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Editorial Le Monde – Amazônia, bem comum universal

Editorial Le Monde
Amazônia, bem comum universal
24 Agosto 2019


 

A alarmante multiplicação de incêndios na floresta amazônica não é apenas sobre o Brasil, que abriga 60%, mas todo o planeta, porque faz parte da perturbação global do sistema climático.
 
Quem é dono da Amazônia? 

Aos nove países da América Latina em cujos territórios esta imensa floresta virgem se estende? No Brasil, que abriga 60%? Ou para o planeta, cujo destino ambiental está ligado à sua saúde?

O alarmante aumento de incêndios na floresta amazônica nas últimas semanas deu nova importância a essa questão. Se os incêndios são um fenômeno natural no final da estação chuvosa, eles aproveitaram este ano uma magnitude que, em 19 de agosto, as nuvens de partículas causadas pela queima da floresta obscureceram o céu de São Paulo. 

Observações de vários satélites confirmaram a extensão do desastre. Em julho, o número de incêndios foi 84% maior do que em 2018. Para os cientistas, não há dúvida de que a maioria deles são voluntários, incentivados pelas políticas climáticas do presidente Jair Bolsonaro. .

A crise tomou um rumo diplomático. Na véspera da abertura da cúpula do G7 em Biarritz, no sábado (24 de agosto), para a qual o presidente brasileiro não é convidado, Emmanuel Macron aproveitou o caso. "Nossa casa está queimando ", ele twittou. Literalmente. A Amazônia, o pulmão do planeta que produz 20% do nosso oxigênio, está em chamas. " Chamando o fogo " crise internacional "o presidente francês afirmou a sua intenção de " urgência " no menu do G7. 

Bolsonaro ficou indignado, por volta do Tweet, dessa postura "colonialista" para lidar com casos de outros países fora de sua presença. Alemanha e Canadá, membros do G7, e o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que participa, apoiaram a iniciativa da França. Macron deu outro passo ao anunciar, após o primeiro-ministro irlandês, que seu país não iria ratificar o tratado comercial UE-Mercosul, alcançado em junho após anos de negociações: o presidente brasileiro, ele acusou, ele "mentiu" sobre o seu compromisso com o meio ambiente.

Responsabilidade internacional

O caso levanta duas questões. A Amazônia é um bem comum universal, como afirma a França – que também depende do status do país amazônico graças ao departamento da Guiana, na fronteira com o Brasil? Ou é "nosso, Brasil", como o presidente Bolsonaro afirma? As conseqüências da destruição gradual da floresta amazônica para o resto dos habitantes do mundo claramente dão razão aos países europeus: a Amazônia é uma importante fonte de oxigênio, água e biodiversidade da qual todo o planeta depende. 

Sem mencionar seu impacto sobre as populações indígenas, o desmatamento em grande escala por meio de queimadas faz parte da perturbação geral do sistema climático. Isso causa um aumento nas emissões de gases de efeito estufa; destruídas, as árvores não podem mais capturar a água do solo para produzir chuva. O senhor deputado Bolsonaro deve, portanto, aceitar esta responsabilidade internacional.

A outra questão diz respeito ao acordo UE-Mercosul: a sua rejeição, embora politicamente recompensadora à opinião pública francesa, é a resposta certa para dobrar o presidente brasileiro? Talvez essa ameaça tenha contribuído para sua decisão na noite de sexta-feira de enviar o exército para combater os incêndios. 

Mas este tratado também constitui um meio de pressão para impor padrões sanitários e ambientais europeus aos países produtores da América Latina. Seria errado nos privarmos totalmente.

 

Le Monde Edição de Domingo 25 Agosto 2019

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