A Rússia entregou, nesta segunda-feira, ao governo da Ucrânia três navios militares capturados ano passado durante um incidente naval, a três semanas de uma reunião em Paris que pretende reativar as negociações sobre o conflito no leste ucraniano.
"Três navios da marinha ucraniana que violaram em novembro de 2018 a linha de fronteira russa, em uma provocação deliberada de Kiev no Estreito de Kerch, e que haviam sido apreendidos pelas forças de segurança russas, foram entregues à Ucrânia", afirmou um comunicado divulgado pelo ministério russo das Relações Exteriores.
Em novembro de 2018, as forças russas abordaram e tomaram o controle dos navios, no momento em que navegavam o Estreito de Kerch, uma via fluvial que segue até o Mar de Azov.
A apreensão das duas canhoneiras e um rebocador foi o confronto mais grave entre os dois países desde o início do conflito na Ucrânia em 2014.
A entrega dos navios, no entanto, é o terceiro episódio da relativa distensão das relações entre os dois países desde a eleição em abril do presidente ucraniano, o ex-comediante Volodimir Zelenski, favorável à retomada do do diálogo.
Em setembro, houve uma troca em massa de prisioneiros que permitiu, em particular, o retorno à Ucrânia da tripulação dos três navios, após 10 meses de prisão na Rússia.
Por outro lado, as primeiras retiradas de tropas ucranianas e combatentes separatistas pró-russos ocorreram em três áreas da linha de frente no leste, onde o conflito causou mais de 13.000 mortes.
Mais um sinal de distensão é o anúncio de que cúpula deve se reunir em 9 de dezembro, em Paris, Zelenski e o presidente russo Vladimir Putin – pela primeira vez – e o presidente Emmanuel Macron (França) e a chanceler alemã Angela Merkel.
O Kremlin confirmou essa cúpula, que já havia sido anunciada na sexta-feira pelas autoridades francesas.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, se recusou a criar grandes expectativas russas para o encontro.
"É uma reunião que esperávamos há muito tempo … Não devemos exagerar nas expectativas para não nos decepcionar", afirmou Peskov.
Boa vontade
O retorno dos três navios ucranianos é visto como um gesto de boa vontade por parte de Moscou.
A Ucrânia confirmou ter recebido os navios, sem revelar seu destino.
Os navios foram confiscados pelas guardas costeiras russas em novembro de 2018 contra a Crimeia, um território ucraniano anexado por Moscou em 2014.
O episódio foi denunciado como "provocação" e Moscou acusou os navios de penetrarem ilegalmente em suas águas territoriais no Mar Negro, perto do Estreito de Kertch, que leva ao Mar de Azov.
A guarda costeira russa capturou 24 marinheiros ucranianos, e feriu três.
Os marinheiros foram finalmente libertados em uma troca de prisioneiros em setembro, na qual o cineasta ucraniano Oleg Sentsov também foi libertado e um suspeito foi entregue a Moscou por envolvimento no ataque em espaço aéreo ucraniano do voo MH17 em julho de 2014.
A retirada, em 9 de novembro, de tropas ucranianas e separatistas pró-russos de três setores da linha de frente no leste da Ucrânia, cumpriu uma condição essencial estabelecida por Moscou para participar da cúpula.
Mas essa retirada de tropas, ordenada por Zelenski, é impopular entre os ucranianos, especialmente os nacionalistas que se declararam denunciando uma "capitulação".