internacionais do Afeganistão, a partir de 2014, o governo afegão deverá ser o único responsável pela segurança no país. Em outras palavras, segundo Hippler, o Afeganistão está, 10 anos após o seu "recomeço", afastando-se mais de uma paz verdadeira.
Ensaio de progresso
Apesar de todos os problemas, existem histórias de sucesso no país. "O Afeganistão tem mostrado progressos claros nas áreas de telecomunicações, educação e infra-estrutura. E o que é mais importante: os talibãs não estão mais no governo no nosso país", destaca Sayhon.
Além disso, a lei garante liberdade de imprensa, apesar de todos os problemas para se promover a diversidade de mídia, que nunca existiu no país. Estas realizações ainda estão baseadas em bases muito inseguras. Para Sayhon, por exemplo, sem ajuda massiva do exterior, poucos setores no Afeganistão têm capacidade de sobreviver.
Autor: Ratbil Shamel / Marcio Pessôa
Revisão: Roselaine Wandscheer