Edgar Otálvora
@Ecotalvora
Cerca de vinte membros das FARC, com Iván Márquez como porta-voz, confirmaram que diferentes facções relutantes em cumprir o Acordo Santos-FARC decidiram se reagrupar
"Eles não são uma ameaça militar ou política no curto prazo" é a avaliação que é feita no alto governo da Colômbia sobre o grupo de "dissidentes" das FARC que anunciaram seu rearmamento e seu "retorno à montanha".
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Através de um vídeo de produção quase profissional divulgado no YouTube na manhã de 29AGO2019, cerca de vinte membros das FARC, com Iván Márquez como porta-voz, confirmaram que diferentes facções que relutavam em cumprir o Acordo Santos-FARC decidiram se reagrupar. Os uniformes militares, as armas e as novas botas de borracha, as imagens de Manuel Marulanda e Simón Bolívar como pano de fundo como os grandes guias, devolveram à Colômbia a imagem das FARC em armas. O vídeo foi removido em 30AGO2019, da rede social do YouTube, e no mesmo dia o site oficial das FARC na Internet foi fechado pelo provedor de hospedagem.
A decisão de Márquez de não assumir a cadeira de senador, em 20JUL2018, e seu desaparecimento da cena pública já mostravam a ruptura na liderança política da organização que se comprometera, em 2016, em entregar armas e ingressar na arena política. Os resultados das eleições legislativas eleitorais, de 11MAR2018, nas quais o novo partido das FARC obteve menos de 100.000 votos de entre 18 milhões de eleitores efetivos, arruinaram a fantasia promovida por Hugo Chávez para chegar ao poder na Colômbia por meios eleitorais. Agora, as FARC de Márquez se juntam à lista de gruposs de diferentes tipos, tamanhos e fins que operam no território colombiano. A capacidade de Márquez de se tornar o chefe político de várias dezenas de pequenos grupos das antigas FARC é questionada, bem como sua verdadeira capacidade militar atual. As Forças Militares da Colômbia, por enquanto, darão às FARC de Márquez o tratamento de uma força remanescente que pode estar crescendo em número impulsionado pela produção de narcóticos.
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A longa inter-relação das duas décadas das FARC com o regime de Chávez, o papel de Chávez como promotor das negociações de Santos-FARC, o papel de facilitadores, financiadores e garantidores de Chávez e Maduro nas negociações, a hibridização dos guerrilheiros colombianos com vários crimes transfronteiriços projetados nos territórios da Venezuela e do Brasil e, a atual situação de ruptura das relações entre Caracas e Bogotá faz do rearmamento de uma facção das FARC um elemento adicional de tensão na política regional. O ressurgimento agora explícito de um grupo armado sob as bandeiras das FARC é, em primeiro lugar, um evento interno colombiano que é seriamente influenciado pelo contexto regional. Os governos da Colômbia, Brasil e os EUA já apontaram que Nicolás Maduro apóia os "dissidentes" das FARC, além de permitir a presença e a atividade do ELN no território venezuelano. Maduro, por outro lado, ordenou, em 03SET2019, uma nova mobilização militar em direção à fronteira ocidental (Colômbia), incluindo sistemas de defesa antiaérea.
No dia 05 de setembro de 19, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu uma declaração repudiando “veementemente a ameaça de um grupo dissidente (…) de retomar a luta armada e condenar o regime ilegítimo da Venezuela por oferecer apoio aos dissidentes”. O governo brasileiro também reiterou "seu contínuo compromisso com a preservação da paz e a manutenção da estabilidade regional" e apoiou "o governo colombiano e seus esforços para restabelecer ex-combatentes na sociedade colombiana em uma estrutura de legalidade". O Brasil, tradicionalmente alheio às vicissitudes andinas, começa a sentir e reconhecer o impacto de crimes transfronteiriços (tráfico de narcóticos, armas, minerais) no território brasileiro. A nova geografia do tráfico mundial de drogas já inclui ativamente o Brasil e os países do sul da América do Sul.
