Tenente Lauro de Moraes
Em clima de alegria e gratidão, foi concluída a segunda fase da Missão Xavante, realizada de 3 a 9 de agosto. Com a Dança de Aruanã, ritual típico da etnia Karajá, militares e indígenas celebraram o sucesso dos trabalhos em quatro aldeias situadas na divisa entre o Mato Grosso e o Tocantins.
“Quando a comunidade soube que haveria esse atendimento médico aqui, todos ficaram muito alegres. Estamos muito agradecidos”, declarou Waxio Karajá, cacique da aldeia de Fontoura.Essa etapa abrangeu comunidades com população de cerca de 2,5 mil indígenas.
Ao todo, foram 1,4 mil procedimentos entre triagens, testes rápidos de Covid-19 e consultas médicas com clínicos gerais, pediatras e ginecologistas/obstetras. “É recompensador proporcionar a promoção da saúde a essa população. Ao mesmo tempo, foi uma incursão cultural muito rica”, concluiu a enfermeira da Força Aérea Brasileira, 1º Tenente Bianca Rafaela Correia.
O atendimento médico nas terras indígenas busca apoiar os governos locais. O esforço conjunto envolve equipes da Secretaria Especial de Saúde Indígena e militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Os profissionais de saúde também atuaram no diagnóstico e no tratamento de outras questões de saúde que afetam os indígenas.
A FUNAI disponibilizou mil cestas básicas para as comunidades e o Ministério da Saúde enviou uma tonelada de suprimentos médicos, com medicamentos, equipamentos de proteção individual (EPIs) e testes para Covid-19.
Os profissionais orientaram sobre isolamento social e distribuíram EPIs. “Isso favoreceu a nossa aproximação. Foi uma experiência incrível”, relatou o 3º Sargento William dos Santos, técnico de enfermagem que atua na Casa Gerontológica Brigadeiro Eduardo Gomes (CGABEG), no Rio de Janeiro, e participou como voluntário pela Aeronáutica.
Ilha do Bananal
O Polo São Félix do Araguaia, do Distrito Sanitário Especial Indígena Araguaia (DSEI Araguaia), é responsável por cerca de 6 mil indígenas. Vivem na região indígenas de sete etnias, entre eles, os Karajás. A Ilha do Bananal, maior ilha fluvial do mundo, com cerca de 20 mil quilômetros quadrados, é sustento e refúgio para a maioria das comunidades.
É nessa Ilha, no encontro entre os rios Araguaia e Tapirapé, que os Karajás da aldeia Ixala se isolaram em virtude da pandemia da Covid-19. “Montamos até acampamento do outro lado da ilha, para isolar as pessoas com o novo coronavírus. Um dos nossos chegou a levar toda a família”, conta Hawakate Karajá, líder local.
Ixala é um dos quatro povoados indígenas atendidos durante a segunda fase da Missão Xavante. Os outros são Santa Isabel, Fontoura e Macaúba. “ Agradeço essa presença”, ressaltou Juanahu Karajá, cacique em Santa Isabel.
Logística avançada
Os militares das Forças Armadas venceram longas distâncias para chegar às terras indígenas. Além de deslocamentos por terra, em regiões de difícil acesso, embarcações da Marinha percorreram 428 quilômetros por rios da bacia do Araguaia. Em 15 horas de voo, um helicóptero HM-3 Cougar, do Exército, também foi empregado, tanto no transporte de cargas quanto das equipes de saúde. “É um trabalho árduo, que exige muito esforço e atenção do piloto e da tripulação, mas é muito gratificante”, disse o piloto do 2º Batalhão de Aviação do Exército, Capitão Conrado Roberto de Arruda.
Todas essas atividades foram coordenadas pelo Comando Conjunto Planalto. “Verificamos as necessidades e carências dessas comunidades. E a gente percebe a felicidade e a vontade de nos receber. É importante essa relação, afinal, somos um povo só, somos todos brasileiros”, destacou o Comandante do 22º Batalhão de Infantaria, de Palmas, Tocantins, Coronel Carlos Gabriel Brusch Nascimento.
“Os indígenas da etnia Karaja são excepcionais, receptivos. Não estavam no planejamento inicial e acreditamos que essa será uma das maiores ações da operação”, afirmou Carlos Colares, assessor técnico da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI).
No sábado (08), foi incluída na programação uma Ação Cívico Social (ACISO) em benefício da população de São Félix do Araguaia, onde a segunda fase ficou baseada. O município tem carência de especialistas na área médica.
“A gente sonhava com esse momento, de ter um atendimento médico especializado com profissionais das Forças Armadas, que, quando vêm aqui, além de ações positivas, trazem entusiasmo e esperança para a comunidade”, afirmou a prefeita Janailza Taveira.
Em função da extensa área de abrangência populacional e territorial, a Missão Xavante de apoio às comunidades indígenas do Centro-Oeste do País foi dividida em três fases. A próxima e última etapa ocorre de 10 a 16 de agosto, na área do Polo Base Sangradouro, no estado do Mato Grosso.
Fotos: 2° Sgt Pires – Batalhão de Polícia do Exército de Brasília