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Marinha do Brasil adia submarino nuclear

Jornal Cruzeiro do Sul – Sorocaba

Carlos Araújo

A Marinha do Brasil adiou mais uma vez o cronograma de conclusão do primeiro submarino nuclear brasileiro. Desta vez, para 2022/2023. Após fase de testes de mar e todas as avaliações técnicas, sua entrada em operação no oceano é prevista para 2025. As novas datas foram divulgadas ontem pelo comandante do Material da Marinha, almirante-de-esquadra Arthur Pires Ramos, durante visita do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), ao Centro Experimental Aramar, na cidade de Iperó, a 15 quilômetros de Sorocaba. Desde a década de 1980, quando Aramar foi inaugurado (8 de abril de 1988), a Marinha trabalhou com sucessivas datas para a conclusão do submarino: 1995, 2000, 2005, 2006 e 2007. ( Nota DefesaNet – Em ARAMAR é construído o reator nuclear gerador de energia elétrica para a propulsão do SN-BR).

Nos últimos anos, a projeção tinha sido estendida para 2020 e 2021. Em relação ao novo período, são trinta anos de atraso no cronograma do submarino. “Eu não só acredito, como tenho certeza de que (o submarino) vai sair do papel”, disse Ramos. Temer, quando perguntado sobre quando acredita que o País terá o submarino nuclear em funcionamento, declarou: “Se Deus quiser, dois mil e logo. Quanto mais nós investirmos nessa tecnologia e nesse desenvolvimento, tanto melhor para o Brasil.”

O diretor-geral do Material da Marinha (setor ao qual Aramar é vinculado e que cuida de submarinos, porta-aviões, aeronaves, navios de superfície) acrescentou: “Todo o processo de pesquisa e desenvolvimento envolve um grande risco. Tudo o que é pesquisado, a pesquisa de ponta pode dar certo e pode não dar certo, é inerente à pesquisa. E como esse empreendimento é típico de pesquisa e desenvolvimento, podem ocorrer eventualidades não previstas. Entretanto, o nosso projeto já ultrapassou o ponto de não retorno. Ele agora vai até o fim. E certamente os processos que já estão dominados levarão ao ciclo do combustível completo e ao desenvolvimento e construção do submarino”. Ramos deixou claro que a visita de Temer a Aramar traz ao empreendimento o “prestígio” que ele representa e isso, na sua expectativa, poderá acelerar o programa nuclear da Marinha.

Atualmente, Aramar atravessa “uma ocasião favorável” e “a pleno vapor”, segundo definições de Ramos, por conta de recursos anunciados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2007 e que são da ordem de R$ 1,040 bilhão num período de 8 anos — o equivalente a repasses em torno de R$ 135 milhões ao ano. Ramos disse que “em princípio” não há intenção de pedir recursos adicionais ao governo federal, “a menos que se deseje acelerar ainda mais o programa (Aramar)”. Esclareceu que a “agilização” do programa nuclear da Marinha não diz respeito apenas a recursos financeiros: “Nós temos que ter capacitação, é um projeto de ponta, é a fronteira do conhecimento e nós precisamos de capacitação, gente capacitada, para poder agilizar cada vez mais.”

O submarino será um gigante de 9.200 toneladas e 110 metros de comprimento. O programa nuclear da Marinha para atingir esse objetivo foi iniciado em 1979, pelas mãos do vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, atualmente na reserva, até 2010 consumiu recursos da ordem de US$ 1,4 bilhão. Para a conclusão do programa, segundo a Marinha, são necessários investimentos de mais R$ 1,3 bilhão.
 
“Impressionadíssimo”
 
Após chegar em Aramar às 11h05, Temer ouviu uma exposição sobre o programa nuclear da Marinha. Terminado esse primeiro contato, em entrevista coletiva, ele disse: “Fiquei impressionadíssimo com a exposição que acabaram de fazer. O avanço tecnológico brasileiro é uma coisa extraordinária.” Ele acrescentou que não conhecia Aramar, este era um velho sonho e adiantou que sairia dali “sensibilizado”: “Isto pode fazer com que nós venhamos advogar um pouco a causa, que é dos recursos para esse projeto, não tem dúvida disso. Saímos daqui com a convicção de que nós vamos trabalhar nessa direção”. Sobre se a Marinha pediu mais recursos além do que tem recebido, o vice-presidente disse: “Pelo que eu ouvi da exposição é claro que os recursos adicionais são sempre bem-vindos e são sempre pleiteados. A Marinha não chegou a pedir, mas sugeriu (recursos adicionais).”

Temer admitiu que o programa de produção de um submarino nuclear também fortalece a soberania brasileira. Ele informou que “concretamente” o governo vai investir muito na área de ciência e tecnologia, independentemente das necessidades em outros programas para serem enfrentados, o que inclui questões sociais. Na sua análise, o setor de reatores nucleares exige mão de obra qualificada e especializada: “Nesse quadro de reatores nucleares não há dúvida de que ela (mão de obra) é especializadíssima.”

Ramos afirmou que Aramar traz uma série de benefícios à população: “Benefícios sociais, do tipo aumento da demanda por empregos, aumento da riqueza da região, e traz também benefícios indiretos como isótopos para a medicina, projetos de qualidade em meio ambiente, enfim, a população certamente é beneficiada com a presença do projeto nessa região.” Ao chegar em Aramar, Temer tinha programação para ficar ali até 15h. Desembarcou no aeroporto de Sorocaba e seguiu de helicóptero para Aramar. Estava acompanhado do comandante da Marinha, Julio Soares de Moura Neto, dos deputados federais Gabriel Chalita e Edinho Araújo, ambos do PMDB, e do ex-prefeito de Sorocaba e ex-deputado federal Renato Amary (PMDB).

O vice-presidente visitou em Aramar as seguintes unidades: Oficina Mecânica de Precisão (Ofmepre), Usina de Hexafluoreto (Usexa), Laboratório de Teste da Propulsão (Latep), Oficina Mecânica de Equipamentos (Ofmeq) e o Laboratório de Enriquecimento Isotópico (LEI).

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