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O míssil norte-coreano capaz de lançar arma nuclear a partir de submarino

A Coreia do Norte confirmou ter testado na semana passada um novo tipo de míssil balístico, que poderia lançado a partir de um submarino — no teste, o equipamento foi disparado a partir de uma plataforma submersa. Com capacidade de carregar uma arma nuclear, ele viajou cerca de 450 quilômetros e alcançou 910 quilômetros de altitude, conforme informações divulgadas por autoridades sul-coreanas.

Foi o 11º lançado neste ano, o primeiro de mais longo alcance nesse período. Se tomado o programa nuclear norte-coreano como um todo, o projétil não foi o que chegou mais alto, mas atingiu altitude duas vezes superior à da Estação Espacial Internacional, que orbita a cerca de 400 quilômetros.

O míssil caiu no Mar do Japão, tambem conhecido na Coreia do Sul como Mar do Leste. O governo japonês afirma que o local está dentro de sua zona econômica exclusiva, uma faixa de 200 quilômetros em volta do território do arquipélago.

O que se sabe sobre o míssil?

Ele foi lançado do mar pouco depois das 7h do horário local desta quarta-feira (2), cerca de 17 quilômetros a nordeste da costa da cidade de Wonsan.

A agência de notícias estatal norte-coreana KCNA informou nesta quinta (3) que se tratava de um míssil Pukguksong-3, disparado quase na vertical e desenvolvido para "conter ameaças externas e reforçar sua defesa".

E acrescentou que "não houve impacto adverso nos países vizinhos".

Ao contrário de testes realizados anteriormente, desta vez não foram divulgadas fotos do líder norte-coreano, Kim Jong-un, durante o lançamento. O exercício foi realizado horas depois de a Coreia do Norte anunciar que retomaria negociações com os Estados Unidos.

O fator submarino

Se o míssil tivesse sido lançado em uma trajetória convencional – ou seja, em um ângulo menos próximo do reto -, poderia ter alcançado 1,9 mil quilômetros de distância, o que colocaria a Coreia do Sul e o Japão dentro de seu raio de alcance.

O fato de poder ser disparado a partir de um submarino incrementa ainda mais seu alcance potencial, já que torna os mísseis mais difíceis de serem detectados por sistemas de segurança e permite que a embarcação chegue mais perto dos alvos.

Construídos nos anos 1990, os submarinos norte-coreanos da classe Romeo têm autonomia estimada de cerca de 7 mil quilômetros, de acordo com a agência Reuters — o que tornaria uma viagem ao Havaí possível.

Eles são, entretanto, movidos a diesel e, por isso, mais fáceis de serem detectados, ao contrário, por exemplo, daqueles propulsionados por reatores nucleares, que permitem que a embarcação fique submersa por mais tempo e seja mais silenciosa.

Como o episódio pode afetar a relação com os EUA?

Antes do teste, Estados Unidos e Coreia do Norte haviam confirmado que retomariam as conversas a respeito do arsenal nuclear norte-coreano "em até uma semana".

O Departamento de Estado americano reagiu ao exercício militar pedindo que o país asiático "evite provocações" e "continue comprometido com negociações substantivas e sustentáveis" na direção de uma desnuclearização.

As discussões entre as duas partes estavam em compasso de espera desde o último encontro entre o presidente Donald Trump e Kim Jong-un em Hanói, em fevereiro, que acabou sem acordo.

Especialistas afirmam que o curto espaço de tempo entre o anúncio da retomada das conversas e o teste com o míssil foi proposital.

"A Coreia do Norte quer deixar clara sua posição na negociação antes mesmo que ela comece", afirmou à agência AFP Harry Kazianis, do Center for the National Interest, think tank baseado em Washington.

"Pyongyang parece estar preparada para pressionar Washington a recuar da demanda de desnuclearização total, feita sob a promessa de que as sanções contra o país seriam retiradas."

As resoluções do Conselho de Segurança da ONU proíbem a Coreia do Norte de usar mísseis balísticos. O programa nuclear do país é uma das principais razões para as sanções impostas tanto pelas Nações Unidas quanto pelos EUA.

Uma reportagem publicada pelo site Vox afirma que Trump deve propor a Kim Jong-un na próxima reunião a suspensão das sanções sobre as exportações de têxteis e carvão pelos próximos 36 meses pedindo, em troca, o fechamento da Central Nuclear de Yongbyon e o fim do programa de enriquecimento de urânio.

Para o analista Ankit Panda a introdução do Pukguksong-3 "é um momento sombrio para a segurança regional do Nordeste asiático — e um lembrete do que se perdeu nesses quase dois anos de diplomacia de fachada".

Em sua avaliação, o episódio deixa evidente o fato de que os EUA precisam de esforços mais consistentes para barrar o desenvolvimento de tecnologia nuclear por parte da Coreia do Norte.

 

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