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Envolvimento russo na Síria expõe miopia estratégica de Putin

No final de setembro de 2015, a Guarda Revolucionária Iraniana e seus aliados, os combatentes libaneses do Hisbolá, estavam no final de seu fôlego no apoio ao regime de Assad e suas forças, que travavam uma batalha cada vez mais perdida contra islâmicos de todos os tipos, apoiados por várias potências regionais – Turquia, Arábia Saudita, Catar – e também contra combatentes curdos sírios. O Kremlin deu a Assad e aos iranianos o que lhes faltava: cobertura aérea maciça. Os pilotos russos foram logo seguidos por fuzileiros navais, conselheiros militares e mercenários da chamada empresa privada militar Wagner.

Hoje, parece que ninguém mais pode desalojar Assad. Vladimir Putin expandiu e modernizou as estações navais russas da era soviética nas cidades mediterrâneas de Latakia e Tartus, transformando-as em bases. Mas para a Rússia, que não foi, não é e não será uma potência naval global, esta provavelmente não é a aquisição mais importante. Não está totalmente claro quais benefícios o regime russo obteve com a exploração dos recursos naturais da Síria, mas a proteção do grupo Wagner supostamente se estende aos recursos naturais e às refinarias de petróleo, o que diz muito.

No entanto, a principal razão para o envolvimento do Kremlin na Síria tem sido a mesma de sempre – continuar uma resistência global contra os Estados Unidos, a qual Putin lançou com seu discurso beligerante na Conferência de Segurança de Munique de 2007. O pesadelo recorrente da elite russa é que os EUA, com seu zelo missionário em democratizar o mundo (um tanto enfraquecido pelas políticas de desligamento, primeiro de Barack Obama e depois de Donald Trump), ainda sejam vistos como a principal ameaça pelo Kremlin. Manter os EUA à distância do espaço pós-soviético e apoiar regimes antiocidentais em todo o mundo são os pilares do que se passa por política externa e de segurança russa sob Putin.

 

Nisso, a Síria em 2015 é a continuação da Geórgia em 2008, Ucrânia em 2014, Montenegro em 2016 (onde Moscou tentou organizar um golpe de Estado para impedir o país de aderir à Otan) e Venezuela em 2019 (onde o Kremlin está firmemente apoiando Nicolás Maduro). Belarus em 2020, onde o Kremlin se aliou ao presidente Alexander Lukashenko contra seu próprio povo, agora está na mesma categoria. Putin leva muito a sério seu papel de defensor das ditaduras em todo o mundo. Em sua opinião, isso faz com que os EUA o respeitem, ou mesmo o temam.

Mas para os interesses nacionais de longo prazo da Rússia, assegurar o poder de Assad é um ganho duvidoso, se é que é um ganho. Moscou agora está firmemente ligada ao destino do regime sírio e, de forma ainda mais precária, dos patronos iranianos de Assad. Isso está acontecendo em uma era de mudanças dramáticas na região. A normalização das relações de Israel com os Emirados Árabes Unidos e Bahrein, alcançada com a mediação de Washington, marca uma mudança histórica na política regional. Esta é uma surpresa extremamente desagradável não apenas para os mulás em Teerã, mas também para o Kremlin. A crença prematura no declínio da influência americana no Oriente Médio e na inevitabilidade da hegemonia iraniana pregou uma peça em ambos.

Se Sudão, Omã e Arábia Saudita seguirem o exemplo dos Emirados Árabes Unidos e Bahrein, o regime iraniano enfrentará tempos difíceis – até mesmo o colapso do regime pode estar em jogo em breve. Sem o apoio de Teerã, Assad ficará muito vulnerável. Além disso, em tais circunstâncias, seu desejo de estender a mão para Washington e Riad pode então se tornar irresistível. A Rússia não tem como evitar isso, e sua presença militar na Síria se tornará facilmente uma moeda de troca nos jogos políticos de Assad.

A miopia estratégica de Putin também se manifestou nas relações com outro ator regional: a Turquia. O entendimento informal sobre a Síria que ele alcançou em 2015-2016 com o presidente Recep Tayyip Erdogan foi severamente minado. Cinco anos atrás, o Kremlin pensava que estava "removendo" o flanco sul da Otan ao cortejar Ancara. Hoje, no entanto, Erdogan financia parte das forças anti-Assad na Síria, juntou-se à luta contra o marechal de campo Khalifa Haftar, cliente do Kremlin, na Líbia, e agora também apoia o Azerbaijão em suas operações militares contra a Armênia – um dos aliados das mais confiáveis e próximos de Moscou.

Cinco anos depois que os primeiros caças MiG russos apareceram nos céus da Síria, a resposta à pergunta "O que a guerra de Putin deu aos russos?" é simples: nada. O povo sente isso e quer cada vez mais que o Kremlin se retire de lá. O prestígio pessoal de Putin acabou se tornando diferente dos interesses nacionais da Rússia. Aqueles que vierem depois dele terão que redefini-los.

* Konstantin Eggert é colunista da DW.

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