Em audiência pública da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, na quarta-feira (28AGO2019), especialistas divergiram sobre as causas políticas e econômicas da crise humanitária na Venezuela e sobre o posicionamento do Brasil diante da situação.
Convidados:
– GILBERTO MARINGONI DE OLIVEIRA, Professor Adjunto de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC)
– RODERICK NAVARRO, Coordenador-Geral do Movimento Rumbo Libertad;
– RAFAEL PINHEIRO DE ARAUJO, Professor Adjunto de História da América da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e
– LEONARDO COUTINHO, Jornalista e Escritor.
Dois convidados avaliaram que a crise tem origem principalmente em fatores externos, como as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos desde agosto. Os outros dois apontaram Nicolás Maduro como responsável pela crise econômica e a perseguição a opositores.
Democracia em crise
Para o professor de Relações Internacionais Gilberto Maringoni de Oliveira, assim como a Venezuela, outras nações também vivem uma crise na democracia. Segundo ele, o país não vive uma ditadura. "Eu vou dizer que a Venezuela é uma democracia com problemas", afirmou.
Marignoni disse que uma das causas da crise é o fato de a Venezuela ser "alvo da cobiça das grandes produtoras de petróleo e, especialmente, do maior consumidor de petróleo do planeta, os Estados Unidos da América.” Maringoni criticou a postura da diplomacia brasileira, que, na visão dele, se isola ao não negociar com o regime de Maduro.
Pagamento pelo petróleo
Já o jornalista Leonardo Coutinho entende que a polarização prejudica o debate, que deveria se focar na natureza humanitária. Coutinho reconheceu o interesse dos Estados Unidos no petróleo da Venezuela – o que ele apontou como positivo para o país latino-americano.
“Os EUA querem ter acesso ao petróleo da Venezuela. As refirmarias do sul dos Estados Unidos são preparadas para o petróleo pesado fornecido por ela. E, até o ano passado, o único país do mundo que pagava em dia o petróleo da Venezuela eram os Estados Unidos, o que permitia a Nicolás Maduro ter caixa”, argumentou.
Outros pontos
Gilberto Maringoni de Oliveira não considera a Venezuela uma ditadura: "é uma democracia com problemas" Michel Jesus/ Câmara dos Deputados
O coordenador-geral do movimento político libertário da Venezuela, Rumbo Libertad, Roderick Navarro, sustentou que o "chavismo" não é uma força política, mas sim um grupo que protege o crime transnacional. Ele chamou Maduro de "usurpador do poder" e defendeu a ajuda de países da região. Navarro acredita que, se Maduro sair e o "chavismo" continuar, é impossível haver eleições livres.
Já o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Rafael Pinheiro de Araujo defende intermediação diplomática da Noruega, onde representantes do governo e da oposição já se reuniram meses atrás.
Situação atual
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), até o fim deste ano 44,3% da população ativa devem estar desempregadas. O Banco Central da Venezuela divulgou recentemente que, de 2013 para cá, o Produto Interno Bruto (PIB) do país caiu 52,3%. Dados da agência de refugiados da ONU, a Acnur, apontam que o Brasil já recebeu 168 mil venezuelanos.
De acordo com pesquisa realizada por universidades da Venezuela no ano passado, 64% os venezuelanos perderam, em média, 11 quilos de peso por falta de alimentação adequada.
Embaixadora
A reunião da Comissão de Relações Exteriores foi acompanhada pela embaixadora da Venezuela no Brasil, María Teresa Belandria, indicada pelo autoproclamado presidente Juan Guaidó. Assim como o governo brasileiro, o presidente da comissão, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), reconhece Guaidó como presidente legítimo da Venezuela e defende uma oposição mais forte a Maduro.
“Não sei por que as Forças Armadas continuam chamando autoridades venezuelanas para que, em público, venham a prestigiar eventos de nossas Forças Armadas. Eu não consigo entender isso”, declarou Eduardo.
A Venezuela tem a maior reserva de petróleo do mundo e é o 10° maior produtor de gás natural. Na audiência pública, manifestantes contrários e favoráveis a Maduro se manifestaram em diversas ocasiões, o que provocou a interrupção dos debates.