O ministro de Defesa brasileiro, Celso Amorim, afirmou que os critérios econômicos serão mais fortes na decisão sobre a renovação da frota de aviões de combate, entre o caça americano F-18, o francês Rafale e o sueco Saab.
"A consideração fundamental para tomar uma decisão é de ordem financeira e econômica", destacou Amorim em uma entrevista ao jornal francês "Le Monde" publicada nesta quinta-feira.
"Entramos em um período de incertezas. O Brasil vai bem, mas não sabemos quais serão as consequências da crise internacional para nossa economia. É preciso ser prudente, esperar o bom momento", argumentou.
Celso Amorim não quis dar um prazo para a decisão, mas considerou a possibilidade de divulgar a escolha em 2012.
O ministro de Defesa, que no Governo anterior ocupou o Ministério de Relações Exteriores, fez uma vista de dois dias a Paris que terminou na quarta-feira. Ele foi recebido pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, e por seus ministros de Relações Exteriores, Alain Juppé, e Defesa, Gérard Longuet.
O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que se encontra com Sarkozy em Paris nesta sexta-feira em uma conferência do G20, tinha demonstrado ao líder francês em 2009 a intenção de optar pelo Rafale, fabricado pela Dassault. Apesar disso, os militares brasileiros preferem o F-18 e inclusive o Gripen ao caça francês.
Sobre a transferência de tecnologia, que até agora aparecia como ponto chave das negociações para a escolha do avião de combate francês, Amorim afirmou que a "cooperação no submarino nuclear conseguiu superar os obstáculos".
O ministro fez alusão ao acordo que estabelece a venda da França ao Brasil de cinco submarinos de propulsão nuclear do tipo Scorpène com transferência de tecnologia. Algo semelhante ocorrerá com 50 helicópteros de transporte militar Eurocopter EC725, que no futuro também serão fabricados no Brasil.
Por outro lado, o ministro brasileiro se mostrou reticente sobre operações da Otan fora dos locais de operações previstos pelo Tratado do Atlântico Norte.
"Ontem era a Líbia, é verdade que com um mandato do Conselho de Segurança (da ONU) e da Liga Árabe. Amanhã poderia ser na África Ocidental e aí a Otan se aproximaria do Brasil. Isso nos incomoda", comentou.
Sobre a cooperação com a Argentina, Amorim insistiu que "é essencial para toda a América do Sul" e disse que nenhum dos vizinhos constitui uma ameaça para o país.
"Mas a defesa não precisa de um inimigo identificado. Assim, a complexidade da vigilância da Amazônia exige tecnologias avançadas", acrescentou.
Sobre o potencial de produção de alimentos e de água brasileiro, Amorim afirmou: "temos que estar prontos para defendê-los em caso de conflito entre potências que careçam deles. Também há grupos criminosos, narcotraficantes e outros atores".