O chefe do exército do Paquistão, Ashfaq Parvez Kiyani, afirmou que suas tropas vão responder "com toda sua força" se voltarem a ser atacadas pela Otan, como na operação que há poucos dias matou 24 de seus soldados, informou nesta sexta-feira a imprensa local.
Em mensagem dirigida à tropa, Kiyani disse que em tais circunstâncias os militares não vão "levar em conta os custos nem as consequências".
"Não vamos deixar o agressor escapar facilmente", garantiu o general no texto, publicado pelo jornal paquistanês "Dawn".
As tropas paquistanesas afirmam que não houve provocação prévia ao ataque realizado pelos helicópteros da Otan no dia 26 de novembro contra dois postos de controle da região tribal de Mohmand – na fronteira com o Afeganistão – ocupados por soldados do Paquistão.
Algumas fontes afegãs e estrangeiras declararam que os militares paquistaneses atacaram primeiro, o que motivou as tropas afegãs e americanas a pedirem reforço dos helicópteros. O episódio deixou ao menos 24 militares paquistaneses mortos e nenhuma baixa no lado aliado e afegão.
O Paquistão insinuou que o ataque foi deliberado – o que foi negado pela Otan – e, como represália, fechou a fronteira às provisões da Otan ao Afeganistão, e ordenou que os Estados Unidos desocupem uma base aérea usada por seus aviões não tripulados.
O governo paquistanês também boicotou a conferência internacional sobre o futuro do Afeganistão que será realizada no próximo dia 5 em Bonn (Alemanha).
A relação entre Islamabad e Washington foi abalada após a operação americana realizada em maio na cidade paquistanesa de Abbottabad e que culminou com a morte de Osama bin Laden.
Paquistão autorizou bombardeio letal da Otan, diz jornal
(Reuters)
Autoridades do Paquistão autorizaram o bombardeio aéreo da Otan que matou 24 soldados paquistaneses, disse o Wall Street Journal nesta sexta-feira, citando fontes oficiais norte-americanas.
Segundo esse relato, as autoridades paquistanesas desconheciam a presença dos seus soldados na região bombardeada, que fica na fronteira com o Afeganistão. O incidente, no sábado passado, abriu uma crise entre os dois países, levando o Paquistão a ameaçar pôr fim à sua colaboração com os EUA na "guerra ao terrorismo".
O relato publicado no site do Journal é a primeira explicação detalhada dos EUA a respeito do incidente de "fogo amigo", o mais grave desse tipo em dez anos de guerra na região. De acordo com as fontes, um contingente formado por afegãos e norte-americanos perseguia militantes do Taliban quando foi alvejado a partir de um acampamento localizado na fronteira.
Os soldados dos EUA envolvidos na missão acharam que o ataque partia de militantes, mas na verdade eram soldados paquistaneses que haviam estabelecido um acampamento temporário, contaram as fontes. Os soldados dos EUA teriam então pedido apoio aéreo, e foi estabelecido um contato com o centro conjunto de controle fronteiriço, a fim de determinar se havia militares paquistaneses na região.
O centro de controle fronteiriço tem representantes dos EUA, Afeganistão e Paquistão.
O funcionário que falou ao Journal disse que a operação na região da fronteira não havia sido informada de antemão ao centro, mas que, contatados, os representantes paquistaneses disseram não haver soldados seus operando na região apontada como suposta origem do ataque aos soldados, e que por isso foi dado o aval ao bombardeio.
Washington qualificou o caso como um trágico acidente, prometeu uma investigação plena e ofereceu condolências pelos mortos, mas sem pedir desculpas.
Uma fonte do Journal disse que houve "muitos erros" na operação.
Ainda segundo o Journal, as autoridades dos EUA no passado tinham restrições a notificar os paquistaneses sobre suas operações, temendo que houvesse vazamento das informações.
A reportagem alerta que o relato tem caráter preliminar e se baseia em entrevistas com militares envolvidos. Um relatório mais formal sobre o incidente deve ser concluído por investigadores militares dos EUA até 23 de dezembro.