Liana Melo
O petróleo do pré-sal vai fazer o Brasil subir de posição no indesejado ranking dos maiores poluidores globais. O país, que estava na sexta posição, vai passar a ocupar a terceiro lugar, perdendo apenas para China e Estados Unidos. A projeção de triplicar a produção de petróleo, como prevê o Plano Decenal de Energia 2011-2020, vai jogar na atmosfera mais 955,82 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2 eq). É o correspondente às emissões de gases de efeito estufa – aquele responsável pelas mudanças climáticas – de 5,7 bilhões de viagens na ponte aérea, entre o trecho Rio e São Paulo. Em 2015, a produção do pré-sal estará começando a ganhar peso, com 543 mil barris diários, de um total de três milhões, segundo a Petrobras. Em 2020, terá saltado para 1,9 milhão barris/dia, de um total de 4,9 milhões.
– Estamos ganhando um cartão de milhagem de um grande emissor e não de um viajando feliz – ironiza Sérgio Leitão, diretor de Campanha do Greenpeace, avaliando que o país estaria abrindo um "atalho errado", já que a previsão é o pré-sal ser responsável por 54% da produção nacional em 2020. – A exploração do pré-sal vai destampar uma enorme reserva de carbono. Uma verdadeira bomba.
Gases do efeito estufa podem aumentar 197%
Pelos cálculos do Greenpeace – autor do levantamento "O carbono do petróleo é nosso" – o pré-sal vai aumentar as emissões em 197% nos próximos oito anos. Esse volume, incluindo a produção, a queima, a logística e o refino, vai neutralizar o ganho conquistado, com esforço do próprio governo, de reduzir o desmatamento, considerado hoje o maior telhado de vidro do Brasil nas negociações internacionais de clima.
Os últimos dados comprovam a tendência declinante do desmatamento. O Sistema de Alerta do Desmatamento, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), registrou redução de 33% em relação a 2010.
– É como se estivéssemos melhorando em português e piorando em matemática – compara Leitão.
Ao entrar para o clube dos grandes poluidores, o Brasil estaria ascendendo três casas no ranking dos países emissores. Pesquisa divulgada na última sexta-feira durante a 17ª Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas (COP-17), que está ocorrendo em Durban, na África do Sul, o Brasil ocupa hoje a sexta posição. Os primeiros colocados são China, Estados Unidos, Índia, Rússia e Japão, seguidos do Brasil, Alemanha, Canadá, México e Irã. Juntos, os cinco primeiros são responsáveis por metade das emissões de gases de efeito estufa. As emissões do Brasil estão na ordem de 2,4 bilhões de toneladas de CO2.
Amanhã, o Greenpeace se reúne com o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella. Representantes da entidade vão discutir a necessidade de se decretar uma moratória da exploração de petróleo nos arredores do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, no Sul da Bahia. E aproveitam para entregar o estudo sobre as emissões de gases da indústria do petróleo.
Petrobras diz que vai conter emissões do pré-sal
Procurada, a Petrobras respondeu, em nota, que "as plantas de processo do pré-sal estão capacitadas para tratar, separar e reinjetar o CO2 produzido no gás natural". Explicou ainda que "a reinjeção do gás será no próprio reservatório produtor ou em aquíferos salinos para armazenamento geológico". A Petrobras garante que "não haverá liberação para atmosfera do CO2 existente nos reservatórios do pré-sal".
A empresa admite que não existem "estudos conclusivos" sobre a concentração de CO2 na região do pré-sal. Mas alerta que alguns poços já demonstraram concentrações de CO2 acima do encontrado na Bacia de Campos. Outros apresentaram concentrações perto de zero.
Num período de um ano, de setembro de 2010 a agosto último, as cinco principais bacias petrolíferas do país – que incluem Campos, Potiguar, Solimões, Sergipe e Recôncavo – emitiram 321,474 milhões de toneladas de CO2. Pelos cálculos do Greenpeace, esse volume corresponde a 13,39% das emissões globais do país.
A Petrobras garantiu que "está comprometida a não liberar para a atmosfera o CO2 associado ao gás natural da camada pré-sal". Disse ainda que, com a entrada em operação do navio-plataforma Angra dos Reis, na Bacia de Santos, estão sendo reinjetadas 220 toneladas por dia de CO2 no reservatório produtor".