A pandemia do novo coronavírus já causou mais de 140.000 mortes em todo o mundo, em um momento em que os países ocidentais, encabeçados pelos Estados Unidos, lidam com a hipótese de que o vírus procede de um laboratório chinês, e não de um mercado de animais.
Dos 2,1 milhões de infectados em todo o mundo desde que o vírus apareceu na China, em dezembro, metade está na Europa e das 140.092 mortes por COVID-19, mais de 92.000 ou dois terços são registradas neste continente, de acordo com o último balanço da AFP desta quinta-feira.Mais de 4,4 bilhões de pessoas, quase 57% da população mundial, estão confinadas.
O Reino Unido e Nova York, epicentro da epidemia nos EUA, prorrogaram as medidas de restrição, enquanto Espanha, Dinamarca, Itália e Áustria começaram com uma tímida reabertura de alguns setores, que em breve será seguida por França e a Alemanha.
Em uma medida que pode aumentar as tensões com a China, o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, informou à Fox News sobre uma "investigação incansável" sobre como o vírus "se propagou, contaminou o mundo e provocou essa tragédia", deixando no ar que o patógeno poderia ter surgido em um laboratório na cidade chinesa de Wuhan.
Perguntas difíceis
O Reino Unido alertou que a China terá que responder "perguntas difíceis" sobre o surgimento do vírus e "por que ele não pôde ser detido antes".
"Não há dúvida de que não podemos continuar como se nada tivesse acontecido", disse o ministro das Relações Exteriores, Dominic Raab.
"Não tenhamos essa espécie de inocência que consiste em dizer que foi muito mais forte", afirmou, em alusão à forma como a China gerenciou a epidemia de COVID-19, disse o presidente da França, Emmanuel Macron.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse que a hipótese de que o vírus surgiu de um laboratório "não tem base científica".
Em conversa por telefone com Xi Jinping, o presidente russo Vladimir Putin classificou essas acusações contra Pequim de "improdutivas", segundo comunicado emitido pelo Kremlin.
Nesta quinta-feira, o presidente americano, Donald Trump, que anunciou a suspensão da contribuição dos Estados Unidos à Organização Mundial da Saúde (OMS) ao alegar "má gestão" da pandemia e iniciativa a favor da China, foi o anfitrião de uma videoconferência com os outros líderes dos Estados do G7 – formado por Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido – na qual, de acordo com o governo americano, foi acordada uma "profunda revisão e reforma" da organização.
"No olho do furacão"
Os Estados Unidos são atualmente o país onde a doença se alastra mais rápido no mundo e nesta quinta chegou aos 31.590 mortos e com quase 650.000 casos, seguidos da Itália, com 22.170 mortos; Espanha, com 19.130 falecimentos, e da França, com quase 18.000 mortes.
O número de mortes na Espanha em 24 horas aumentou novamente nesta quinta-feira, com 551 mortes, incluindo a do escritor chileno Luis Sepúlveda, forçado ao exílio durante a ditadura de Pinochet e um celebrado escritor latino-americano, que morreu aos 70 anos em Oviedo depois de um mês e meio hospitalizado com COVID-19.
A OMS lembrou à Europa que o continente ainda está "no olho do furacão" e pediu que "não baixe a guarda" até ter certeza de que o vírus está sob controle.
Espanha, Dinamarca, Itália e Áustria começaram uma reabertura tímida de alguns setores de sua economia e na educação.
A Alemanha se prepara para um retorno progressivo às aulas a partir de 4 de maio e na próxima semana também testará a reabertura de pequenas lojas, mas grandes concentrações serão proibidas até o final de agosto.
"O céu tempestuoso dessa pandemia ainda pesa sobre a região. As próximas semanas serão cruciais para a Europa", alertou o diretor da seção europeia da OMS, Hans Kluge.
Kluge garantiu que "os fracos sinais positivos observados em alguns países são temperados por números constantes ou crescentes em outros", como Reino Unido, Turquia, Ucrânia, Bielorrússia e Rússia.
O Reino Unido, que registrou 861 mortes nas últimas 24 horas e ultrapassou um acumulado de 13.700, estendeu nesta quinta-feira por "pelo menos três semanas" o confinamento estabelecido em 23 de março.
EUA investigam se coronavírus saiu de laboratório em Wuhan
O governo dos Estados Unidos não parece excluir a hipótese de que o novo coronavírus, que originou uma pandemia com mais de 137.000 mortos no mundo, possa ter vindo de um laboratório na cidade chinesa de Wuhan, e pediu uma "investigação" para saber sobre sua origem.
"Estamos conduzindo uma investigação exaustiva sobre tudo o que podemos saber sobre como vírus se propagou, contaminou o mundo e causou essa tragédia", declarou o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, no canal Fox News.
Pompeo foi questionado, na quarta-feira, sobre um artigo do Washington Post que alegava que a embaixada dos EUA em Pequim alertou ao Departamento de Estado há dois anos sobre medidas de segurança insuficientes em um laboratório de Wuhan, que estudava o coronavírus nos morcegos.
Também foi questionado sobre informações da Fox News, segundo as quais "várias fontes" pensam que o atual coronavírus, detectado pela primeira vez justamente em Wuhan em dezembro, saiu desse laboratório – embora fosse um vírus natural e não um patógeno criado pelos chineses. Segundo elas, a "fuga" do vírus teria sido possível devido a protocolos de segurança ruins.
Pompeo não negou nenhuma dessas informações.
Também questionado na quarta-feira durante sua coletiva de imprensa diária sobre a crise de saúde, o presidente Donald Trump se mostrou evasivo.
"Posso dizer que cada vez mais estamos conhecendo um pouco mais desta história. Vamos ver", respondeu Trump, afirmando que essa "situação horrível" deve ser objeto de um "teste muito profundo".
Mas se negou a dizer se abordou o assunto do laboratório com seu colega chinês, Xi Jinping.
De acordo com especialistas até agora, o novo coronavírus apareceu no final de 2019 em um mercado de Wuhan onde animais exóticos, como morcegos, são vendidos vivos. O vírus de origem animal poderia ter mutado e transmitido ao ser humano.
A tese divulgada pela Fox News, no entanto, é um pouco diferente.
Sem confirmá-la, o secretário de Estado disse: "O que sabemos é que este vírus nasceu em Wuhan, China". "O que sabemos é que o Instituto de virologia de Wuhan está a alguns poucos quilômetros do mercado", insistiu.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, rechaçou a notícia da Fox News, alegando que a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou que não há evidências de que o vírus tenha sido produzido em laboratório.
"Muitos especialistas médicos conhecidos no mundo também acreditam que a suposta hipótese sobre um vazamento de laboratório não tem base científica", afirmou em entrevista coletiva.