Relatório Reservado
O Banco Central, independente ou não, deveria seguir os modelos internacionais de referência que monitoram os preços e o emprego. O exemplo destacado é o Federal Reserve, dos Estados Unidos. No Brasil, o BC não se preocupa nem com o emprego do país nem com o emprego do próprio setor financeiro.
Com essa omissão, vai estimulando o surgimento de uma matilha do que poderia se chamar de “big smart banks”, ou numa tradução quase literal, os bancos espertalhões. O campeão desse grupo do valuation da esperteza é a XP Investimentos, geradora de dinheiro a rodo e roedora de emprego a granel.
Não há nada demais que a instituição fature uma grana. Mas a assimetria que a XP e seus congêneres trazem para o setor bancário dá a entender que o BC é mais dependente do que parece.
A autoridade monetária não leva em consideração que os bancões gastam centena de bilhão com agências, segurança, funcionários e toda uma cadeia de fornecedores de A a Z. A XP não gasta nem com A nem com Z, tem 1,2 mil funcionários e opera em um prédio.
O futuro potencializado trazido pela instituição é o fim do valor adicionado na economia. A XP custa caro para o sistema financeiro porque seu gasto é baixo demais. Já os bancos arcam com uma carga tributária de 45%, pagando mais de R$ 70 bilhões em impostos por ano. Isso para não falar de gastos aparentemente residuais que somam uma pequena fortuna.
Um exemplo: uma agência alvo de explosão por criminosos custa R$ 600 mil para ser reconstruída – são mais de dois mil caixas eletrônicos dinamitados por ano. Os “new banks” operam com reduzido nível de exigência e raquítica estrutura de compliance vis à vis os grandes bancos.
A XP e seus pares se escoram no Fundo Garantidor de Crédito (FGC), constituído e alimentado pelos bancões. Ou seja: se uma delas pegar um resfriado ou tiver um enfisema pulmonar, caberá ao FGC, portanto, aos grandes bancos, impedir que os clientes sejam lesados. Não custa lembrar que foi a banca puro-sangue que evitou uma crise sistêmica sem precedentes no rastro da crise dos subprimes, em 2008, e da consequente quebra de instituições financeiras – como Cruzeiro do Sul, PanAmericano etc etc.
Não é por acaso que a XP começou sua sinuosa trajetória vendendo papéis ao valor máximo de R$ 250 mil, justamente o teto assegurado pelo FGC aos investidores em caso de liquidação da instituição financeira. A XP diz que seu grande mérito é promover a educação financeira. Mas como isso sai caro…