Depois de um balde de água fria na quarta-feira (27/05), quando o lançamento da cápsula Crew Dragon para o espaço precisou ser adiado por conta do mau tempo, no sábado, 30 de maio, a primeira missão tripulada saindo dos Estados Unidos desde 2011 chegou ao espaço.
Trata-se também de uma parceria inédita entre a Nasa, a agência espacial americana, e a empresa SpaceX, do bilionário Elon Musk.
A apenas 16 minutos da decolagem da espaçonave na quarta-feira, controladores de voo interromperam o lançamento por condições atmosféricas desfavoráveis, deixando convidados especiais como o presidente americano, Donald Trump, e sua esposa, Melania, e o vice-presidente, Mike Pence, frustrados no Centro Espacial Kennedy, na Flórida.
A próxima tentativa de lançamento foi marcada para o sábado seguinte, e se o tempo não colaborasse, para domingo. Mas o foguete da empresa de Musk foi lançado com sucesso às 15h22m (horário local) de sábado.
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Como grande parte do planeta, o lançamento para o espaço também foi afetado pela pandemia de coronavírus — o público foi aconselhado a não se aglomerar perto do complexo Kennedy, e o número de convidados da Nasa para o evento na quarta-feira foi restrito.
Para a SpaceX, foi a primeira vez que um veículo espacial levou astronautas — dois, Bob Behnken e Doug Hurley — a bordo. Para a Nasa, foi o primeiro passo de uma transição planejada nos últimos anos, delegando a empresas privadas o transporte de seus astronautas para o espaço.
O destino da missão era a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), onde o Crew Dragon chegaria cerca de 20 horas depois do lançamento da espaçonave, acoplada a um foguete Falcon 9.
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Além de marcar uma mudança para a comercialização do transporte espacial de pessoas — com empresas vendendo "corridas" para governos ou quem desejar comprar o serviço —, o lançamento é visto como importante para recuperar o prestígio dos EUA na exploração espacial.
Desde 2011, a Nasa tem pagado dezenas de milhões de dólares à Rússia por assento para cada um de seus astronautas serem transportados na espaçonave Soyuz, lançada no Cazaquistão. E isso começou com uma tragédia.
Na volta à Terra, morte de sete astronautas em 2003
Em fevereiro de 2003, o ônibus espacial Columbia se desintegrou e explodiu ao entrar de volta na atmosfera da Terra, matando toda a tripulação de sete astronautas.
O desastre levou a uma mudança dramática no programa espacial americano.
Em janeiro de 2004, o então presidente George W. Bush anunciou que seus ônibus espaciais seriam aposentados após a conclusão de missões americanas na Estação Espacial Internacional.
No ano seguinte, o diretor da Nasa Mike Griffin anunciou que, após esta etapa conclusiva na Estação Internacional, a agência abriria oportunidades comerciais para transporte de astronautas e carga para o espaço através do seu projeto Commercial Crew & Cargo Program Office (C3PO).
Com isso, a Nasa poderia concentrar seus investimentos em novas missões para a Lua e Marte.
No entanto, com a chegada de Barack Obama à presidência em 2008, os planos americanos para o espaço foram revistos, com o objetivo de voltar à Lua cancelado, por exemplo. A comercialização do transporte, porém, continuou a ter apoio.
Várias empresas se candidataram a participar do projeto C3PO, mas a Nasa ficou com duas, a SpaceX e a Boeing. Desde 2014, as empresas vêm refinando e testando seus projetos, supervisionados pela Nasa.
Houve obstáculos no caminho: em 2016, um foguete Falcon 9 explodiu na plataforma de lançamento. Em 2019, uma cápsula do Crew Dragon explodiu durante testes. Ninguém morreu nestes dois episódios envolvendo máquinas da SpaceX.
Contratempos e obstáculos atrasaram para maio de 2020 o plano inicial da SpaceX de transportar astronautas para o espaço em 2016.
No ano passado, a SpaceX fez um lançamento bem sucedido da Crew Dragon sem tripulação — mas com um manequim, chamado Ripley. Com procedimentos automáticos, a cápsula se aproximou e atracou com sucesso na estação espacial.
Agora, a SpaceX deve levar adiante outras seis missões "operacionais" até a estação espacial que fazem parte do contrato de US$ 2,6 bilhões (quase R$ 14 bilhões) com a Nasa.
A Boeing também tem um contrato parecido, estimado em US$ 4,2 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões) para levar tripulantes à estação espacial usando seu veículo CST-100 Starliner.
A SpaceX e Boeing podem vender seus serviços para outras agências espaciais e empresas.
Os planos de Elon Musk por trás da SpaceX
Nascido na África do Sul, o empresário Elon Musk ganhou mais de US$ 160 milhões (quase R$ 855 milhões, em valores do câmbio atual) na venda do serviço de pagamentos online PayPal para o eBay.
Musk também tem participação em diversas outras empresas, como a fabricante de carros elétricos Tesla.
Em 2002, ele fundou a SpaceX com o objetivo de reduzir custos de transporte aéreo e também para viabilizar a colonização de Marte.
A SpaceX foi a primeira empresa privada a conseguir fazer retornar à Terra componentes de foguetes a fim de serem reutilizados, e não descartados. Ela tem feito transportes regulares de carga para a Estação Espacial Internacional, e agora foi a vez de astronautas.
A Crew Dragon foi projetada para levar até sete pessoas, mas a Nasa pretende levar no máximo quatro astronautas nas missões, e usar o resto do espaço com suprimentos.
Espaçonaves projetadas para transportar astronautas passam por inúmeros testes de segurança, e o lançamento de 30 de maio serviu como uma prova final desse processo de validação.
Uma vez em órbita, Bob Behnken e Doug Hurley vão testar sistemas de controle, telas e propulsores de manobra da Crew Dragon. Chegando à Estação Espacial Internacional, testarão o sistema de acoplamento automático, passando então a fazer parte da tripulação da ISS por alguns meses.
Na volta à Terra, a espaçonave deve pousar de paraquedas no oceano Atlântico, até ser resgatada pelo navio Go Navigator.
Behnken e Hurley são astronautas da Nasa desde 2000 e já foram ao espaço duas vezes em ônibus espaciais. Eles estão entre os astronautas mais experientes da agência espacial — Hurley já passou 28 dias e 11 horas no espaço, e Behnken acumula 29 dias e 12 horas, incluindo 37 horas de caminhada espacial (fora do veículo ou da estação). Ambos são casados com astronautas.