FABIO COSTA PEREIRA
Durante toda a infância a Dona Regina, a minha avó materna, quando queria ensinar as primeiras lições de economia para os seus netos, sempre repetia: “nunca coloque todos seus os ovos na mesma cesta”.
O básico princípio por de trás do ensinamento era, tal como na cesta que cai e quebra os ovos ali depositados, investir tudo o que se tem em um único ativo é por demais arriscado. Se as coisas correrem mal e o investimento feito virar pó, não haverá para onde correr.
O caso da pandemia provocada pelo Conavid-19 retrata, de determinada forma, o quanto buscava demonstrar a minha avó com a sua simples lição.
Países ao redor do mundo, em especial as grandes economias, em tempos de mundo globalizado, diante das vantagens propostas pela China, desde incentivos econômicos até a mão-de-obra barata, concentraram grande parte de sua produção industrial naquele país.
Diante desse quadro, a China, em pouco tempo, tornou-se uma potência econômica de primeira grandeza e, com o produto de sua riqueza, invejável poder militar.
Tais circunstâncias, quando a paz impera e tudo vai bem, não traziam consigo maiores inquietações, a não ser para os estrategistas geopolíticos que previam que, mais cedo ou mais tarde, isto ocasionaria sérios problemas.
Eis que chegou a pandemia e os piores medos se tornaram realidade.
Expressiva parte da cadeia de suprimentos de itens usados na área da saúde, a exemplo de luvas e máscaras cirúrgicas em quantidade e abundância, concentravam-se e concentram-se China.
Como a China foi altamente impactada com o coronavírus, a produção destes produtos se direcionou, de forma massiva, para o seu consumo interno, o que provocou a dificuldade de outros países os adquirirem.
Em momentos em que as capacidades de Defesa de um país são testadas, seja na guerra ou em pandemias, a logística é elemento essencial para que qualquer estratégia a ser empregada para superar estes desafios deem certo.
A crise demonstrou que a concentração industrial em um só país, de itens essenciais à Defesa, é um erro crasso.
Muito possivelmente, em médio e longo prazo, a China venha a perder tão concentrado investimento externo em seu parque industrial, e outros países menores, sem a mesma expectativa geoestratégica, sejam beneficiados com isso.
Enfim, muito embora tratem-se de especulações o que eu escrevi, o certo é que o mundo, no pós-crise, não será mais o mesmo e o reequilíbrio geoestratégico será buscado principalmente pelas grandes nações.
E que Deus tenha piedade de nós!