Em meio a um aumento das tensões entre Estados Unidos e Irã, o Pentágono ordenou nesta segunda-feira (17/06) o envio de mil militares adicionais ao Oriente Médio, incluindo forças de segurança, de vigilância e de inteligência.
O secretário de Defesa Interino dos EUA, Patrick Shanahan, emitiu um comunicado afirmando que as forças são destinadas a "propósitos defensivos para lidar com ameaças aéreas, navais e em solo no Oriente Médio".
"Os Estados Unidos não estão buscando um conflito com o Irã. A medida de hoje está sendo tomada para assegurar a segurança e o bem-estar dos nossos militares trabalhando na região e para proteger nossos interesses nacionais", afirmou Shanahan.
O secretário afirmou que os EUA vão continuar ajustando seu contingente no Oriente Médio de acordo com a necessidade. Os militares adicionais se somam a outros 1.500 enviados no mês passado, além de um porta-aviões bombardeiros, em resposta a ataques a navios-tanque e a "ameaças persistentes" do Irã.
A decisão foi anunciada num momento em que o governo Donald Trump se vê forçado a exigir que Teerã cumpra os termos do acordo nuclear assinado com potências internacionais em 2015, apesar de o próprio presidente americano classificá-lo de o pior acordo da história, ter retirado os EUA do pacto e reinstaurado sanções contra o Irã.
Nesta segunda-feira, Teerã sinalizou que deve ultrapassar seu limite de estoque de urânio de baixo enriquecimento até 27 de junho, o que violaria o acordo nuclear, deixaria o país a um passo dos níveis necessários para a produção de uma arma nuclear e aumentaria ainda mais as tensões entre Teerã e Washington.
"Continuamos pedindo que o regime iraniano não obtenha uma arma nuclear, que respeite seus compromissos com a comunidade internacional", afirmou a porta-voz do Departamento de Estado americano, Morgan Ortagus. Ela classificou o anúncio iraniano sobre o enriquecimento de urânio de "extorsão" e "desafio a normas internacionais".
Teerã ameaçou ir ainda mais longe no não cumprimento dos termos do acordo nuclear se os signatários restantes – Reino Unido, China, França, Alemanha e Rússia – não ajudarem o Irã a contornar sanções impostas pelos EUA e a vender seu petróleo. O acordo de 2015 tem como objetivo restringir as atividades nucleares do Irã em troca do alívio de sanções internacionais.
O reforço do contingente militar americano também foi anunciado após os EUA afirmarem que o Irã está por trás de recentes ataques a dois petroleiros no Oriente Médio. O Pentágono divulgou imagens que mostrariam uma embarcação militar iraniana removendo uma mina marítima não detonada de um dos navios no Golfo de Omã.
Segundo os americanos, as imagens sugerem que os iranianos teriam tentado remover provas de seu envolvimento no incidente. O Irã rejeitou as acusações, afirmando que os EUA realizam uma campanha difamatória contra o país.
China e Irã reagem
Após os EUA anunciarem o envio de mil militares adicionais ao Oriente Médio, a China alertou contra um aumento das tensões na região e apelou a Teerã para não abandone o acordo nuclear "tão facilmente".
"Apelamos a todas as partes para que se mantenham racionais e contidas, não tomem nenhuma ação para provocar uma escalada da tensão na região e não abram uma caixa de Pandora", disse o ministro do Exterior chinês, Wang Yi. "Os Estados Unidos em particular devem mudar sua prática de pressão extrema."
O ministro afirmou ainda que a China se mantém determinada a salvaguardar o acordo nuclear e está disposta a trabalhar com todas as partes envolvidas para que o pacto seja implementado de maneira completa e efetiva.
O presidente iraniano, Hassan Rohani, afirmou que o Irã não vai travar uma guerra contra nenhuma nação. Ele disse que ainda dá tempo de os países europeus salvarem o acordo nuclear. Segundo ele, os EUA quebraram promessas ao abandonarem o pacto que Teerã continuou honrando.
"Apesar de todos os esforços dos americanos na região e do seu desejo de cortar os nossos laços com todo o mundo e manter o Irã isolado, eles não têm tido sucesso", afirmou.
Rohani havia anunciado no último dia 8 de maio que, em retaliação à retirada unilateral dos EUA do acordo nuclear, o Irã deixaria de cumprir algumas das restrições impostas a seus estoques de urânio enriquecido e água pesada estipuladas no pacto.
Irã diz que não vai travar guerra com ninguém; Rússia pede que EUA parem de provocar tensão¹
O presidente do Irã, Hassan Rouhani, disse nesta terça-feira que o país não vai travar guerra com nenhuma nação, e a Rússia pediu que os Estados Unidos interrompam o que Moscou chamou de planos provocativos de enviar mais tropas para o Oriente Médio.
Os temores de um confronto entre o Irã e os EUA, seu inimigo de longa data, cresceram desde quinta-feira, quando dois navios-tanques foram alvo de ataques perto do Estreito de Hormuz, uma rota marítima estratégica, que Washington atribuiu a Teerã.
O Irã negou envolvimento nos ataques e disse na segunda-feira que em breve violará os limites estabelecidos para seu estoque de urânio enriquecido em um acordo nuclear de 2015 que visa conter sua capacidade nuclear.
Ultrapassar o limite de urânio no cerne do acordo provocaria uma crise diplomática, forçando os outros signatários do pacto, que incluem China, Rússia e potências europeias, a confrontarem o Irã.
O impasse levou a China a pedir cautela. Seu principal diplomata alertou que o mundo não deveria abrir uma “caixa de Pandora” no Oriente Médio, ao mesmo tempo em que criticou a pressão dos EUA sobre o Irã e apelou para que este último não rompa com o acordo nuclear histórico.
A Rússia pediu aos Estados Unidos que cessassem as ações que, segundo Moscou, parecem ser uma tentativa consciente de provocar uma guerra com o Irã, e pediu moderação em todos os lados.
“O que vemos são tentativas intermináveis e contínuas dos EUA de provocar uma pressão política, psicológica, econômica e sim militar sobre o Irã de maneira bastante provocativa”, disse o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov, segundo agências de notícias russas.
Em um discurso, Rouhani minimizou os esforços norte-americanos para isolar seu país, que considera fracassados, e insinuou que o governo do presidente Donald Trump é inexperiente em questões internacionais.
Mas ele disse que o Irã não busca um conflito.
“O Irã não travará guerra com nenhuma nação”, disse Rouhani em um discurso transmitido ao vivo pela televisão estatal.
“Apesar de todos os esforços dos americanos na região e de seu desejo de cortar nossos laços com todo o mundo e de seu desejo de manter o Irã isolado, eles foram mal-sucedidos”.
Na segunda-feira, autoridades iranianas fizeram vários comentários enfáticos sobre segurança, inclusive o secretário do Supremo Conselho de Segurança Nacional, Ali Shamkhani, que disse que Teerã é responsável pela segurança no Golfo Pérsico e exortou as forças dos EUA a deixarem a região.
Ainda na segunda-feira, o secretário de Defesa interino dos EUA, Patrick Shanahan, anunciou o envio de cerca de mil soldados adicionais ao Oriente Médio para o que descreveu como propósitos defensivos, citando preocupações com uma ameaça do Irã.
O novo destacamento se soma a um reforço de 1.500 tropas anunciado no mês passado em reação aos ataques contra navios-tanque em maio. Washington já havia endurecido sanções, ordenando que todas as nações e empresas parem de importar petróleo iraniano para não serem banidas do sistema financeiro global.
¹com agência Reuters