As tensões entre Irã e Estados Unidos podem comprometer o fornecimento do petróleo que circula pelo Estreito de Ormuz e reduzir a produção no Iraque – apontam analistas ouvidos pela AFP.
Após o assassinato no Iraque, na sexta-feira passada (3), do general iraniano Qassem Soleimani, em um ataque americano, os preços do petróleo dispararam. Depois, começaram a estabilizar, porque a oferta no Oriente Médio não se viu afetada.
Nesta quarta-feira, porém, voltaram a subir depois que o Irã lançou um ataque de retaliação com mísseis contra bases no Iraque onde tropas americanas e britânicas se encontram estacionadas.
O ministro britânico das Relações Exteriores, Dominic Raab, disse estar preocupado com "informações sobre vítimas", enquanto o chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, garantiu que o país não quer "nem uma escalada, nem uma guerra".
Os investidores temem que Teerã tente bloquear o Estreito de Ormuz, um ponto de passagem importante, por onde circulam os navios petroleiros.
Esse estreito, um dos mais congestionados do mundo, é crucial porque permite que o petróleo da região seja levado para os mercados da Ásia, da Europa e da América do Norte.
"As interrupções no fornecimento estão agora no topo da agenda dos investidores", disse o presidente da Sun Global Investments, Mihir Kapadia.
"A preocupação é alimentada pelo assassinato de Soleimani na sexta-feira, e o Irã provavelmente tentará interromper as exportações de petróleo que passam pelo Estreito de Ormuz", acrescentou.
Em 2018, cerca de 21 milhões de barris transitaram por dia.
O estreito foi afetado no ano passado por uma série de ataques contra petroleiros, atribuídos ao Irã tanto pelos Estados Unidos quanto por seus aliados. Teerã negou qualquer envolvimento nestes episódios.
Os países ocidentais também acusam o Irã de ser responsável por um ataque contra instalações de petróleo na Arábia Saudita.
Nos últimos meses, o Irã imobilizou vários petroleiros que circulavam no Golfo.
Os investidores não estão tão preocupados com a queda na produção no Irã, país que se encontra sob sanções, reimpostas por Donald Trump em 2018. O mercado teme, porém, pela produção no Iraque, de acordo com Christopher Haines, analista da Energy Aspects, principalmente se as tropas americanas deixarem o território.
"Existe um risco potencial de interrupção da produção no Iraque, onde as exportações representam cerca de 3,5 milhões de barris por dia", disse Haines à AFP.
"Se as tropas americanas deixarem a área, será menos seguro", acrescentou.
O Iraque é o segundo país mais importante da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), atrás da Arábia Saudita.
Segundo o analista Bjarne Schieldrop, da consultoria SEB, a produção iraquiana poderá ser afetada no futuro por esta crise.
Na sexta-feira (3), tanto o barril de Brent, o petróleo de referência na Europa, quanto o WTI, seu equivalente nos Estados Unidos, subiram mais de 3%.
Foi um nível inferior, porém, ao registrado em 16 de setembro, quando ambos subiram 14% após o ataque às infraestruturas de petróleo na Arábia Saudita.