As manifestações e a democracia
Sérgio W. Etchegoyen
Gen Ex R1
Jornal NH 04 Março 2020
Agravam o quadro o desprezo e descrédito aos políticos e aos partidos, numa descabida e perigosa demonização da atividade política, único caminho disponível nas democracias para a harmonização dos conflitos de interesses. Não existe possibilidade de avançarmos na conquista de nossos objetivos de construir um país justo e próspero por atalhos que desviem a arena política, pois é nela que o diálogo civilizado e o exercício da cidadania transformam o rigor de convicções em opções.
Pois é em tais circunstâncias que chegamos ao pelo menos preocupante momento de convocações para mobilizações populares no próximo dia 15.
Manifestações dessa natureza, por si só, são saudáveis em qualquer democracia, são asseguradas no nosso texto constitucional e, se conduzidas desta forma, nada a temer. Lamentavelmente, é preciso ter presente que sempre há riscos, particularmente se considerarmos o cenário acima descrito, e esses riscos estão na captura da manifestação pelo radicalismo. Enquanto uns investem contra as instituições, chegando mesmo a pregar o fechamento do Congresso e do STF e até a publicação de atos de exceção, hipóteses delirantes, outros acusam que a manifestação será o prenúncio do golpe, outro delírio.
Manifestações como recursos dos embates políticos são exercícios de fortalecimento da própria democracia, por isso bem-vindas e até mesmo necessárias; manifestações como instrumentos de desestabilização das instituições são barbárie que os brasileiros saberão repudiar.
O eleitor tem o direito de protestar. Tem o dever de lembrar ao seu representante que o mandato pertence na verdade a quem o elegeu.
Que o próximo 15 de março seja um dia para festejar a democracia, o Brasil e seus cidadãos merecem!