OS REFLEXOS DA MORTE DE AL BAGDADI PARA
O ISIS E PARA A COMUNIDADE INTERNACIONAL
André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos
A divulgação da morte do líder supremo do grupo terrorista, Islamic State of Iraq and Syria (ISIS), conhecido no Brasil por Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, o mais violento grupo da atualidade, junto com outros assessores, ex- militares da extinta Guarda Revolucionária de Saddam Hussein, foi o golpe fatal em um grupo que já se encontrava à beira do colapso e pode significar o encerramento de um ciclo virtuoso e, definitivamente, o fim das grandes operações como a que vimos no Iraque e na Síria, a quase uma década.
Nos primeiros cinco anos, após a queda do regime ditatorial no Iraque e a retirada das tropas da coalizão da zona de guerra, o ISIS reinou absoluto. Mostrou novas táticas e estratégias nunca vistas antes, pelo profissionalismo de suas lideranças, maior abrangência em ataques, coordenação nas ações e recursos financeiros, comparado à rede Al Qaeda.
The Washington Post, which supported the jihadist terrorists that ripped #Syria apart from day one, is mourning the leader of #ISIS, #Baghdadi, like he’s an old friend who passed before his time and they simply can’t contain their heartbreak. How adorable. pic.twitter.com/YrQau0nIpv
— Sarah Abdallah (@sahouraxo) October 27, 2019
O rídiculo obtuário do jornal Washington Post classificando o terorista Abu Bakr al-Baghdadi, como um religioso e pensador austero mostra a dificuldade no consenso na Guerra ao Terror – Nota DefesaNet
Se caracterizou, também, por atentados praticados por autóctones em ambientes urbanos com sérios impactos, especialmente, psicológicos, tanto para governos como para as sociedades alvo, entre os anos de 2015 e 2018, abalando a opinião pública internacional.
Sua espetacular mística, criada a partir de propagandas de guerra em zonas ocupadas mostrando vitórias e compartilhadas nas redes sociais, somada a promessa do estabelecimento de um novo Califado, o que efetivamente quase ocorreu, trouxe uma nova motivação àqueles que simpatizavam com sua ideologia extremista, principalmente jovens, fazendo-os lutar como cavaleiros da liberdade e da moralidade pela causa na esperança de dias melhores.
No entanto, esta expectativa não ocorreu. A contrário sensu, houve significativas perdas humanas com as operações na Síria e corte de recursos financeiros, o que o levou a beira do colapso além de grandes decepções por parte destes mesmos jovens que retornaram a seus países de origem.
Com a morte de suas principais lideranças, de vasta experiência militar e administrativa, alguns destes, formados em escolas militares norte-americanas, o ISIS dificilmente conseguirá se recuperar.
A tendência é de enfraquecer e se fragmentar pelas disputas internas de sucessão o que não significa o fim do terrorismo internacional de cunho extremista islâmico, uma vez que diante de circunstâncias similares, é consenso entre especialistas, o surgimento de novas facções, fenômeno que ocorreu com a rede Al Qaeda.
A boa notícia é a de que atentados de grande magnitude como os que ocorreram no passado possuem baixa probabilidade de acontecer, pelo menos por enquanto. Parte disso, pelo aperfeiçoamento dos sistemas e tecnologias de segurança, monitoramento de suspeitos e compartilhamento de dados e informações entre agências de inteligência, mas também, pelo tempo necessário para a formação de uma nova liderança com experiência suficiente para manter acessa a chama extremista na mente de seus militantes.
A má notícia é que poderemos estar entrando em uma nova era do terrorismo, não necessariamente de sucessos, mas com outras táticas ainda desconhecidas. Como previa Thomas Jefferson, o preço da liberdade é a eterna vigilância.
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