A Airbus se tornou a maior fabricante de aviões do mundo pela primeira vez desde 2011, depois de entregar um número acima do esperado de 863 jatos, conquistando a liderança da rival americana Boeing, disseram fontes nesta quarta-feira (01/01).
Esperava-se uma mudança na liderança entre as duas gigantes, na esteira de uma crise com o Boeing 737 MAX que se arrasta até 2020. Mas os dados recordes da europeia Airbus reforçam ainda mais a distância que a Boeing deve percorrer para recuperar sua posição no mercado.
A Airbus, que foi forçada pelos seus próprios problemas industriais para cortar sua meta de entrega de 2019 em 2%-3% em outubro, implementou recursos extras até horas antes de meia-noite de 31 de dezembro para alcançar o número de 863 aeronaves no ano, em comparação com a sua meta revista de 860 jatos.
As entregas da fabricante europeia aumentaram 7,9% em relação às 800 aeronaves de 2018. A empresa europeia se recusou a comentar os números, que devem ser auditados antes de serem finalizados e publicados.
Por sua vez, a Boeing entregou 345 jatos de longo curso entre janeiro e novembro, menos da metade dos 704 do mesmo período de 2018, quando o 737 MAX estava sendo entregue normalmente. Durante todo o ano de 2018, a Boeing entregou 806 aeronaves.
As fabricantes de aviões recebem a maior parte de suas receitas quando as aeronaves são entregues – menos os pagamentos pagos por progressos acumulados durante a produção. Por isso, o desempenho das entregas no final do ano é acompanhado de perto pelos investidores.
A contagem da Airbus, que inclui cerca de 640 aeronaves de corredor único, bateu recordes da indústria depois de a empresa ter redirecionado milhares de trabalhadores e ter cancelado férias de outros para completar um estoque de aeronaves semiacabadas à espera de ter suas cabines ajustadas.
A Airbus foi atingida por atrasos na produção e instalação da chamada Airbus Cabin Flex (ACF) – uma remodelação das galleys (cozinhas dos comissários) e banheiros para permitir mais espaço para poltronas – em seus jatos A321neo na unidade de Hamburgo, na Alemanha. Dessa forma, dezenas de aeronaves deste modelo e de outros ficaram armazenadas aguardando configurações de última hora e a chegada de mais mão-de-obra.
Esse trabalho fora do planejamento padrão aumenta os custos e pode ter um impacto modesto nas margens de lucro da Airbus, mas o impacto será amplamente reduzido pelo grande número de aviões e pela lucratividade já sólida dessas aeronaves de corredor único, afirmam analistas.
Ainda assim, os problemas na instalação de cabines complexas reduziram a capacidade da Airbus de tirar proveito da turbulência do mercado em torno do Boeing 737 MAX – que permanecem em solo desde março do ano passado, após um acidente fatal do avião na Ethiopian Airlines, na Etiópia, que matou 157 pessoas. A tragédia ocorreu menos de cinco meses depois que outro Boeing 737 MAX caiu no Mar de Java, na costa da Indonésia, matando 189 pessoas.
Até agora, a permanência em solo dos Boeing 737 MAX já custou à fabricante americana mais de 9 bilhões de dólares. A Boeing, que também enfrenta diversos pedidos de indenização das famílias das vítimas e das companhias aéreas atingidas com os acidentes, disse que recebeu apenas 30 novos pedidos para seus aviões MAX desde o acidente na Etiópia. O programa MAX é crítico para a empresa: ele representa quase 80% da carteira de pedidos de aeronaves comerciais da Boeing e quase 60% em valor.
A produção nas fábricas da Airbus são tradicionalmente interrompidas no Natal e Ano Novo. Mas os centros de entrega e instalações de finalização da empresa estavam a todo o vapor ainda na tarde do último dia do ano para permitir que companhias aéreas asiáticas e outras pudessem operar seus novos aviões.