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Lógica de guerra domina conflito entre minoria curda e governo da Turquia

Em dois dias, as investidas do Exército da Turquia contra rebeldes curdos liquidaram 49 combatentes da organização clandestina PKK, comunicou o supremo comando turco neste sábado (22/10). As operações – que, segundo a mídia nacional, envolvem 10 mil militares – vieram em resposta ao mais severo atentado do PKK em anos. Realizado na última quarta-feira, na província de Hakkari, o ataque causou a morte de pelo menos 24 soldados e policiais turcos.

Reconciliação fracassada

Exatamente dois anos antes, dia 19 de outubro de 2009, o território curdo no sudeste da Turquia fora palco de celebrações. Com júbilo, danças e tambores, milhares de representantes da minoria étnica receberam os primeiros combatentes do PKK. Na época os rebeldes, atendendo a convite de Ancara, haviam deposto suas armas e trocado as montanhas do norte do Iraque pelo território turco.

A anistia para os rebeldes representou o principal item da nova política para os curdos, introduzida no ano anterior pelo primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdo?an. Após 25 anos de conflito armado, naquela manhã de outubro, a reconciliação parecia estar a um passo. Porém, antes que o dia terminasse, essa chance foi desperdiçada.

Com cantos de vitória, a multidão de curdos saudou os rebeldes na fronteira com o Iraque. Estes a atravessaram em uniforme de combate, para horror da opinião pública turca. E o partido curdo DTP desfilou de ônibus com a tropa separatista, durante horas, na capital regional Diyarbakir.

Ao invés da esperada reconciliação, o público turco presenciou uma festa de vitória do PKK, organização classificada como terrorista pela Turquia, União Europeia e Estados Unidos. A disposição no país reverteu radicalmente e esse primeiro grupo de combatentes curdos readmitidos ficou sendo o único. Mais uma vez predominava a lógica da guerra, que só admite vencedores e perdedores.
 

Reformas e repressão

"A questão curda é o principal problema da Turquia", anunciara poucos meses antes o presidente Abdullah Gül. Era necessário resolvê-lo através de meios políticos. O governo iniciou uma série de reformas a favor da minoria étnica que, até então, eram fora de cogitação.

Assim, o idioma curdo agora pode ser livremente falado, impresso e transmitido por toda parte. Até mesmo a emissora estatal turca mantém um canal curdo. Ancara iniciou conversações sigilosas com o líder preso do PKK Abdullah Öcalan e, durante certo tempo, chegou a negociar com comandantes ativos do grupo separatista.

É fato que esses esforços políticos continuaram, mesmo após o impasse e consequente reviravolta gerados pelo fracasso da anistia aos rebeldes curdos. Apenas no final de outubro de 2011, a Universidade de Mardin, no sudeste da Anatólia, iniciou as atividades de seu primeiro programa de estudos curdos.

No entanto, o Estado retomou paralelamente o caráter repressivo de sua política para os curdos. Nos últimos meses, foram presas milhares de pessoas, entre as quais numerosos políticos locais eleitos legalmente, em batidas e processos contra a organização clandestina KCK. Comandada pelo PKK, ela tenta estabelecer no sudeste da Anatólia estruturas estatais paralelas às de Ancara. Além disso, após a série de atentados reivindicados pelo PKK, a Força Aérea turca passou a bombardear regularmente o reduto dos rebeldes no norte do Iraque.

Espiral da Violência
 

Por sua vez, o PKK segue contribuindo para a escalada de hostilidades. Os atentados dos rebeldes no sudeste da Anatólia fizeram dezenas de mortes nos últimos meses, entre as quais, civis curdos e mesmo crianças. Em setembro último, uma explosão provocada pelos assim chamados "Falcões da Liberdade", a guerrilha urbana do grupo radical, matou quatro civis em pleno centro da capital Ancara. No dia 18 de outubro, oito pessoas foram mortas por uma bomba do PKK na cidade curda de Bitlis.

Assim, não seria mero acaso a devastadora investida dos rebeldes curdos contra postos militares turcos na madrugada seguinte: um dos atentados mais sangrentos na história desse conflito, e justamente no segundo aniversário da fracassada tentativa de reconciliação na fronteira turco-iraquiana.

No mesmo dia, no Parlamento de Ancara, constituía-se uma comissão composta por diversos partidos com o fim de elaborar uma nova e democrática Constituição para a Turquia. Para os curdos, isso representa a esperança de mais direitos e de seu reconhecimento como Estado-nação.

É bem verdade que o partido curdo BDP participa dessa comissão como membro igualitário. Contudo, confinado à lógica da guerra, o PKK parece acreditar na necessidade de sublinhar suas exigências com violência, o que, inevitavelmente, acarretará novos contra-ataques por parte dos turcos.

AV/dw/dpa
Revisão: Marcio Pessôa

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