O toque de ex-combatente anunciava a chegada de um herói brasileiro à 4ª Companhia de Engenharia de Combate Mecanizada (4ª Cia E Cmb Mec). Às vésperas de completar 100 anos de idade, o veterano da Força Expedicionária Brasileira (FEB), senhor Divo Pires Peixoto, foi recebido pelos militares da 4ª Cia E Cmb Mec e de outras organizações militares do Comando Militar do Oeste (CMO). O ex-combatente recebeu uma homenagem no dia em que a FEB conquistava um dos objetivos mais importantes da 2ª Guerra Mundial: o Monte Castelo, região estratégica dominada pelo Exército alemão.
Das mãos do Comandante da 4ª Cia E Cmb Mec, o senhor Divo recebeu a Medalha “Cruz Européia” da Federação Italiana dos Combatentes Aliados (FIDCA), uma “Distinção Associativa”, aprovada pelo Conselho Europeu Superior e validada com a publicação no Diário Oficial da República Italiana, de 13 da janeiro de 1968. Essa medalha destina-se a lembrar e a honrar os méritos de ex-combatentes de todas as nações e continentes que lutaram na Europa.
Com a proeza de alcançar o centenário na idade, o ex-combatente verde-oliva ainda é capaz de lembrar-se de histórias emocionantes do período em que passou na Itália, durante a 2ª Guerra Mundial. “Somos sete irmãos e estamos sempre rodeando o nosso pai, perguntando sobre aqueles dias de tristeza na Itália. Ele sempre será o nosso herói”, disse a senhora Clenir Pires da Rosa Grubert, filha do senhor Divo.
O sul-mato-grossense tem uma saúde de ferro. No café da manhã, não pode faltar o tradicional arroz carreteiro e, ainda, a rapadura de sobremesa. “Ele come de tudo”, contou a filha. Nascido na Fazenda São Francisco, em Nioaque (MS), em 23 de fevereiro de 1920, numa época em que a maior parte da população brasileira não era alfabetizada, o febiano teve acesso às primeiras letras por meio de professores contratados para dar aula na fazenda. Hoje, ele vive em Jardim com um dos seus filhos.
A convocação para a guerra ocorreu quando o cabo Divo Pires Peixoto estava na reserva, aos 22 anos de idade. Para ele, era uma questão de honra estar pronto para atender ao chamado da Pátria. No dia 20 de setembro de 1944, com outros 5.074 homens, o cabo Divo embarcou rumo à Itália. Lá, não participou de nenhum combate, mas presenciou as misérias da guerra, ouviu as bombas e os tiros que, segundo sua filha, nunca saíram da cabeça dele.
Quando voltou da guerra, Divo passou um tempo no Rio de Janeiro, em quarentena, até voltar de trem para Mato Grosso do Sul, na época, ainda Mato Grosso. “Ele era muito festeiro, então fizeram três dias de festa quando ele voltou para a casa”, conta a filha do ex-combatente.
Após cinco anos, o jovem militar casou-se com a prima, Severina Peixoto da Rosa, em Bela Vista (MS). Eles tiveram sete filhos, três homens e quatro mulheres. O casal viveu junto por 42 anos, até o falecimento da esposa em 1991. Ele nunca mais se casou e continuou a vida na fazenda, sempre com amigos e familiares por perto. Como motorista, dirigiu para vários militares e contava, sempre orgulhoso, que havia dirigido para o próprio comandante da FEB, o General Mascarenhas de Morais.
Essa lição de vida e de luta serve como inspiração para as gerações futuras para que não sofram, também, os horrores da guerra. É uma história que, mais uma vez, merece o reconhecimento. Na semana do centésimo aniversário do senhor Divo Peixoto e, exatamente no dia 21 de fevereiro, quando foi marcada uma das mais gloriosas realizações da Força Expedicionária Brasileira na 2ª Guerra Mundial, a Batalha de Monte Castelo, mais uma vez, é reconhecido o valor do combatente verde-oliva que muito contribuiu para o restabelecimento da paz e da liberdade no mundo.