A China apresentou nesta quarta-feira (24) em um documento oficial suas ambições de construir um Exército moderno e tecnologicamente avançado, enquanto acusou os Estados Unidos de desestabilização, num contexto de tensões crescentes entre Pequim e Washington em muitas frentes.
A publicação deste livro branco da Defesa oferece um raro vislumbre das orientações do Exército Popular de Libertação (ELP) – o maior do mundo com dois milhões de militares – e dos alvos de Pequim.
"A rivalidade estratégica global está crescendo", diz o documento, observando que os Estados Unidos ajustaram suas estratégias de segurança e defesa e adotaram "ações unilaterais".
Washington "provocou e intensificou a rivalidade entre os principais países, aumentou significativamente (seus) gastos com defesa, exigiu capacidades adicionais nas áreas nuclear, espacial, de defesa cibernética e de mísseis, e minou a estabilidade estratégica global".
A publicação deste documento acontece em um momento de tensões nas relações entre Pequim e Washington. Os dois países estão envolvidos em uma guerra comercial desde 2018 e estão em desacordo sobre o Mar da China Meridional.
A China alimenta suas reivindicações de soberania instalando armamentos nas ilhotas que controla. Os Estados Unidos estimam que essas ações ameaçam a segurança na região.
O ELP deseja fortalecer seu arsenal tecnológico, mas ressalta que "ainda está muito atrás dos principais Exércitos do mundo".
A guerra comercial com os Estados Unidos está pressionando Pequim a redobrar seus esforços para desenvolver suas próprias inovações tecnológicas que possam beneficiar o ELP, estima Lyle Morris, analista da Rand Corporation nos Estados Unidos.
O Exército chinês ainda está atrasado em relação aos Estados Unidos, "mas está avançando rapidamente", aponta Morris.
Os conflitos estão evoluindo para uma "guerra inteligente", revela o relatório oficial chinês, citando o uso crescente de inteligência artificial, dados ou informação na nuvem (cloud).
A China tem o segundo maior orçamento militar do mundo (+7,5% em 2019), mesmo estando muito atrás dos gastos americanos. O país insiste na natureza pacífica de seu Exército, "uma força inabalável para a paz no mundo".
O livro branco também promete "reprimir" o separatismo no Tibete (oeste), mas também em Xinjiang (noroeste), um vasto território assolado por ataques recorrentes, atribuídos por Pequim a membros do grupo étnico predominantemente muçulmano dos uigures.
Mostra-se ainda mais firme sobre Taiwan. Esta ilha é povoada por cerca de 23 milhões de pessoas e governada por um regime rival a Pequim, mas que a China considera uma das suas províncias.
"A China deve ser e será reunificada", diz o documento.
Taiwan reagiu rapidamente, protestando contra as "muitas observações absurdas" do livro branco chinês.
Esse é um "pretexto para a expansão militar", respondeu o Conselho de Assuntos Continentais (MAC), encarregado das relações com Pequim.