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O choque de culturas torpedeou o São Paulo (Foch)

Nelson F Düring

Editor-chefe DefesaNet

 

 O anúncio oficial na página da empresa João Emílio Leiloeiro é o duro choque da realidade do fim do Navio Aeródromo NAe A-12 São Paulo. Oriundo da Marine Nationale, onde serviu com o nome Foch,  encomendado em 1955, entrou em operação em 1963.

Junto com o seu irmão, o porta-aviões Clemenceau eram duas belonaves, que constituíam a mesma classe.

Em 1997 foi dado baixa na Marine Nationale, desarmado e vendido ao Brasil, por U$ 12 milhões. Ao mesmo tempo a Marinha Brasileira adquiria um lote de 22 A-4 Skyhawk da Força Aérea do Kuwait e junto uma grande quantidade de mísseis Ar-Ar Sidewinder.

A-4 Skyhawk operando no convoo do A-12 São Paulo

De uma tacada a Força Aeronaval tinha adquirido um poder incrível no Atlântico Sul com um custo de aquisição muito baixo. O porta-aviões Foch por U$ 12 Milhões e as aeronaves mais mísseis por U$ 70 milhões.

 

Em 15 de Novembro de 2000, o agora batizado NAe A-12 São Paulo (em homenagem ao Presidente Fernando Henrique),  entrava triunfal na Baia da Guanabara.

O namoro logo começou a tornar-se um pouco tormentoso. O custo operacional das aeronaves e manter a qualificação dos pilotos mostrou ser uma conta pesada para o orçamento da Marinha.

Mas foi um período glorioso de 2000 a 2005 quando o primeiro incidente grave ocorreu. E aqui o choque de Cultura de Engenharia Naval e operação de navios de guerra.

Acostumados na cultura Anglo-Saxã de ciclos longos de operação, e depois as paradas para manutenção geral, a tecnologia francesa é a de pequenas manutenções anuais e ao longo do período completava 100% do requerido. Para uma marinha pequena esta era a estratégia para não ter suas principais belonaves docadas e fora de serviço por longos períodos.

Embora os alertas recebidos das equipes francesas não foi dada a devida atenção requerida à manutenção, pois a cultura naval brasileira não sentia a premência de ter trabalhos de reparos em um período curto de 6 meses a 1 ano   

Assim, em 2005, a explosão dos dutos de vapor alta-pressão abaixo do convôo levou a ocasionou vários marinheiros feridos e mortos. Abaixo o primeiro informe do então SRPM.

Marinha do Brasil

Serviço de Relações Públicas da Marinha

NOTA À IMPRENSA

Brasília, 17 de maio de 2005.

Acidente a bordo do Navio-Aeródromo "São Paulo"

A Marinha do Brasil (MB) lamenta informar a ocorrência de um acidente a bordo do Navio-Aeródromo “São Paulo”, em operação no mar, nas proximidades do Rio de Janeiro, na manhã de hoje.

A ruptura de uma rede de vapor, em uma das praças de máquinas do navio, causou o falecimento de um tripulante e ferimentos em mais sete (7), dos quais três (3) inspiram maiores cuidados.

O navio já iniciou a evacuação dos vitimados para o Hospital Naval Marcílio Dias, utilizando helicópteros, e está regressando para o Rio de Janeiro.

A MB só divulgará os nomes dos acidentados após as suas famílias terem sido comunicadas.

As causas do acidente serão apuradas por Inquérito Policial Militar, a ser instaurado, e informações posteriores serão divulgadas tão logo disponíveis.

PAULO RICARDO MÉDICI

Capitão-de-Mar-e-Guerra

Diretor do SRPM

 

A modernização 2005 – 2010

 

Aproveitando a oportunidade de refazer as linhas de vapor uma série de modernizações e adições foram realizadas. Em especial na parte eletrônica e na parte mecânica: caldeira, turbinas, sistema de dessalinização, etc. O casco permanecia rígido e perfeito com seus 265 m de comprimento e deslocando 24.200 toneladas (32.800 t a plena carga). Com 6 caldeiras, 8 turbinas GEC Alstom e 2 hélices. Propiciava 126 Cavalos Vapor. Com uma velocidade máxima de 32 Nós (+55km/h)

A modernização foi completada em Julho de 2009, e o São Paulo estaria operacional em Agosto de 2010. Eufórica com a nova fase que se avizinhava a MB contratou com a EMBRAER Defesa & Segurança a modernização de 12 aeronaves A-4 Skyhawks a um custo de U$ 140 milhões.

A força de helicópteros  SH-3 seria substituída por seis S-70B Seahawk adquiridos em 2008.