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A Casa Branca de Donald Trump está determinada a mostrar um relacionamento especial com o governo brasileiro. Em 30AGO2019 realizou um evento incomum no Salão Oval quando Trump recebeu uma delegação enviada por Jair Bolsonaro. O serviço de imprensa da Casa Branca distribuiu e publicou meia dúzia de fotografias com as quais essa reunião adquiriu um fato público.
O aparato diplomático dos EUA geralmente é muito crítico e exigente quando se trata de conceder audiências no Departamento de Estado a embaixadores estrangeiros com sede em Washington ou visitar ministros das Relações Exteriores na capital. As nomeações de presidentes estrangeiros na Casa Branca costumam ser negociadas e planejadas por muito tempo. Não é usual que o Presidente receba delegações de categoria ministerial e muito menos participe delas na companhia do Secretário de Estado.
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Trump gosta de servir seus convidados por trás da histórica mesa presidencial da Resolute. A partir da tarde de 30AGO19, pouco antes de partir para Camp David, Trump sentou-se à sua mesa com o secretário de Estado Mike Pompeo, cuja agenda pública incluía um almoço com o presidente, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, o deputado Eduardo Bolsonaro e assessor presidencial do Palácio do Planalto em assuntos internacionais Filipe Martins. Eduardo Bolsonaro é deputado federal, presidente da Comissão de Política Externa da Câmara, é o principal operador internacional do clã Bolsonaro e foi nomeado por seu pai para ocupar o cargo de embaixador em Washington, para o qual ele já recebeu a aprovação oficial do Departamento de Estado dos EUA.
A visita à Casa Branca de seus enviados foi anunciada pelo próprio Jair Bolsonaro, que a apresentou como um sinal da estreita relação que mantém com Trump, em contraste com os confrontos que a presidência brasileira teve nas últimas semanas com os governos da França, Noruega e Alemanha. Com os incêndios na Amazônia como pano de fundo e críticas externas à política de Bolsonaro sobre questões ecológicas, o brasileiro recorreu a Trump para distorcer o sentimento de isolamento internacional … e Trump não apenas aplaudiu a ação do governo brasileiro de conter a queima da Amazônia no Twitter, mas também recebeu a delegação brasileira. A Casa Branca não se pronunciou sobre os assuntos discutidos. Segundo Araújo e Eduardo Bolsonaro, eles teriam conversado sobre "desenvolver de maneira sustentável" a Amazônia e a rejeição do critério de "internacionalização" de sua gestão, do início das negociações para um acordo de livre comércio e questões de"segurança".
Além dos tópicos da conversa, o relevante era o mecanismo criado entre o Salão Oval e o Palácio do Planalto.
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A situação diplomática entre Brasil e Venezuela é mantida dentro de um esquema de convivência tensa que permite que a missão diplomática brasileira em Caracas seja aberta pelo encarregado de negócios José Wilson Moreira. Em Brasília, a representação da Venezuela reconhecida por Bolsonaro é exercida pela embaixadora María Teresa Belandria, enviada por Guaidó. Enquanto isso, a sede da Embaixada da Venezuela em Brasília é ocupada por um grupo de funcionários representando Maduro, liderado por um funcionário com o cargo de Ministro Conselheiro. Essa situação pode chegar ao fim, já que, o clã Bolsonaro, começa a exigir que o Itamaraty retire todos os tipos de reconhecimento oficial dos enviados de Maduro e os expulsem do país, o que, por sua vez, levaria ao fechamento da Embaixada do Brasil, em Caracas.
