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Bolsonaro – Comportamento imprevisível do Presidente preocupa equipe de segurança

Daniel Carvalho

Gustavo Uribe

Brasília

 

No fim do ano passado, um grupo de 40 motociclistas aglomerou-se na porta da Granja do Torto, uma das residências oficiais do Poder Executivo.

Antes da chegada de Jair Bolsonaro, que tomaria posse dias depois, um dos motoqueiros sacou uma faca para cortar a corda que amarrava uma faixa em homenagem ao futuro presidente.

Ao ver a manifestação de apoio, Bolsonaro mandou parar o carro e projetou-se para fora do automóvel. Os seguranças, que não tiveram tempo de revistar os apoiadores, entre eles o que carregava o objeto cortante, apressaram-se para cercar o veículo para protegê-lo.

A cena ocorrida em 2018 se repetiu inúmeras vezes no primeiro ano de mandato do presidente.

Com uma postura avaliada por assessores palacianos como inconsequente, Bolsonaro obrigou a segurança presidencial a se adaptar a ele e, durante o processo adequação, se expôs a riscos.

Em meio à aglomeração de simpatizantes, uma pessoa estendeu um copo de cerveja a Bolsonaro, que, sem pestanejar, tomou a bebida, o que deixou integrantes da comitiva presidencial perplexos.

Por causa do estilo imprevisível do atual mandatário do Palácio do Planalto, o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), responsável pela segurança do presidente, passou a adotar práticas que não eram vistas nos mandatos anteriores.

Desde que levou uma facada na campanha eleitoral, em setembro do ano passado, o presidente passou a usar, quando se expõe em público, um colete à prova de balas por baixo do terno. Além disso, a segurança no Palácio do Alvorada, residência oficial do presidente, foi alterada.

Em 2018 Jair Bolsonaro derrotou o candidato Fernando Haddad, alçado à candidatura pelo PT após o ex-presidente Lula, então preso há seis meses, ser declarado inelegível. Na primeira aparição após a vitória, Bolsonaro prometeu "desamarrar" o Brasil, "[libertar] o Itamaraty das relações internacionais com viés ideológico" e, ao lado de apoiadores e de sua esposa, fez uma oração

Com o hábito de Bolsonaro de cumprimentar grupos de eleitores duas vezes ao dia, grades foram instaladas e um detector de metais foi colocado na entrada do palácio.

 

 Os visitantes e jornalistas que chegam ao local são fichados e obrigados a passar pelo equipamento de segurança antes de ir à área de contenção onde Bolsonaro costuma parar para falar.

Ao descer do carro, está sempre acompanhado de ao menos quatro seguranças, um deles com uma pasta que, em caso de necessidade, serve de escudo.

Apesar das medidas preventivas, o presidente não está imune a situações complicadas.

Em outubro, mesmo com o esquema de segurança, um manifestante questionou Bolsonaro sobre o paradeiro de Fabrício Queiroz, ex-assessor Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) envolvido em suposto esquema de rachadinha.

Incomodado com a necessidade de obedecer a protocolos de segurança —ele já disse que se sente um prisioneiro sem tornozeleira eletrônica—, o presidente inventa toda semana um passeio por Brasília, o que pega de surpresa a equipe que o protege.

No período, ele foi à feira comer pastel, ao mercado comprar xampu e ao cinema assistir a uma estreia.

Ele também surpreendeu ao decidir ir até a torcida paraguaia em um estádio em Brasília, onde acontecia uma partida da Copa do Mundo Sub-17.

O presidente ainda andou de jet-ski e, recentemente, comprou uma moto, o que gerou preocupação sobre a possibilidade de ele escapar sem o acompanhamento do aparato de segurança.

Para evitar problemas, combinou com o GSI que só irá usar o veículo dentro da área da residência oficial.

Bolsonaro, na Marcha para Jesus; colete à prova de balas e seguranças com pastas-escudo Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO

"Vou buscar a minha moto para andar dentro do Palácio do Alvorada. A segurança acha que vou dar umas fugidas", disse à Folha em outubro.

A ida a um stand-up gospel também exigiu a instalação de pórticos de identificação de metal e revista de bolsas na entrada de um teatro na capital federal.

Após quebrar o protocolo no desfile do Dia da Independência e descer de seu camarote até a pista para saudar a plateia, o próprio Bolsonaro reconheceu que deixa seus guarda-costas desassossegados.

"Segurança ficou preocupado aqui, mas é um pequeno risco que a gente corre que ajuda a despertar mais o sentimento patriótico do povo brasileiro", disse naquele 7 de Setembro. ?

Em algumas ocasiões, os próprios seguranças deixam transparecer incômodo com a imprevisibilidade do presidente.

Em uma recente visita de Bolsonaro a um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, em um apartamento em Brasília, um dos oficiais bufou após o presidente pedir que eles se afastassem porque queria que a imprensa se aproximasse.

Procurado pela Folha, o GSI diz que a diversidade de atividades exige avaliações de risco caso a caso e que são seguidos protocolos de segurança. A pasta afirma que não divulga detalhes operacionais sobre a segurança.

A nota também diz que "a segurança presidencial tem plenas condições de manter, em qualquer ocasião, a segurança do presidente" e afirma que seu pessoal é "rigorosamente selecionado e capacitado".

GSI

"Há pessoal rigorosamente selecionado e capacitado que utiliza equipamentos adequados às necessidades", afirma.

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