Em 2013 o NAe A-12 São Paulo modernizado com novas aeronaves de ataque e de asas fixas e rotativas daria à Marinha do Brasil um poder de fechar o Atlântico Sul e projeção de poder seria incorporado à frota

Um novo acidente com incêndio à bordo em setembro de 2012 selou o destino do porta-aviões. A embarcação foi atingida por um incêndio que deixou um morto e dois feridos. O fogo consumiu um alojamento de praças, localizado na popa do navio. Segundo a Marinha, o motivo do incêndio foi uma pane elétrica.

Os planos de modernizar o sistema de propulsão adotando um moderno sistema elétrico foram estudados, mas as incertezas tecnológicas, premência com o PROSUB e a falta generalizada de recursos levou o então Comandante da Marinha Almirante-de-Esquadra  Eduardo Leal Ferreira, anunciar em 14 Fevererio 2017 que o NAe A-12 (FOCH) seria retirado de serviço. Em 22 Novembro de 2018 o navio deu baixa.

Desde então o A-12 São Paulo ficou atracado na Ilha das Cobras na Baia da Guanabara

Notícias de jornais do Rio de Janeiro diziam que o leilão seria em 2020 e o lance mínimo de alienação de R$ 5.309.733,65. O comprador precisará, ainda, arcar com os custos de remoção do navio da Baía de Guanabara.

Mas o site do Leiloeiro João Emílio menciona que o leilão será no dia 09 de Dezembro de 2019, e o lance mínimo R$ 1,00 (um real)

João Emílio Leiloeiro

Termo do Edital do Leilão

 

LOTE 001

CASCO do Ex- Porta-Aviões – NAe “SÃO PAULO – COMPRIMENTO TOTAL: 266 m; BOCA: 51,20 m; CALADO LEVE: 8,22 m; CALADO CARREGADO: 9.53 m; ALTURA DO MASTRO: 63,2 m; ALTURA DO CONVÔO: 24 m; 2 FERROS (âncoras), TIPO “BAYER” DE 11 Ton (cada); 2 AMARRAS DE 300 m (cada); PESO LEVE: 24.030,871 MT. OBS: (Os interessados em participar do certame deverão entregar em envelope lacrado,no dia 09/12/2019 às 14:00hs, na sede da EMGEPRON, localizada na Ilha da Cobras, Edifício Almirante Raphael de Azevedo branco, S/N – Centro – Rio de Janeiro/RJ CEP 20180-001. Habilitação especial instituida para este leilão, Condição especial venda apenas para Pessoas Jurídicas).

Lance Inicial R$ 1,00              Incremento R$ 1,00

 

O Legado do A-12 São Paulo

 

Na Marinha do Brasil, o "navio-aeródromo" navegou 85.334 km e realizou 566 lançamentos de aeronaves.

Nos 17 anos que permaneceu em operação, ele ficou um total de 206 dias no mar, o que equivale a menos de 3,1% do período em que foi usado pela Marinha.

Há um ano um grupo de ex-militares formou o Instituto São Paulo|Foch, com o objetivo de transformar o navio num museu flutuante. Segundo o site do projeto, a ideia era criar áreas de exposição no convés do São Paulo, além de restaurantes, cinemas, escritórios e salas de aula. Para isso, o navio seria transferido para o porto de Santos e o grupo procurava por investidores e incentivo público, mas a ideia foi por água abaixo.

O destino provável é o mesmo de seu antecessor, o porta-aviões Minas Gerais — antes pertencente às Marinhas britânica e australiana —, que operou entre 1960 e 2000 no Brasil até ser vendido como sucata e parar no "cemitério dos navios" em Alang, na Índia.

O São Paulo tem grande quantidade de amianto, na forração e sua retirada é problemática. Possivelmente afetará o preço de venda.

Porém, o maior legado do A-12 São Paulo são os ensinamentos e treinamentos que as equipes da Marinha Popular da China realizaram nas operações de controle de movimentação de aeronaves no convoo e nos hangares.

O que gerou talvez a maior crise diplomática do Brasil com os Estados Unidos, Japão e a própria China, quando o então ministro da Defesa Nelson Jobim, em entrevista exclusiva ao DefesaNet, em 2008, afirmou:

Eles (Chineses) farão estágio no porta-aviões São Paulo. Os chineses já estão adquirindo porta-aviões para projeção de poder na região, que é uma situação completamente diferente da nossa. Estou indo à China entre setembro ou outubro.” Ministro da Defesa Nelson Jobim fala à DefesaNet Link.

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DefesaNet traz artigo do historiador especializado no Poder Naval Brasileiro com interessante análise sobre o Navio-Aeródromo A-12 São Paulo

 

Nota MB – Desativação NAe A12 São Paulo 14 Fevereiro 2017

Operações conjuntas com a ARA (Armada Argentina) foi possível. Aqui Grumman S2Tracker catraca no A-12 São Paulo.

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