O diário econômico Les Echos traz a informação em primeira página: os Emirados Árabes Unidos teriam desistido de comprar da França 60 caças Rafale. O motivo seria o preço elevado demais cobrado pelo fabricante Dassault.
A notícia é um banho de água fria para o governo de Nicolas Sarkozy. A França nunca conseguiu vender os Rafale no exterior apesar dos esforços diplomáticos do presidente, como aconteceu no caso do Brasil e do Marrocos. Les Echos explica que a desistência dos Emirados foi expressa em um curto comunicado da agência oficial Wam. Após três anos e meio de negociações, o xeque árabe Mohammed ben Zayed al Nahyane, grande amigo de Sarkozy, afirma que, infelizmente, a empresa Dassault não parece "ter consciência de que todos os esforços políticos e diplomáticos do mundo não podem compensar uma proposta comercial não competitiva e que não constitui uma base de trabalho".
Les Echos assinala que a nota não deixa espaço para dúvidas. É raro um líder político, ainda mais uma figura da altura do xeque árabe, pegar a caneta para comentar as circuntâncias de negociação de um contrato de venda de armamentos de bilhões de dólares. Resta saber qual será a reação do Palácio Eliseu e do fabricante do Rafale.
Segundo Les Echos, a Dassault não está acostumada a ter seus preços questionados no mercado. O presidente da empresa, Charles Edelstenne, fica em situação delicada porque tem o hábito de dizer que a venda de aviões de combate é uma decisão política e não comercial. Aliás, esse foi o mesmo discurso usado pelo ex-presidente Lula para rebater as críticas de autoridades aeronáuticas brasileiras que sempre reclamaram do alto custo do Rafale.
Os Emirados Árabes Unidos pediram ao concorrente Eurofighter que apresente uma proposta mais palatável.
A negociação fracassou totalmente? Les Echos diz que há duas hipóteses. Alguns analistas afirmam que a suposta desistência é uma tática conhecida para baixar o preço dos aviões. Mas a maior parte dos analistas acha que a Dassault tem uma postura arrogante que leva a empresa a perder os contratos.
O ministro francês das Relações Exteriores, Alain Juppé, terá uma noção mais clara sobre a posição das autoridades árabes a partir de amanhã, quando inicia um giro pelos países do Golfo. De qualquer forma, pelo andar da carruagem, é difícil imaginar que os Emirados Árabes Unidos anunciem qualquer decisão sobre o Rafale nos próximos meses.