O Kremlin fez um apelo nesta terça-feira para que se evite uma escalada no Oriente Médio, depois que os Estados Unidos anunciaram o envio de tropas adicionais à região em resposta à tensão com o Irã.
"Pedimos a todas as partes para que atuem com moderação", declarou o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov. "Preferimos não ver quaisquer medidas que possam aumentar a tensão nesta região já instável", acrescentou à imprensa.
Washington anunciou na segunda-feira que enviou cerca de mil militares adicionais para o Oriente Médio, em um contexto de crescente tensão com o Irã.
O anúncio foi feito logo após o Irã informar que em breve deixaria de cumprir um dos dispositivos do acordo internacional sobre seu programa nuclear, assinado em 2015, em Viena, e do qual os Estados Unidos se retiraram unilateralmente no ano passado. Ao fazê-lo, Washington restabeleceu duras sanções econômicas contra a República Islâmica.
Até agora, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) havia certificado que o Irã agia de acordo com os compromissos adotados em Viena. "Nós sempre partimos do princípio de que Teerã vai permanecer dentro do acordo nuclear e ser fiel a seus compromissos", disse Peskov, destacando que este assunto foi discutido durante uma reunião do presidente Vladimir Putin e seu colega iraniano Hassan Rohani, na sexta-feira passada durante uma cúpula no Quirguistão.
China adverte EUA sobre abertura de "caixa de Pandora" no Oriente Médio
A China fez uma advertência nesta terça-feira contra a abertura da "caixa de Pandora" no Oriente Médio, depois que o governo dos Estados Unidos anunciou o envio de 1.000 soldados adicionais à região, em um momento de escalada da tensão com o Irã.
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, também pediu ao Irã que não abandone o acordo nuclear "tão facilmente", depois que Teerã anunciou que deve superar o limite de reservas de urânio em 10 dias caso as potências mundiais não cumpram com seus compromissos.
Washington aumentou a pressão sobre Teerã na segunda-feira ao anunciar a mobilização de tropas adicionais no Oriente Médio e com a publicação de novas fotografias que, segundo o governo americano, mostram que o Irã estava por trás de um ataque a um navio-tanque no golfo de Omã na semana passada.
"Estados Unidos, em particular, devem mudar sua prática de pressão extrema", declarou Wang. A tensão entre Irã e Estados Unidos aumentou desde que Washington abandonou o acordo de supervisão do programa nuclear iraniano e incluiu em sua lista de organizações terroristas a Guarda Revolucionária iraniana. Wang pediu ao Irã que adote "decisões prudentes" e "não abandone tão facilmente" o acordo que pretende limitar as ambições nucleares de Teerã.
O presidente iraniano, Hassan Rohani, anunciou em 8 de maio que o país deixaria de observar as restrições sobre as reservas de urânio enriquecido e água pesada estabelecidas no acordo, uma medida que, afirmou, era uma represália pela saída unilateral dos Estados Unidos.
O Irã ameaça ir ainda mais longe na redução dos compromissos nucleares a partir de 8 de julho, a menos que os demais países do acordo – Reino Unido, China, França, Alemanha e Rússia – ajudem a República Islâmica a evitar as sanções dos Estados Unidos e, especialmente, permitam vender seu petróleo.
"A determinação da China de salvaguardar o acordo integral não mudou", disse Wang. "Estamos dispostos a trabalhar com todas as partes para seguir com os esforços pela aplicação plena e efetiva do acordo".
Wang fez as declarações em uma entrevista coletiva ao lado do chanceler sírio Walid al Mualem. Ao comentar o conflito na Síria, Wang Yi afirmou que a China apoia "firmemente" o país em "sua luta contra o terrorismo e na reconstrução econômica".
Na ONU, Pequim sempre votou contra ou optou pela abstenção nos projetos de sanções contra o governo do presidente sírio Bashar al Assad. "A China sempre defendeu a solução da questão síria por meios políticos", disse Wang.
Irã anuncia ter desmontado rede americana de espionagem
O Irã anunciou nesta terça-feira (18) ter desmantelado uma "nova rede" de espionagem vinculada à americana Agência Central de Inteligência (CIA) em pleno aumento das tensões bilaterais, diante do qual Rússia e China manifestaram sua preocupação.
