Beijing — Em um discurso curto e com forte teor nacionalista, o presidente chinês, Xi Jinping , abriu na manhã desta terça-feira (01OUT2019), o ponto alto das comemorações pelos 70 anos da fundação da República Popular da China, um desfile militar em Pequim no qual a segunda potência econômica global exibiu seu crescente poderio bélico. Com a Praça da Paz Celestial lotada, Xi, vestido com um terno ao estilo Mao, defendeu a unidade do país.
— Nada pode fazer com que os pilares de nossa grande nação se abalem. Nenhuma força pode impedir que a nação e o povo da China avancem — disse.
Em Pequim, Xi aproveitou a celebração para louvar o desenvolvimento nacional, exaltando o fato de a extrema pobreza ter sido praticamente extinta no país. Outro assunto abordado foi Taiwan, província considerada rebelde por Pequim: o líder chinês disse acreditar em uma unificação "pacífica" porém controlada do país. A mensagem à comunidade internacional foi a habitual: a China manterá sua "ascensão pacífica", mas saberá se defender:
— Vamos seguir no caminho do desenvolvimento pacífico, mas nossos militares vão resguardar a soberania e a segurança de nosso país.
Após o discurso, Xi, em carro aberto, passou em revista as tropas, fazendo saudações às divisões armadas. A parada durou três horas.
Demonstração de força
O desfile militar, seguido de coreografias apresentadas por milhares de civis, foi assistido por cerca de 100 mil pessoas, incluindo representantes dos altos escalões da política chinesa, militares e convidados de 97 nações. Em um recado direto a outros países, em especial os Estados Unidos — ainda hoje a potência militar dominante na Ásia —, novas peças do arsenal chinês foram exibidas na parada.
— Se as armas mostradas tem um mensagem, ela é: a China tem os mísseis para assustar Taiwan, a Ásia, os Estados Unidos e o mundo — disse Rick Fisher, especialista do Centro de Estratégia e Análise Internacional, ao jornal Financial Times. — A China entende que agora está em uma corrida armamentista com Washington.
No total, segundo a agência estatal de notícias Xinhua, o desfile contou com a participação de mais de 15 mil militares, 160 aeronaves e 580 equipamentos.
DESFILE DO DIA NACIONAL CHINÊS TEM DEMONSTRAÇÃO DE PODERIO MILITAR
A estrela do show foi o novo míssil balístico intercontinental Dongfeng – 41 (DF-41), que, com alcance entre 12 e 15 mil quilômetros, pode atingir quase qualquer ponto do planeta. Segundo uma análise do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, o armamento é capaz de chegar aos Estados Unidos em apenas 30 minutos. (ver matéria sobre o Dongfeng-41 Link)
Sistemas Dongfeng-41 desfilando na Praça Tiannamen
Até recentemente, especialistas ocidentais acreditavam que o DF-41, capaz de carregar até 10 ogivas simultaneamente, ainda estava em desenvolvimento. O míssil também pode carregar equipamentos capazes de enganar sistemas de defesa, fazendo com que sejam destruídos no lugar das ogivas.
Dongfeng significa "Vento do Leste".
Com tecnologia hipersônica, o Dongfeng-17 (DF-17) também foi exibido pela primeira vez nesta terça-feira. Além de sua velocidade, o míssil utiliza veículos independentes de reentrada para lançar as ogivas, capazes de voar a uma altitude mais baixa que a normal — o que torna sua interceptação difícil e dá pouco tempo reação para seus adversários.
Dongfeng 17 (DF-17)
Outro armamento mostrado pela primeira vez foi o Dongfeng-100 (DF-100), um míssil de cruzeiro hipersônico com alcance entre 2 e 3 mil quilômetros, capaz de atingir alvos terrestres ou navios de guerra, segundo a imprensa oficial chinesa.
Dongfeng 100 (DF-100)
Uma série de sistemas não tripulados também foram mostrados na parada. Entre eles, o Li Jian, um drone de combate de longo alcance, e o WZ-8, um drone de reconhecimento ultrassônico ou supersônico. Mísseis que podem ser lançados de submarinos e novos sistemas de defesa avançados, como o HQ-9B, "capaz de interceptar múltiplos ataques aéreos em um complexo ambiente eletromagnético", também foram apresentados.
Vários Drones GJ-11 Stealth Attack Drone
Segundo especialistas ouvidos pelo Financial Times, a combinação dos mísseis hipersônicos com novas técnicas de ataque e equipamentos de reconhecimento possibilitará ao Exército Popular da Libertação espiar e atacar seus adversários com maior rapidez e flexibilidade. Com isso, a China "reduz a distância dos Estados Unidos e limita as vantagens militares de Washington na Ásia", disse à AFP Adam Ni, especialista em forças armadas chinesas da Universidade Macquarie, na Austrália.
Unidades de Guerra Eletrônica
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