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Em 23AGO2019, como é tradicional, aconteceu em Brasília, um desfile comemorativo do Dia do Soldado. O presidente Jair Bolsonaro foi acompanhado por seu vice-presidente Antônio Hamilton Mourão e pelo alto comando militar na plataforma honorária da concha acústica da sede do Exército. No espaço reservado a convidados estrangeiros estava o general Manuel Barroso Alberto, que, na qualidade de adido militar do governo Maduro, havia sido convidado para a cerimônia. No dia 28AGO19, durante um debate sobre a Venezuela na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, seu presidente Eduardo Bolsonaro disse: “Não sei por que as Forças Armadas continuam chamando e convidando as autoridades venezuelanas a ir publicamente a eventos de prestígio de nossas Forças Armadas. Não entendo (…)
Teríamos que cancelar todos os passaportes diplomáticos venezuelanos. Não os reconheço mais, porque eles usam esses passaportes para traficar drogas. ” No que poderia ser uma resposta inicial ao pedido de Bolsonaro, em 04SEP19, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro modificou o conteúdo do site onde mostrava a lista dos corpos diplomáticos credenciados no Brasil, excluindo o nome de todos os funcionários enviados por Maduro que ainda permanecem em Brasília. O portal Itamaraty desde aquele dia mostra apenas a embaixadora representando Guaidó.
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Em 06SET2019 foi realizado em Letícia, na Amazônia colombiana, uma cúpula presidencial de líderes dos países amazônicos que assinam o Tratado de Cooperação Amazônica, para o qual Nicolás Maduro não foi convidado. A Organização do Tratado de Cooperação Amazônica é formada pela Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela e atualmente a secretaria geral está nas mãos de um representante boliviano.
A iniciativa do encontro em Letícia foi acordada pelo colombiano Iván Duque e pelo peruano Martín Vizcarra em sua reunião bilateral de 27AGO2019, realizada em Pucallpa, e foi imediatamente destacada pelo brasileiro Jair Bolsonaro. O impacto internacional de queimaduras recentes em grandes áreas da Amazônia brasileira e boliviana levou vários ministérios das Relações Exteriores da região a promover uma renegociação do escopo da cooperação regional no âmbito do tratado Amazônico. Bolsonaro, com uma intervenção cirúrgica improrrogável programada para 08SET2019, não viajou para Letícia e foi representado por seu chanceler Araújo. A presença de Evo Morales foi garantida pela decisão dos chanceleres de não convidar Maduro, mas também aos representantes de Juan Guaidó. A "chancelaria" de Guaidó concordou com a intenção de seus aliados em Bogotá e Brasília. A reunião em Letícia contou com a participação de Martín Vizcarra, Lenín Moreno, Evo Morales, o anfitrião Iván Duque, o vice-presidente do Suriname Michael Adhin e o ministro das Relações Exteriores do Brasil.
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"Castrochavismo, crime organizado em Las Américas" é o título do livro mais recente de Carlos Sánchez Berzaín. A publicação apresentada, em 22AGO2019, em Miami reúne uma seleção de artigos em que a dinâmica política latino-americana ofuscada pelos regimes Castro-Castro é claramente retratada. Com uma longa história de serviço público em seu país, perseguido pelo governo de Evo Morales, Sánchez Berzaín tornou-se nos últimos anos nos EUA, onde vive em condição de asilo político, em uma voz reconhecida e respeitada que analisa, alerta e propõe linhas de ação em sua luta contra as ditaduras castrochavistas. Sánchez Berzaín é o diretor executivo do Instituto Interamericano de Democracia, com uma intensa agenda de eventos voltados para temas latino-americanos.
“A divisão entre países com democracia e sob ditaduras já é insuficiente. Os regimes de Cuba, Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Equador de Correa, além de estabelecerem governos de fato concentrando todo o poder e sustentados pela violência, estão no campo do crime organizado transnacional ”é um dos argumentos centrais da Sánchez Berzaín em seu trabalho.
Interesse especial assume a perspectiva da Bolívia, onde Evo Morales ainda governa com a incrível complacência dos governos democráticos. Sánchez Berzaín escreve que “todos os mecanismos criminais para reter indefinidamente o poder já usado em Cuba, Venezuela e Nicarágua agora são aplicados na Bolívia. É um esforço para Evo Morales ser candidato, porque ele tem a certeza de vencer as eleições de 2019 com um novo ato de "simulação da democracia" e violação dos direitos humanos de um povo inteiro. Para as ditaduras Castrochavistas, é essencial manter a Bolívia sob seu controle.
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