A crise se acentuou com o anúncio na segunda-feira pelo Pentágono sobre o reforço do dispositivo militar americano no Oriente Médio, depois que o Irã afirmou sua intenção de superar o limite previsto pelo acordo sobre o programa nuclear iraniano, que tinha como objetivo limitar as atividades sensíveis de Teerã.
"Com base em informações da nossa própria Inteligência e pistas coletadas sobre os serviços americanos, descobrimos recentemente novos recrutas contratados pelos americanos e desmantelamos essa nova rede", escreveu a agência oficial de notícias iraniana Irna, citando uma fonte apresentada como o chefe do serviço de contra-espionagem no ministério da Inteligência.
De acordo com a Irna, alguns espiões desta rede que, segundo ela, teria sido criada pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), já foram presos e levados à justiça, sem citar números ou revelar a identidade de sua fonte, mantida em segredo, nem tampouco a nacionalidade dos suspeitos.
Irã e Estados Unidos vivem uma relação tensa após a retirada unilateral americana em 2018 do acordo nuclear e o restabelecimento das sanções econômicas americanas em Teerã. A crise do acordo nuclear e o restabelecimento das sanções econômicas americanas em Teerã.
A crise se agravou com os ataques contra petroleiros ocorridos em maio e junho na região do Golfo, atribuídos pelos Estados Unidos ao Irã, que desmentiu. O acordo assinado em 2015 em Viena foi fruto de intensos esforços diplomáticos entre Irã, Alemanha, China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia.
Seu objetivo é limitar drasticamente a capacidade atômica de Teerã em troca de uma suspensão das sanções econômicas internacionais contra a República Islâmica.
O Irã está envolvido há meses em uma disputa com os Estados Unidos e as tensões entre os dois países aumentaram drasticamente desde maio, fazendo a comunidade internacional temer uma conflagração no Oriente Médio, onde Washington reforçou sua presença militar.
Há meses, os iranianos pressionam seus outros parceiros para que os ajudem a mitigar os efeitos devastadores das medidas impostas pelos Estados Unidos. Até o momento, a Organização Internacional de Energia Atômica (OIEA) sempre certificou que o Irã se ajustasse aos compromissos assumidos em Viena.
"Caixa de pandora"
Diante da escalada das tensões, a Rússia, país aliado do Irã, pediu prudência. "Preferiríamos que não se aplicassem medidas que possam provocar um aumento das tensões nesta região por si só tão instável", declarou o porta-voz do Kremlin.
O ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, pediu nesta terça-feira ao Irã para "tomar decisões prudentes" e advertiu ao mesmo tempo contra a abertura de uma "caixa de Pandora" no Oriente Médio após o anúncio de Washington. Os Estados Unidos exortaram o mundo, por sua vez, a "não ceder à chantagem nuclear do Irã", nas palavras de Morgan Ortagus, porta-voz do Departamento de Estado.
Seu aliado, o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, que considera o Irã uma ameaça para a existência de seu país, pediu à comunidade internacional para impor "imediatamente" sanções contra Teerã tão logo suas reservas de urânio enriquecido superem o limite fixado.
"Autorizei o envio de mil soldados adicionais com fins defensivos para contrabalançar as ameaças aéreas, navais e terrestres no Oriente Médio", afirmou na segunda-feira o chefe do Pentágono, Patrick Shanahan, pouco depois de o Departamento de Defesa publicar novas fotos que, segundo detalhou, demonstram que o Irã atacou dois petroleiros na semana passada nas águas do Golfo de Omã.
O anúncio do Irã
O Irã anunciou na segunda-feira que suas reservas de urânio enriquecido superariam a partir de 27 de junho o limite imposto pelo acordo internacional sobre sua energia nuclear. "Hoje começou a contagem regressiva para superar os 300 quilogramas de reservas de urânio enriquecido e, em dez dias, superaremos este limite", declarou o porta-voz da Organização Iraniana de Energia Atômica, Behruz Kamalvandi, em coletiva de imprensa difundida ao vivo pela TV estatal.