O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira que é preciso que as “fissuras” na base das Forças Armadas da Venezuela cheguem ao topo ou o presidente Nicolás Maduro não cairá, e destacou que o Brasil não pretende abrir diálogo com o atual governo porque Maduro não iria ceder ao que seria proposto.
“A gente espera que essa fissura que está na base do Exército vá para cima. Não tem outra maneira. Se você não enfraquecer o Exército da Venezuela, o Maduro não cai”, afirmou Bolsonaro a jornalistas, após evento no Itamaraty.
Ao ser questionado se o Brasil mandaria emissários para tentar conversar com os militares ou com o próprio presidente venezuelano, negou.
“Acho que não tem o que conversar com ele. O que queremos no meu entender ele não vai querer”, afirmou.
Depois da tentativa frustrada do autoproclamado presidente interino da Venezuela Juan Guaidó de derrubar o governo de Maduro, a avaliação do governo brasileiro é que Guaidó não conseguiu aglutinar em torno de si os altos escalões das Forças Armadas.
As “fissuras na base”, citadas por Bolsonaro e outros membros do seu governo, mostram uma tendência nos escalões mais baixos e mais suscetíveis à crise econômica do país de apoiar Guaidó, mas que ainda não se refletiram entre os generais.
ARGENTINA
Durante a entrevista no Itamaraty, o presidente, no entanto, repetiu que sua maior preocupação no momento é a situação na Argentina.
Bolsonaro voltou a criticar a possibilidade de a ex-presidente argentina Cristina Kirchner vencer a eleição prevista para outubro deste ano no país vizinho.
Pouco antes, durante discurso na cerimônia de formatura do Instituto Rio Branco, com os novos diplomatas brasileiros, Bolsonaro afirmou, sem citar o nome da ex-presidente, que as preocupações agora devem se voltar à Argentina e que ninguém quer uma nova Venezuela no sul da América do Sul.
Na entrevista, Bolsonaro explicou que a Argentina enfrenta uma forte crise econômica e as últimas pesquisas apontam a liderança da ex-presidente Cristina Kirchner nas próximas eleições presidenciais.
Na noite de quinta-feira, em uma transmissão ao vivo, Bolsonaro argumentou que a ex-presidente argentina é ligada aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, além do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez e o atual mandatário daquele país, Nicolás Maduro.
“Se isso voltar, com toda a certeza a Argentina vai entrar numa situação semelhante à da Venezuela”, disse Bolsonaro na quinta-feira.
Nesta sexta, o presidente também fez um apelo aos novos diplomatas do Itamaraty para que trabalhem para um Brasil aberto aos grandes fluxos econômicos e para defenderem a democracia e a liberdade.
Ao começar seu discurso, Bolsonaro lembrou aos diplomatas: “Quando os senhores falham entramos nós, das Forças Armadas. E confesso que torcemos muito para que vocês não falhem.”
Mais tarde, na entrevista, esclareceu que a declaração não se referia à Venezuela ou a uma situação concreta.
“Eles (diplomatas) que nos evitam entrar em guerra, muito simples. Quando acaba a saliva entra a pólvora. Não queremos isso. Temos que tentar a solução dos conflitos de forma pacífica”, afirmou.
Se Cristina Kirchner vencer eleição, Argentina virará uma Venezuela, diz Bolsonaro
Se a ex-presidente argentina Cristina Kirchner vencer a disputa pela Presidência da Argentina neste ano, o país vai virar uma Venezuela, disse nesta quinta-feira o presidente Jair Bolsonaro, que afirmou que é preciso “dar as mãos” para evitar que a Argentina passe por um “retrocesso”.
Em sua transmissão semanal ao vivo em uma rede social, Bolsonaro disse que o Brasil não vai se envolver em países vizinhos, mas disse que “como cidadão” é contra um eventual retorno de Cristina ao poder na Argentina, lembrando que quando ela foi presidente, se alinhou aos então governos brasileiros de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, assim como o de Nicolás Maduro, na Venezuela.
“Temos um problema também na Argentina agora, que nós temos que dar as mãos a esse país maravilhoso, que não pode sofrer um retrocesso”, disse Bolsonaro na transmissão, da qual também participaram o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e o empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan.
“A questão da Argentina, ninguém quer se envolver em questões fora do país, mas eu, como cidadão, tenho a preocupação de que volte o governo anterior do Macri. A presidente anterior é ligada com Dilma, com Lula, com a Venezuela de Maduro e de Chávez, com Cuba. Se isso voltar, com toda a certeza a Argentina vai entrar numa situação semelhante à da Venezuela.”
Ainda sobre a Argentina, que realizará eleições presidenciais no dia 27 de outubro deste ano, Bolsonaro pediu paciência com o governo do presidente argentino, Mauricio Macri, que tem enfrentado uma crise econômica e teve de recorrer a socorro do Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Se o Macri não está indo bem, paciência até. Vai lutar para melhorar, ou alguém da linha dele. O que não pode é voltar Cristina Kirchner, que no meu entender, os reflexos serão para o povo argentino e para todos nós”, disse.
“Podemos, sim, com a volta da Cristina Kirchner —possível volta, peço a Deus que não aconteça— a nossa querida Argentina se tornar uma Venezuela, e não queremos isso.”
Bolsonaro, que fez a transmissão em Santa Catarina onde participa nesta noite de um evento com evangélicos, disse que a Venezuela ainda é um problema para o Brasil, após o líder da oposição Juan Guaidó anunciar na terça que tinha apoio de militares para derrubar Maduro, o que gerou confrontos no país, especialmente depois de o atual líder venezuelano buscar demonstrar que ainda tem a lealdade das Forças Armadas.
Heleno disse na transmissão que o Brasil avalia a situação na Venezuela como indefinida e afirmou que o governo brasileiro não vê uma derrota de Guaidó. O chefe do GSI disse que é difícil tirar Maduro do poder, mas fez a avaliação de que a pressão internacional pode levar os militares que apoiam o atual regime a entender que devem ser patriotas e devolver o país ao caminho da democracia.
Ao lado de Hang, que é de Santa Catarina e que apoiou Bolsonaro fortemente durante a campanha eleitoral do ano passado, o presidente disse que o dono da Havan ajudou o governo no trabalho para editar a medida provisória da liberdade econômica, que visa desburocratizar a abertura de negócios no Brasil.
O empresário, por sua vez, agradeceu Bolsonaro pela MP, ao mesmo tempo que disse que o texto da proposta pode ser melhorado pelo Congresso Nacional, onde agora tramita.